Redemoinho, o filme que demorou quase 10 anos para sair do papel

Encantado com o conto Amigos, do livro Mundo Inimigo, de Luiz Ruffato, José Luiz Villamarim, demorou cerca de dez anos no processo de adaptação da história de Gildo (Julio Andrade) e Luzimar (Irandhir Santos) para os cinemas. Os amigos, que se reencontram na noite de Natal, passam a vida a limpo em Redemoinho. “É sobre quem fez a melhor escolha. Todo mundo que parte tem sempre a dúvida se tomou a melhor decisão. Minha carreira avançou na Globo e nunca sobrava muito tempo, mas não desisti. Até que me vi prestes a completar 50 anos, pensei que estava mais do que na hora de fazer um filme”, explica. O longa também marca a retomada da parceria de sucesso do diretor das séries Nada Será Como Antes (2016) e Justiça (2016), com o roteirista George Moura, com quem dirigiu O Canto da Sereia (2013), Amores Roubados (2014) e O Rebu (2014). “Conheço Villamarim e Walter Carvalho há mais de 20 anos, já temos uma parceria longeva na TV aberta. Daí a fazermos juntos essa estreia do Villamarim no cinema foi um salto. Mas, segundo Walter, a partir de uma certa idade, todo salto é mortal. “Villamarim me mostrou o original do livro de Ruffato, que chegou às mãos dele pela produtora Vania Catani. Lemos e nos apaixonamos. Foi um trabalho longo, e esse momento feliz de ver o filme pronto”, festeja Moura. Diretor de fotografia, Walter Carvalho, 69, explica um pouco o seu processo de criação. “Nunca decido antes uma fotografia para aplicar em um filme. Procuro a imagem dentro da história, não invento. A cada plano há possibilidade de uma descoberta. Procuro junto aos personagens encontrar o rumo. É preciso que a imagem se confunda até o ponto em que ela desapareça e fiquem só os sentimentos, as sensações.”  

No longa, que estreia dia 9 de fevereiro nos cinemas, Luzimar e Gildo são dois grandes amigos de infância, que cresceram juntos em Cataguases, interior de Minas Gerais. Luzimar nunca saiu de sua cidade e trabalha em uma fábrica de tecelagem. Gildo mudou­-se para São Paulo, onde acredita ter se tornado um homem mais bem­-sucedido. “Irandhir é um dos caras mais geniais da nossa geração. Temos processos diferentes: o dele é mais solitário, o meu é mais junto com a galera. Ele fez vivência do personagem, ia todo dia para aquela fábrica. Quando a gente vai para a cena, tem uma generosidade absurda que transparece, e a gente se conecta”, ressalta Julio. Irandhir completa o colega: “Em todas as cenas, eu e o Julio mantínhamos em mente a pergunta que Gildo e Luzimar se fazem o tempo todo: ‘Quem está melhor?’ Trabalhamos as nuances do roteiro, a tragédia da infância, o amor que um sentia pelo outro, mas também as ações concretas. Também houve improviso. Com o tempo, entendi que a relação dos dois era mais complexa do que uma simples amizade. Tenho uma enorme admiração pelo Julio como ator. É bom quando você tem a segurança do seu parceiro de cena – sabe que ele também passou a noite estudando para as cenas do dia seguinte.”

   Redemoinho, que ganhou o Prêmio Especial do Júri Oficial e o de Melhor Ator para Julio Andrade no Festival do Rio 2016, conta também com Dira Paes e Cássia Kis, no elenco.