Tarcisio Meira - Caio Guimarães

Artista Incansável

Tarcísio Meira comemora 80 anos no lugar em que mais gosta - o palco -, de onde se afastou por duas décadas. E como parar não está nos planos, o ator se prepara para retornar à TV

Lorena Tabosa Publicado em 05/10/2015, às 15h33 - Atualizado em 07/08/2019, às 17h44

A chegada aos 80 anos, comemorada na segunda-feira (5), não intimida Tarcísio Meira, tampouco será um motivo para apagar as luzes de tablado. Para descrevê-lo, seria possível usar a palavra "mito", que cairia como uma luva para representar as 42 novelas que o ator tem no currículo, além de cerca de 30 peças de teatro e 22 filmes. Mas a simplicidade com que recebeu a CONTIGO! para entrevista, em São Paulo, desconcerta quem quer que tente tratá-lo como realeza da televisão brasileira.
Tarcísio começou a carreira no teatro em 1957, depois de desistir da ideia de ser diplomata. "Fiz teatro amador no Clube Pinheiros, aqui em São Paulo. Meus amigos me convidaram, eu fui, fiz e gostei. Ganhei até um prêmio (risos)", lembra. Dois anos depois, foi convidado para integrar a companhia teatral Nydia Licia-Sérgio Cardoso. Lá , dividiu o palco com o próprio Sérgio Cardoso no espetáculo Soldado Tanaka, no qual interpretava um oficial do Exército japonês. "Eu era rapaz ainda, de 20 e poucos anos, e fazia um japonês que era presidente de um tribunal. Maquiavam minha cara como japonês, era um trabalhão mesmo. Quem trabalhou a meu lado nesse tribunal, como promotor de Justiça, foi o Fúlvio Stefanini, nós dois começando. Foi muito bom, a crítica me elogiou e me deu muita segurança, poque depois as pessoas passaram a me ver como o galã... mas comecei mesmo foi com o militar japonês! E assim já se vão quase 60 anos de profissão", conta.
Depois de passar 20 anos afastado do teatro, o ator volta agora com a peça O Camareiro, em cartaz no Teatro Porto Seguro, também em São Paulo. O convite partiu do ator Kiko Mascarenhas, com quem divide o palco, e do diretor Ulysses Cruz. "Eu estava com saudade de fazer teatro como esse, teatro clássico. Não é uma peça supermoderna, não são personagens do cotidiano. Todos os personagens têm uma teatralidade. Há muito tempo que não fazia esse teatro, há mais de 50 anos. A minha vida se encaminhou muito para a televisão e o cinema. Quando eu parava com uma novela, ia fazer filme", diz.
O cinema lhe rendeu a oportunidade de trabalhar com nomes como Miguel Faria, Carlos Manga, Bruno Barreto e Glauber Rocha. "Fiz muitos filmes em um momento que era difícil fazer cinema", lembra. Mas foi a televisão que o fisgou na carreira e na vida, pois foi lá que encontrou a mulher, Glória Menezes. "Eu conheci a Glória em 1961, fazendo teleteatro. A gente casou em 1963 e estamos casados há 52 anos. É coisa pra caramba (risos)...", diverte-se com a lembrança.

Juntos, atuara na primeira novela gravada no Brasil, 25499 Ocupado (Excelsior), que tinha texto argentino. "Novela era uma coisa que nem conhecíamos, não tinha texto brasileiro de novela. Para nós, foi muito bom, porque o brasileiro não via teatro. Só a elite, a burguesia rica, é que tinha condições de ir ao teatro", revela. Naquela época, precisavam ter mais de um emprego para sustentar a casa, pois não dava para viver da carreira de ator . "Para viver simplesmente do nosso trabalho artístico era muito difícil. Com a novela, isso foi se tornando possível. O artista brasileiro se tornou conhecido do público brasileiro. A Excelsior iniciou o processo de criação de novelas, mas a Globo acreditou e investiu nisso."

PLIM, PLIM!
A estreia na Globo veio em 1968, ao lado de Glória, na novela Sangue e Areia, escrita por Janete Clair. A partir daí, o casal se tornou um dos pares românticos favoritos do público e as novelas caíram de vez no gosto dos brasileiros. "Eu me dediquei muito mais à televisão e aos seriados, às minisséries. Gostei muito de fazer O Tempo e O Vento, como o Capitão Rodrigo. É um personagem fantástico, sonho de todo homem e de toda mulher. Todo homem gostaria de ser Capitão Rodrigo e toda mulher gostaria de ter um Capitão Rodrigo (risos). É um personagem profundamente humano, sensível e, ao mesmo tempo, muito alegre e viril. E gostei muito de ter feito A Muralha. Foi um personagem bastante diferente dos que eu vinha fazendo sempre", conta.
A memória, ele garante, foi muito bem tratada durante os anos. Em depoimento à Memória Globo, em 2005, Tarcísio revelou que não tinha dúvidas de que foi o homem que mais decorou palavras no mundo. "Com certeza, algum ator mexicano terá feito mais novelas do que eu, falado mais palavras do que eu. Mas ele não terá decorado tantas: eles não decoram, usam ponto eletrônico", disse.
Para testar, perguntamos sobre a primeira coisa que ele se lembra na vida, e Tarcísio deu uma risada gostosa, quase sonhadora. "Da minha infância? Que pergunta inusitada! Eu me lembro de coisas e de repente eu penso: 'Será verdade? Será que eu vi mesmo?' Por exemplo, eu morava na Alameda Franca, em São Paulo, e minha casa era em um lugar um pouco alto. De lá, antigamente, se avistava o Aeroporto de Congonhas. E eu me lembro de ter visto o Zepelim lá no aeroporto. Eu devia ser muito menininho, mas é a lembrança que tenho... se é que é verdade, de repente me falaram e fiquei com aquilo na cabeça. Mas eu acho que vi, sim", recorda.
O retorno à telinha já está previsto, embora ainda não tenha data fechada. Tarcísio está escalado para a próxima novela de Maria Adelaide Amaral, que deve estrear no horário nobre e traz uma trama política cheia de mistério. "Sei que é uma novela que tem uns lances policiais e alguns segredos. Li a sinopse e achei bem interessante!", garante o ator. 
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