"Meu pai sempre perguntava: 'filha, quando é que você vai gravar aquele CD de sambão?'", lembra a cantora
Toda vez que sentava na sala da casa de sua família, em Cotia, na região metropolitana de São Paulo,
Luciana Mello, 37 anos, vivia um misto intenso de emoções. Desde a morte de seu pai, o cantor Jair Rodrigues, em 2014, aos 75 anos, somente agora a cantora resolveu colocar em prática a ideia de fazer um álbum inteiramente dedicado ao samba e foi com os discos de vinil herdados dele que ela começou a procurar seu repertório para o Na Luz do Samba. “Ele sempre colocava os vinis dele para ouvir e todos os exemplares acabaram ficando aqui e nada melhor do que pegar na melhor fonte possível (risos)! A ideia de fazer um trabalho como esse era antiga, mas nunca tinha tempo para me focar. Meu pai sempre falava: ‘Oh, minha filha, quando você vai gravar aquele CD de sambão?’, mas realmente sempre acontecia alguma coisa. Depois que ele faleceu, eu sabia que a hora de gravar havia chegado, pois seria uma justa homenagem a ele”, lembrou ela, na varanda da casa, que hoje funciona como um espaço para eventos.
Luciana Mello (Foto: Rogerio Pallatta)
Parceria com a filha
Foram quase dois anos de pesquisa até chegar ao resultado final, com nove músicas, duas delas com participações especiais da cantora Alcione, 68, e de sua filha, Nina, 7, e uma inédita, Estrela Sorridente, composta por seu irmão, Jair Oliveira, 41. “Quando a Nina estava tomando banho, ela começou a cantarolar a melodia de Roda de Baiana e foi nesse momento que decidi que essa canção tinha que entrar no disco. Ela deve ter decorado de tanto que eu escutei. Poder ter ela no estúdio comigo foi um dos momentos mais lindos da minha vida. Foi com essa idade que eu também cantei pela primeira vez com meu pai”, revela.
Na época das gravações, seu marido, o fotógrafo Ike Levy, 40, com quem ainda tem Tony, 2, a ajudou em casa. “Ele é um cara excepcional, tirei a sorte grande de tê-lo encontrado. Porém, era eu quem tinha de arrumar o cabelo da Nina todos os dias! Não importava se eu tivesse chegado às 11h da noite ou às 5h da madrugada, depois de trabalhar bastante. Seis e meia da manhã era o horário que eu tinha de estar de pé para fazer uma trança ou um rabo de cavalo nela. Ela vai ser uma mulher muito forte e decidida.”
Se depender da mãe, não haverá pressão para seguir o caminho da música. “Em casa, nunca ninguém ditou o que eu e o Jair faríamos da vida e quero que meus pequenos tenham essa mesma criação. Eu sigo muito os ensinamentos dos meus pais e o Ike tem esses mesmos valores. No entanto, a Nina está mostrando a veia artística da família. Além de já cantar muito bem, ela diz que quer ser pintora e sua professora me disse que ela leva jeito! O Tony adora uma farra, igualzinho ao avô! Logo, logo, vai plantar bananeiras pela casa (risos). É essa alegria do Jairzão que eu quero que eles levem para sempre. Sei que meu pai está muito feliz onde está, deve estar sorrindo de orelha a orelha."
Luciana Mello (Foto: Rogerio Pallatta)
Luciana Mello e o pai (Foto: Instagram)