Alceu Valença, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo - Fotos: Fabrizia Granatieri

Alceu Valença, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo, amizade de longa data

Celebrando 20 anos de sucesso do projeto Grande Encontro, eles relembram o início e revelam o segredo da sintonia e da vitalidade

Por Ligia Andrade / Fotos: Fabrizia Granatieri Publicado em 15/01/2017, às 15h00 - Atualizado em 07/08/2019, às 17h45

Cadê o meu violão? É o meu escudo! Eu o desenhei...”, pergunta o cantor e compositor Geraldo Azevedo, 71 anos, enquanto mostra, orgulhoso, a sua criação. “Geraldo sem o violão é a metade de um artista”, entrega a cantora Elba Ramalho, 65. O trio fica completo com a chegada do cantor e compositor Alceu Valença, 70. Reuni-los não é tarefa fácil, no entanto não poderiam deixar de comemorar os 20 anos do projeto Grande Encontro, com CD e DVD, que reúne hits e duas canções inéditas (desta vez sem Zé Ramalho). “É motivo de celebração. Estou confortável, feliz, entre amigos. Eles são pessoas que admiro e amo, o meu esteio musical”, reconhece Elba. A sintonia entre esses grandes nomes da música brasileira e amigos há mais de 40 anos é evidente dentro e fora dos palcos. “Não sou mimada por eles, lógico que tem um carinho. Sou a mais novinha – apesar de ser uma senhora –, e também sou mulher, então estou sempre no meio dos dois. É ótimo (risos)! Mas não sou o centro das atenções”, garante a cantora. Geraldo contesta a amiga: “Ela é o centro do palco dos nossos shows. É a maior intérprete da minha carreira”. Para Alceu, tudo está perfeito. O cantor revela ainda estar há três dias sem dormir, escrevendo um novo roteiro, após sua incursão nos cinemas com A Luneta do Tempo, também dirigido por ele. “É sobre Olinda, onde moro, me emociona...” 

AMIZADE

Elba Ramalho “Só me lembro de uma coisa: tudo era motivo de festa e de música. Ríamos, nos divertíamos... Cantávamos e tocávamos a noite toda. Era violão, seresta, sarau na nossa casa, viração de noite. Encontrava com Alceu nas madrugadas do Baixo Leblon (Rio). Reconheço a magia, a musicalidade deles. Nós nos encontramos nesse percurso. É muito bom estar com eles.”

Geraldo Azevedo “Conheci Alceu em um dia; no outro, era parceiro. Fiquei impressionado com o trabalho dele. Vinha da bossa-nova, um trabalho mais intimista, e ele tinha uma coisa mais efervescente, foi bom para mim, voltei às minhas raízes. E, ao mesmo tempo, aprendi com ele sobre o palco, porque me escondia atrás do violão. Sou assim... Cheguei a morar com a Elba e éramos vizinhos do Alceu.”

Alceu Valença “O Grande Encontro é um condomínio (risos)! Geraldo me deu força, porque não acreditava muito. Sou formado em Direito, cursei Jornalismo e, de repente, fui para o Rio de Janeiro e não sabia o que fazer. Acabamos compondo e fazendo o primeiro disco em parceria (Quadrafônico, 1972). A primeira música que compomos juntos foi Talismã. Era muito do bar, da rua. Não ia na casa deles, era tímido. Não tenho essa coisa de grupo.”

Os cantores são amigos há mais de 40 anos e celebram o sucesso do Grande Encontro

VITALIDADE

Elba Ramalho  “Encaro o passar do tempo com sabedoria. Evidentemente que o corpo faz revelações a cada momento. Estou ficando mais sábia, serena, madura, com consciência plena sobre as coisas. Também dou minha corridinha na areia, 5, 6 quilômetros de manhã cedo – é uma beleza! E faço ioga. Tudo é uma questão de boa alimentação (ela não come carne), de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo. Estou vivendo um momento de paz, rindo da vida, para ela não rir de mim.”

Geraldo Azevedo “Tenho orgulho da nossa geração, minha e de Alceu, que desmistificou que ter 70 anos é velho. Somos jovens ainda, temos gás. Faço exercícios aeróbicos todos os dias para manter a energia.”

Alceu Valença “Eu me espelho em minha mãe, que tem 102 anos. E a segunda coisa que faço é caminhar, já dei mais de 8 mil passos hoje. Ah, e não como cheeseburger!”

REENCONTRO

Elba Ramalho  “Foi delicado escolher o repertório, acabamos acertando. É um show de compadres, amigos. Não é para fazer mais show, já temos a nossa carreira. Fazemos para celebrar. Ainda não deu para fazer tudo. Por exemplo, acabei de lembrar de Talismã, de Geraldo, que adoraria cantar. As pessoas têm uma resposta linda para todos os momentos. Eu me divirto no palco. É bom para a saúde, é terapêutico. Vem muita energia. Às vezes, estou cansada, penso que não vou aguentar, mas tem uma mágica, um mistério, é transcendental.”

Geraldo Azevedo “Na verdade, pensamos em voltar várias vezes, chamamos Zé Ramalho, e o fato de ele não ter vindo nos fez ficar reticentes. Mas tínhamos uma cobrança grande do público. E também sinto saudades de Elba e Alceu. É bom, porque podemos conviver mais. Demorou, mas estamos aqui juntos e não vamos deixar de celebrar. Estar no palco é a realização da missão que a gente cumpre. Fazer canções é bacana, mas essa relação com o público é o mais emocionante.”

Alceu Valença  “Gosto de estar no nirvana, me dá tranquilidade. Eu me envolvo mais com a cena, é como se interpretasse um papel. Sou um ator realista. Palco é vitamina. Às vezes, chego cansado, esqueço tudo e faço o impossível. O repertório é perfeito para este show.”

RITUAIS

Elba Ramalho  “Rezo o dia inteiro. Esquento bem a voz, sou tranquila. Quando dividimos o palco com feras, é ótimo.”

Geraldo Azevedo “Gosto de aquecer a voz, dar uns gritos. Este é um show generoso, fico mais esperando e vendo o outro cantar.”

Alceu Valença  “Não tenho rituais. Eu fico falando pelo WhatsApp... Não suporto camarim, é como se fosse um prisioneiro. Prefiro o palco.” 
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