Silvio Guindane como Marco André em 'Segunda Chamada' - Globo/Mauricio Fidalgo
Crítica

'Segunda Chamada' exagera e perde equilíbrio com tramas desconexas no quinto episódio

De aborto a amamentação, episódio pesou a mão e se perdeu

Leandro Fernandes Publicado em 05/11/2019, às 21h30

Segunda Chamada busca ser a Sob Pressão da educação e, de certa forma, acerta. Ao mostrar a dificuldade de idealistas como Lúcia (Débora Bloch) e Marco André (Silvio Guindane) em lidar com a realidade das escolas públicas, a série toca numa ferida que é escancarada, mas que normalmente é apenas superficialmente abordada. A escola pública não é ruim - é desvalorizada. Essa é a tese de Segunda Chamada.

Onde a série derrapa, e isso ficou mais que claro no episódio desta terça-feira (05) é em abraçar o mundo. Um mesmo episódio teve tramas a respeito de aborto, amamentação, mulheres sendo pressionadas a largar os estudos por causa dos maridos e ainda um mistério envolvendo o filho falecido da protagonista. Falta um pouco de equilíbrio: cada uma dessas tramas poderia ser melhor desenvolvida ao longo de todo um episódio, amarradas aos desenvolvimentos de cada professor envolvido. Da maneira que é feito, o peso de uma perda enorme - Rita, a personagem de Nanda Costa, que morre após um aborto clandestino mal-sucedido - é reduzido, diluído.

Talvez a estrutura seja um vício vindo das novelas da Globo, assim como os flashbacks repetitivos que pontuam a trama de Lúcia. Será que não seria mais interessante guardar a história visual da tragédia de Lúcia para depois? Mais uma vez, ver e rever a morte do filho dela dilui a emoção das cenas. O que eleva o texto e reduz o impacto negativo da estrutura folhetinesca são as atuações, com destaque óbvio para Débora Bloch, sempre cheia de nuances e que imprime verdade. Mas todo o elenco consegue manter um nível elevado, mesmo encarando tramas meio cansadas.

É interessante lembrar que a primeira temporada de Sob Pressão teve problemas parecidos: parecia mais preocupada com tramas com cara de novela que em tocar na ferida do assunto tratado. A segunda e a terceira temporadas evoluíram enormemente nesse sentido, casando perfeitamente os dramas pessoais dos médicos com a vida no hospital e o plano maior, a sociedade e a política. Há esperança para que Segunda Chamada dê os mesmos passos.

A carga emocional enorme da série, diluída, parece condensada nos depoimentos dos alunos do EJA no final do episódio e é ali também que Segunda Chamada consegue dizer mais claramente o que parece querer dizer. Mais que isso, é ali que Segunda Chamada se mostra o que parece querer ser: uma carta de amor à educação pública brasileira. 

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