No Mês do Orgulho, ele relata a importância da família e dos amigos e pede respeito à diversidade
Julia Palmieri Publicado em 24/06/2021, às 14h28
Durante o Big Brother Brasil 21, João Luiz foi um dos grandes símbolos de representatividade para as comunidades negra e LGBTQIA+ e conquistou uma legião de fãs e admiradores. Firme em sua postura e em suas convicções, ele conquistou espaços e agora se tornou influenciador.
No mês dedicado ao orgulho e à diversidade, ele relatou em conversa com a CONTIGO!, como foi seu processo de descoberta, as dores e delícias de ser gay em um país preconceituoso e a importância do acolhimento da família. Ele ainda aconselhou jovens que buscam a aceitação de amigos para viverem com plenitude. Um dos destaques do reality, o professor de geografia também lembra que a presença de diversidade em produções para a TV é parte fundamental do processo de identificação. Há muitos anos, ela não era sequer notada.
“O elenco dos reality shows há 20 anos era completamente diferente e bem menos diverso do que hoje. Agora a gente tem uma representatividade muito maior, não só de pessoas LGBTQIA+, mas de pessoas negras. Os reality shows são coisas que entram na casa das pessoas, que as pessoas gostam e faz parte do dia a dia de todo mundo. Quando a gente coloca essa representatividade lá é interessante para a gente poder normalizar essas coisas também”, revela ele.
Para o ex-BBB, a presença de pessoas com identidades múltiplas em um programa como o BBB, é essencial para que o público se identifique com os participantes: “Se você ver diariamente essas pessoas com você, na sua casa, você vai se identificar com elas. A representatividade existe e tem que existir. Mas ela não precisa necessariamente ser só dentro do reality, ela tem que ser em todos os espaços. Na novela, na mídia, na imprensa, na publicidade”.
Membro de uma família repleta de diálogo, ele conta que expor sua sexualidade foi algo bem simples e natural. Ele foi acolhido pelos pais e dos amigos próximos e não enfrentou grandes dificuldades - algo que ele sabe, é um privilégio. “Eu acho que esse meu lado de tentar sempre acolher as pessoas veio muito desse meu traço familiar. Pelo fato de eu ter me assumido muito cedo também, minha mãe e meu pai sempre entenderam isso de uma forma muito leve, tranquila. Assim como meus amigos mais próximos”, conta ele.
Apesar do acolhimento, ele revela que houve exceções. Algumas pessoas se afastaram dele por verem a sua sexualidade como um problema e não quiseram continuar criando um vínculo. “Se essas pessoas não conseguem ter um convívio comigo, e se afastaram de mim por algum motivo, então nunca foram meus amigos. Eu tive uma experiência positiva nesse lado de que eu fui acolhido por muita gente, mas tiveram pessoas que não estiveram comigo nesse momento”, desabafa.
João Luiz relata que a homofobia é algo em que, infelizmente, ele enfrenta diariamente. Segundo ele, muitas pessoas da comunidade LGBTQIA+ também passam pelo mesmo e podem relatar histórias parecidas. “Eu percebo essas coisas durante o meu cotidiano em vários momentos. Às vezes é um olhar, um xingamento, um comentário maldoso, um comentário preconceituoso. São muitas, inúmeras experiências. Desde quando eu era criança até o dia de ontem”.
Apesar de já calejado em lidar com o preconceito, João Luiz deixa claro que não consegue, e nem quer, se acostumar a passar por isso. Mesmo sendo algo que o acompanha, ele acredita que não deve ser normalizado. “Eu vejo muito a história das pessoas LGBTs associadas a históricos de dor ou de violência, física, emocional, psicológica. Não é uma situação confortável. Quando a gente bate de frente com essas coisas, é o momento onde a gente está dando um basta. A gente não quer mais viver isso, a gente está cansado. São coisas que eu realmente não me acostumo”, desabafa.
Quando decidiu ir para o Big Brother Brasil, ele não teve grande insegurança em relação a sua sexualidade, já que, ele já convive com essas preocupações no seu dia a dia. Ao ir para o programa, ele estava pronto para encarar o que pudesse acontecer.
“O receio ele não era só dentro do Big Brother. Eu acho que ele existe e me atravessa em todos os momentos desde da hora que eu acordo até a hora que eu vou dormir. Pensando que a gente tem essa configuração hoje no Brasil, é um receio que me acompanha diariamente. Eu sempre vou para os lugares imaginando que algo pode possivelmente acontecer comigo, e no BBB não seria diferente. Em alguns casos acontece, em outros não”, conta.
Aconselhando pessoas LGBTQIA+ que buscam a aceitação da família, ele explicou que é um assunto muito complexo e particular, pois depende de como é cada relação: “É um processo muito difícil, dado que cada família é dada de um jeito. Então eu não entendo como é pra outras famílias. Porque a minha me entende bem, me aceita, me acolhe. Isso nunca foi uma questão na minha família, mas eu não sei como é nas famílias das outras pessoas”.
Pensando nisso, João Luiz recomenda que todos busquem a própria independência, caso a pessoa não receba acolhimento dos mais próximos. “É muito fácil para mim virar e falar: ‘sai do armário fulano, tá tudo certo, as pessoas vão estar com você’. Se aquela pessoa não tem uma válvula para se apoiar, pra estar junto. Então pra mim é muito delicado e muito difícil dizer isso porque pode parecer que eu incentivo uma coisa, mas sempre tem o outro lado. O outro lado as vezes não é bom. É um lado que as pessoas não vão te acolher, que você vai estar sozinho”.
O professor de geografia fala também sobre a importância de buscar pessoas que podem dar suporte nesse momento difícil. “Buscar uma rede de apoio para que você possa celebrar esses seus momentos, seu orgulho, que eu acho que é o mais importante para esse momento. Ver quem são as pessoas que estão realmente com você porque são essas pessoas que vão te ajudar porque individualmente vai ser um processo muito difícil”, finaliza.
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