Anos Dourados: lançada há 35 anos, seriado retratou os conflitos de um Brasil rumo ao futuro e preso ao passado - Jorge Baumann/TV Globo
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Anos Dourados: há 35 anos terminava o seriado que retratou os conflitos de um Brasil rumo ao futuro e preso ao passado

Na trama, romance aparentemente clichê deixava sobre a mesa um país polarizado e preso às convenções sociais

Gustavo Assumpção Publicado em 30/05/2021, às 12h32

Exibida pela primeira vez em 1986, o seriado Anos Dourados, chegava ao fim há 35 anos. Uma das produções mais lembradas dos anos 80, o seriado assinado por Gilberto Braga e dirigido por Roberto Talma discutiu com ares de folhetim um país que se via com um pé no futuro, mas ainda mantinha as mãos agarradas ao passado.

O romance entre a normalista Lurdinha (Malu Mader) e Marcos (Felipe Camargo) deixava em evidência as muitas das contradições da sociedade brasileira que anos depois viveria o trauma do Golpe Militar de 1964: ele estudante de colégio militar e filho de pais separados; ela de uma família tradicional na qual o desejo é pecado e o papel da mulher é de submissão.

Com a acidez do texto de Gilberto Braga, a trama foi fruto de um longo trabalho de época do autor e da produção da TV Globo: os topetes repletos de brilhantina, os vestidos rodados de tule e os penteados extravagantes mostravam muito do modo de se comportar da época influenciados pelo cada vez mais relevante cinema hollywoodiano. Nem mesmo o corte tipo “taradinha” ficou de fora: inspirada em Gina Lollobrigida, Betty Faria apareceu com os cabelos curtíssimos e virou sensação.

A cenografia também mostrou um investimento alto da TV Globo: além do trabalho de caracterização dos cenários, a emissora investiu na presença dos cadillacs e carros rabo-de-peixe que faziam disparar o coração das jovens. Houve também um cuidado detalhado com adereços, louças, quadros e aparelhos domésticos como rádios, canetas e livros - tudo para mostrar um retrato fiel dos anos de Juscelino.

Como se ainda não bastasse, a música-tema da trama foi composta com exclusividade por uma dupla de gigantes: com melodia de Tom Jobim e letra de Chico Buarque, Anos Dourados retrata logo em sua música-tema muito do espírito dos anos 50: insanos/ dezembros/ mas quando me lembro/ são anos dourados.

O trabalho, supervisionado por Daniel Filho, é lembrado até hoje como uma das produções de maior qualidade que já foram exibidas pela emissora e alavancou o trabalho do autor dentro do hall de novelistas do canal. Como se não bastasse ainda alçou Malu Mader ao posto de uma das mais queridas atrizes de sua geração.

“Cheguei a ficar arrogante (…) fiquei meio bestinha! (…) Há coisas relacionadas ao sucesso de Anos Dourados que acho que poucos escritores viveram. (…) Houve uma mulher na Avenida Vieira Souto que, quando me viu, bateu com o carro, deixou o carro batido e veio falar comigo: ‘Eu queria lhe dar um beijo porque estou adorando Anos Dourados!’ Quando você faz um trabalho sério, tocante, positivo, com esperança, você faz muito sucesso”, chegou a declarar Gilberto Braga em um depoimento ao livro  “Autores, Histórias da Teledramaturgia”,  produzido pela própria Globo. 

No Brasil que teria no comando JK e seus sonhos dourados, que construiria Brasília e cresceria 50 anos em 5, as bases sociais ainda se sustentavam em torno de valores ultrapassados. Anos Dourados permanece atemporal porque mostrou muito bem como a polarização e o comportamento reacionário seguem nos prendendo ao passado e impedindo a concretização de um futuro sonhado.

Anos Dourados

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