Aíla - Fotos: Reprodução Instagram

Aíla é o nome para você prestar atenção na música brasileira

Com novo álbum, a cantora paraense estará no Coala Festival, em agosto, que contará também com Caetano Veloso e Emicida

Por Tainá Goulart Publicado em 02/06/2017, às 15h06 - Atualizado em 06/03/2020, às 15h23

Ao se mudar de Belém, no Pará, para São Paulo, Aíla começou a entender melhor sobre as inquietudes a rapidez e a veracidade das relações humanas na capital paulista. No clipe do hit Rápido, que já tem mais de 15 mil visualizações no Youtube, a cantora paraense capta, frame a frame, essa loucura toda. "São Paulo é o mundo todo. Ao mesmo tempo que soa fria, é múltipla e intensa. Foi muito inspirador mudar pra Sampa, conhecer novos espaços, fazer novas conexões e dialogar com tanta gente incrível. Aqui pude imergir e entender outras camadas das minhas inquietudes", diz ela, que lançou seu segundo disco da carreira, o Em Cada Verso Um Contra-Ataque

 
"Rápido... rápido... tá tudo rápido", canta Aíla no clipe lindo de Rápido
 
De certo modo, todas as suas reflexões e entendimentos se materializaram neste trabalho, principalmente as que têm relação com o feminismo, tema muito abordado por Aíla. "Desde que comecei a idealizar esse novo trabalho, em 2015, um pensamento que me movia muito era a possibilidade de fazer as pessoas dançarem, cantarem e refletirem ao mesmo tempo. Sempre imaginei aproximar canções pop, dançantes, desse discurso mais ‘artivista’. Com esse desejo, temas como feminismo, assédio, racismo, homofobia, ocupações, amor livre, intolerância e resistência ganham o centro do debate, em um disco que reflete meu lado inquieto, militante, da primeira à ultima faixa." Por ter tanto assunto para falar, a cantora e sua mulher, a artista visual Roberta Carvalho, criaram o MANA, que vai até amanhã (3), em Belém. "O MANA é um projeto pensado e gestado há cerca de um ano. Eu e Roberta sonhamos em realizar um festival feminista em Belém para fortalecer, debater a representatividade e o protagonismo da mulher nas artes, questionar as desigualdades de gênero na indústria criativa e muito além disso, para criar conexões, afetos, elos, sororidade entre as manas." Confira a entrevista completa com a cantora:
 
Aíla e Roberta criaram o MANA, um festival feminista em Belém
 

Como você descobriu a música dentro de você?

A arte, de um modo geral, sempre me moveu muito: teatro, música, dança. Desde pequena, sempre fui muito estimulada a ouvir música, de todos os cantos e estilos, seja pelos LPs e fitas cassetes da minha mãe ou pelos radinhos de pilha das minhas avós. Fui criada por três mulheres - e eu adorava tudo isso, essas referências femininas. Mais tarde, quando pude conhecer o meu avô, por volta dos 13 anos, lá no interior do Pará, numa cidadezinha chamada Conceição do Araguaia, descobri que ele era um grande violonista, bandolinista, multi-instrumentista. Ele respirava música. Tivemos poucos encontros nessa vida, mas sempre muito intensos. Desde cedo eu sentia a música presente aqui dentro, sentia um prazer enorme em cantar, em interpretar, em emocionar, em mover as coisas do lugar através da arte.

Tem lembranças de momentos em que a música foi importante na sua adolescência?

Por volta dos 17 anos, eu entrei na universidade pública, fazia Letras, e paralelamente a isso, comecei a cantar na noite de Belém, com o intuito de aliar uma coisa que eu adorava a uma fonte de renda extra pra ajudar a minha mãe em casa. E foi aí que tudo começou a clarear e fazer muito sentido pra mim, das apresentações nos bares para os festivais de música, que intensificaram conexões com vários compositores da Amazônia. Daí, foi só um passo pra começar a pensar no repertório do meu primeiro disco.

 


Em agosto, ela toca no Coala Festival

O que te motivou a criar seu segundo disco com músicas sobre “o que precisa ser dito”? 

Desde que comecei a idealizar esse novo trabalho, em 2015, um pensamento que me movia muito era a possibilidade de fazer as pessoas dançarem, cantarem e refletirem ao mesmo tempo. Sempre imaginei aproximar canções pop, dançantes, desse discurso mais ‘artivista’. Com esse desejo, temas como feminismo, assédio, racismo, homofobia, ocupações, amor livre, intolerância e resistência ganham o centro do debate, em um disco que reflete meu lado inquieto, militante, da primeira à ultima faixa. Esse é o “Em Cada Verso Um Contra-Ataque”.

Sei que é difícil, mas qual a sua faixa favorita no “Em Cada Verso Um Contra-Ataque”?

Cada faixa desse disco levanta uma bandeira diferente, um grito necessário, tenho uma ligação muito especial com cada uma delas. Mas uma que tenho maior orgulho de ter feito é a faixa RÁPIDO, parceria minha com Roberta Carvalho. É uma das minhas primeiras composições - "Rápido" reflete o tempo, a aceleração extrema, a velocidade frenética e nociva em que vivemos hoje sob vários pontos de vista: do trabalho, das relações sociais, da alimentação "fast", das redes virtuais... Uma velocidade que no fundo nos leva rumo ao cansaço. Reflete também os retrocessos políticos que estamos vivendo: ao mesmo tempo em que o mundo parece estar em um ritmo demasiado, acelerado, muitas coisas estão andando pra trás. Vivemos em um tempo onde velocidade rápida não significa avanço.

 


Com Chico César, um de seus parceiros musicais

Como foi sua chegada a São Paulo? Foi pela música? O que mais viu de diferença entre sua terra natal e a selva de pedra paulistana?

São Paulo é o mundo todo. Ao mesmo tempo que soa fria, é múltipla e intensa. Foi muito inspirador mudar pra Sampa, conhecer novos espaços, fazer novas conexões e dialogar com tanta gente incrível. Aqui pude imergir e entender outras camadas das minhas inquietudes. Esse segundo disco é muito o reflexo dessa mudança. Já Belém é a minha terral natal, minha origem, onde recarrego minhas energias sempre, cidade quente, bela por si só, com a melhor culinária do Brasil e com um povo resistente e caloroso.

Suas capas de discos e clipes são muito bonitos e intensos artisticamente… de onde vêm essas inspirações e conceitos?

A minha relação com a música é também muito imagética. Então ter uma equipe de artistas visuais, fotógrafos, figurinistas, muito criativos, somando junto comigo nesse conceito visual, é sempre muito interessante pro trabalho. Neste disco novo, por exemplo, meu maior desejo era aliar arte e política, sem abandonar o conceito pop e dançante da minha estética, e uma pessoa que muito esteve junto comigo e contribuiu pra essa concepção visual e que assina também o projeto gráfico do disco é a Roberta Carvalho, que é uma grande artista visual e minha parceira de vida, que vive diariamente essa relação de troca comigo. Trabalhamos muito essa questão de ação, de performance, fotos com mais dramaticidade, e isso se dá muito pelos tons que a gente escolheu: usar o corpo nu, os tons de pele com o vermelho, o preto. Nesse sentido, eu sempre imaginei o figurino como umas das peças fundamentais desse diálogo. Convidei então um expoente da moda do Pará, o Vitor Nunes, que é super talentoso e criativo, para ajudar no conceito. Ele conseguiu traduzir lindamente, através de uma máscara com cacos de vidro e lágrimas com pregos, a força e vigor para a capa desse disco. E com um olhar super sensível. Uma direção muito cuidadosa das fotos também foi fundamental - quem assina a fotografia do disco é a Júlia Rodrigues.

 

E de onde surgiu a ideia de criar o MANA? Teve algum episódio que intensificou esse desejo? 

O MANA é um projeto pensado e gestado há cerca de um ano. Eu e Roberta Carvalho, artista visual paraense e minha mulher, sonhamos em realizar um festival feminista em Belém para fortalecer, debater a representatividade e o protagonismo da mulher nas artes, questionar as desigualdades de gênero na indústria criativa e muito além disso, para criar conexões, afetos, elos, sororidade entre as manas. E é com muito orgulho, um frio bom na barriga e uma vontade imensa de mover tudo que colocamos esse bloco na rua, agregando a um só tempo música, artes visuais, intervenções, oficinas, mostra de cinema, palestras, meet up, pocket shows, graffiti, slam e muito mais.

E quais os objetivos que vocês esperam alcançar com o festival?

O maior sentido de fazer arte hoje, pra mim, é transformar o agora, é mover, fazer refletir, cutucar, contra-atacar. Artista neutro, politicamente, não existe. O MANA surge dessa inquietude e a ideia é provocar a reflexão, o embate de ideias, a ação. Toda a programação costura reflexões e debates feministas nas artes e estamos muito felizes de poder contar com presenças como a da Djamila Ribeiro, por exemplo, referência fundamental nos debates sobre as interseccionalidades urgentes no feminismo.

Além da política, o feminismo é um assunto muito forte nas suas músicas.. como você vê a mulher brasileira em 2017? Acha que tivemos avanços no comportamento perante essa sociedade ainda impregnada de preconceito? 

Eu enxergo cada vez mais resistência, esclarecimento e luta por parte de nós, mulheres. E acho incrível ver a mulherada fortalecendo uma à outra. É importante que sigamos assim, num combate diário ao patriarcado e ao machismo que assolam a nossa liberdade. O caminho é a revolução, a transformação, e isso tá acontecendo. É claro que ainda temos muito pra derrubar, mas já percebemos que juntas somos e podemos muitos mais.

 

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