Uma reunião de trapalhões

Os trapalhões Didi (Renato Aragão, 82 anos), Dedé (Dedé Santana, 81), Mussum (Antônio Carlos Bernardes Gomes, 1941-1994) e Zacarias (Mauro Faccio Gonçalves, 1934-1990) fazem parte da memória afetiva dos brasileiros. O grupo, que divertiu gerações aos domingos entre os anos de 1977 e 1995, na Globo, e como recordistas de público nas salas de cinemas, está de volta. Agora, o humorístico é homenageado em uma releitura que deseja resgatar o jeito trapalhão de ser. 

Os veteranos Renato e Dedé se juntam aos pupilos Lucas Veloso (Didico), 21, Bruno Gissoni (Dedeco), 30, Mumuzinho (Mussa), 33, e Gui Santana (Zaca), 30, no elenco. “Estamos sempre aprendendo. Brincamos e nos divertimos o tempo todo durante as gravações. Aqui, não existe mestre nem aprendiz, existe uma nova turma”, afirma Renato. “No começo, fiquei nervoso, não é todo mundo que grava com Didi e Dedé. Sou filho de comediante (Shaolin, 1971-2016), tenho tudo deles. Didico não é o Didi e nem sou eu. Ele foi criado como um discípulo. Sei o tamanho da responsabilidade, mas estou me divertindo e fazendo com o coração”, conta Lucas.

No novo programa, que estreou no domingo, 17, esquetes – um formato clássico do humor – ganham um ar mais moderno. Outro quadro que está de volta é o da reunião de super-heróis. Só que, desta vez, com novos vigilantes à mesa: Super Super (Renato), Capitão Ferrugem (Lucas), Homem Morcega (Dedé), Menino Perereca (Bruno), Turbo Boy (Mumuzinho), Incrível Muque (Gui), Piolho Prateado (Nego do Borel) e Mulher Silicone (Leticia Lima, 33). “Confesso que fiquei nervoso quando soube que ia voltar, mas quando comecei a conviver com eles, foi tudo muito bom. Improvisávamos juntos e, novamente, me senti em casa. Era tão fã do Mussum e do Zacarias que me perdia na cena e ficava olhando para eles. E, nessas gravações, quando vi Mussa e Zaca, aconteceu o mesmo. Fiz 80 anos, ver uma coisa dessas à essa altura é realmente emocionante”, confidencia Dedé.

Bruno era fã do quarteto na infância. O ator garante estar vivendo profissionalmente um sonho de criança.

“A emoção é grande, assistia mesmo. Estar ao lado desses ídolos é uma responsabilidade enorme. Dedé me deu muitas dicas e espero homenageá-lo. Foi uma experiência linda e tinha ataques de riso todos os dias.” O fato de ter uma carreira consolidada na dramaturgia não foi empecilho para ele.

“Quando somos artistas, temos de estar abertos a tudo. Os outros meninos do elenco também têm esse lado mais denso. Acredito que se for pedido para eles fazerem algo do drama, como me foi pedido no humor, eles certamente vão corresponder à altura. Temos de estar prontos sempre e se jogar”, atenta.

O cantor Mumuzinho recorda que brincava de ser filho do Mussum, por seu jeito de falar. Quando recebeu o convite, o que mais queria era homenagear o humorista. “Não temos pretensão de nada. Só queremos honrar o que eles fizeram lá atrás e nos divertir”, explica. Ele fez uma verdadeira imersão na vida de seu ídolo. Assistia aos vídeos e colocava só o áudio enquanto se preparava para dormir. “O trabalho de preparação foi muito importante. Coloco o figurino e sinto ele aqui. A família do Mussum mora no meu prédio, então sempre conversava com eles.” 

Gui, ex-Pânico (Band), não nega: bebeu da fonte do Zacarias. Aliás, já tinha interpretado o personagem na MTV e tem facilidade de fazer vozes e gestuais. “Senti que estou parecido com o original, só que em uma versão mais gorda. Tivemos liberdade dos autores, percebi que ser trapalhão é ser puro, simples e espontâneo. Cada vez que coloco a peruca, é uma emoção diferente. É muito craque junto e ter Didi e Dedé ao nosso lado é algo que não sei nem mensurar.” O ator só assistiu às reprises de Os Trapalhões. “Tenho uma foto de quando era criança usando essas jardineiras iguais às dele. O que mais me chamou atenção era a ingenuidade que Zacarias passava.”