O bailarino Thiago Soares - Fotos: Daryan Dornelles e Mariana Vianna/divulgação

O corpo em movimento de Thiago Soares

Primeiro bailarino do Royal Ballet de Londres, ele reestreia Roots, sem planos de morar no país

Por Ligia Andrade / Fotos: Daryan Dornelles e Mariana Vianna/divulgação Publicado em 21/01/2017, às 17h00 - Atualizado em 07/08/2019, às 17h45

Enquanto os amigos jogavam bola de gude e soltavam pipa nas ruas de Vila Isabel, bairro de classe média na zona norte do Rio de Janeiro, Thiago Soares se encantava pelas acrobacias do circo, aperfeiçoava seus passos de break, hip-hop e descobria os encantos do balé clássico. Hoje, aos 35 anos, é o dançarino brasileiro mais bem-sucedido no exterior e, desde 2006, ocupa o posto mais alto do Royal Ballet de Londres: o de primeiro bailarino. De passagem pelo Brasil, Thiago apresentou em dezembro O Quebra Nozes, em São Paulo, e reestreou no Rio de Janeiro o espetáculo Roots em temporada popular. “É muito bom estar aqui, ver a família, os amigos, vou à praia... fiquei meio desesperado por sol”, revela, sem planos de voltar a morar no país. “A minha vida é em Londres, minha casa é lá, meu maior trabalho é no Royal. Adoro vir, dançar, matar a saudade dos amigos e da família.” Em Roots, Thiago volta às origens de sua vida artística. E diz que fez o espetáculo sem nenhuma pretensão. “Não estava focado em agradar, mas em transmitir o que estava sentindo e em ter uma narrativa na qual acreditasse. A consequência de ter funcionado foi a cereja do bolo. Estamos mais afiados”, reconhece. 

Depois de ter um documentário, ainda inédito na HBO, sobre um período de sua vida, Thiago vai ver a sua trajetória ser contada nos cinemas. “É um projeto meio sonho. O público vai entender quem sou eu. Fico feliz de ter uma carreira onde as pessoas me apreciam, dão força. É para isso que a gente trabalha também, para ser reconhecido e receber esse carinho. No fundo, precisamos dessa aceitação. Existem outros grandes bailarinos de carreira internacional, a quem respeito e tenho contato.” Nascido em São Gonçalo, município do Rio de Janeiro, Thiago recorda ser “um bailarino que não acreditou que viraria um”. Sabe que o seu lugar na badalada companhia europeia é de elite.“Hoje entendo esse diferencial, me sinto feliz em ser um dos vitoriosos na dança, em poder representar o Brasil”, festeja. Apesar de ter o glamour de estar no palco, Thiago consegue ainda desfrutar do anonimato na maior parte do seu tempo. “Posso tomar sorvete no shopping na boa. Na verdade, as pessoas têm até me parado mais, o que chega a ser engraçado. Porém, ainda posso sair tranquilo, fazer minhas bagunças.”

 
Thiago Soares ocupa desde 2006 o posto de primeiro bailarino do Royal Ballet 

Sem preconceitos
Autocrítico, o bailarino precisa se monitorar para não acabar pegando pesado consigo mesmo. “Posso ser meu maior inimigo no quesito cobrança, com manias, gerando um certo fanatismo, que pode ter lado positivo e negativo. Sempre acho que posso fazer melhor, mas sou uma pessoa feliz, realizada. Agradeço a Deus porque, usando a dança como profissão, a vida foi generosa comigo.” Segundo ele, o receio de falar que fazia balé no passado, não existe para a nova geração. Ainda bem. “Não tem mais esse preconceito, pois tem uma indústria voltada para a dança. O que falta é apoio e patrocinadores para novos espaços, gerando emprego a bailarinos e coreógrafos. A dança gera frutos. É uma arte comunicadora, que as pessoas pensam ser de elite.”

Solteiro em Londres
Em Londres, Thiago tem uma rotina quase espartana, treina seis horas por dia. Entre as suas atividades diárias estão alongamento, treinamento – pratica balé clássico desde os 15 anos –, yoga, musculação e fisioterapia. “Estou bem para minha idade, me sinto com menos dores. Todo dia é uma tensão para poder tirar a camisa no palco. Tento não beber o tanto quanto gostaria e tenho de treinar muito mais. É 3.5!”, diverte-se.  Nas folgas, gosta de passear por galerias de arte, ir a shows e encontrar os amigos. “Eu me mudei há pouco tempo, fico organizando a casa. O meu único luxo é ter um assistente que organiza as coisas do meu dia a dia. Fico mais na parte de comprar uma peça nova, fazer obra, tentando dar uma cara na minha casa”, ressalta ele, que foi casado com a bailarina argentina Marianela Núñez, por 13 anos. “Trabalhamos juntos, nossa relação transcendeu, virou uma coisa superbacana. Dialogamos e está tudo certo.” Solteiro, gosta de mulheres inteligentes, honestas e apreciadoras de artes em geral. “São coisas que comunicam comigo. Estou vivendo o momento focado no trabalho, de braços abertos a conhecer pessoas novas”, acrescenta.
Entre as metas do bailarino está a vontade em dividir um pouco de sua experiência com as próximas gerações. “Só não sei ainda de qual maneira exatamente. E quero poder realizar alguns outros projetos.” No fim do mês, Thiago volta a Londres, onde já tem apresentação marcada para fevereiro. Ah, e para quem pensa que vida de dançarino é fácil, ele lembra um perrengue que passou em cima do palco. “Já arrebentei o tendão. Com a adrenalina, consegui agradecer e sair do palco. Depois fui direto ao hospital.” 
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