Rita Lee expôs detalhes íntimos de sua trajetória em livro; leia alguns trechos
Gustavo Assumpção Publicado em 09/05/2023, às 12h17
A cantora Rita Lee, que faleceu aos 75 anos nesta terça-feira (9) deixou suas memórias registradas no livro Rita Lee - Uma Autobiografia, que foi lançado pela Globo Livros. A obra chegou às livrarias em 2016, trouxe várias revelações sobre a vida pessoal e íntima da estrela, uma das maiores da história da música brasileira. Relembre abaixo alguns dos relatos presentes na obra.
"Um dia a máquina de costura Singer de Chesa [mãe dela] engasgou e veio um técnico da firma. Me contaram que eu brincava no chão da copa enquanto minha mãe mostrava pro cara onde a coisa estava enguiçada. O telefone tocou, ela saiu para atender. Quando voltou, me encontrou sozinha no mesmo lugar, olhando petrificada para o cabo de uma chave de fenda enfiada fundo na minha vagina, de onde escorria uma gosma vermelha".
"Mergulhados na estrada, Rob e eu perdemos algumas gracinhas dos meninos tipo primeiro dentinho, primeiro passinho, primeiro 'mamã‑papá'. Doía no coração. Quando Beto estava com cinco anos, Juca com três e Tui com um, tentamos carregá‑los numa turnê junto com Balú. Misturar filhos à loucura que rolava em shows não era lá muito saudável, se é que me entendem. Para compensar nossa ausência física enquanto estavam em aula, os destinos de nós cinco nas férias eram sagrados: São Paulo‑Manaus, Manaus‑Miami, Miami‑Caribe. Primeiro mostrar a eles o Brasil belo e selvagem, depois um rolê nas magias da Disney e, por fim, o paraíso das praias caribenhas de mar azulzinho e areias brancas."
"Nenhuma mulher faz aborto sorrindo. Cabe a elas, e somente a elas, a decisão de interromper uma gravidez, assim como de segurar sozinhas as consequências moral, espiritual e oskimbau. Me refiro ao 'sagrado feminino', de nós meninas que temos um buraco a mais no corpo para administrar, do nosso universo complexo demais para machos, religiosos e políticos meterem o bico, esses para os quais prevalecem mais o direito do feto que ainda nem nasceu ao da mãe que não deseja pari-lo por motivos que não nos cabe julgar, psicológicos, econômicos, neurológicos, até mesmo espirituais. (...) Aborto não é uma mutilação no corpo da mulher. (...) Parir e abandonar o bebezinho numa lata de lixo é criminoso. Parir e pôr para adoção é irresponsavelmente confortável. Parir e criar em condições sub-humanas é indigno."
"(...) desembarquei no aeroporto de São Paulo com um mimoso colar de muitas voltas feito com 'miçangas' de pedrinhas de LSD coladas pacientemente uma a uma num cordãozinho de algodão. Dessa vez passei invisível pela alfândega. A ideia da nossa 'família' era vender a muamba, dobrar o capital investido e partir em nova aventura. Aconteceu que eu, a muambeira, consumi metade do estoque, a outra foi distribuída entre os frequentadores das festinhas de arromba na casa de Guarapiranga, point da crazy people da Pauliceia, com aquela cena manjada de gente desbundada amanhecendo pelos quatro cantos da casa. (...) Soube que muitos piraram de vez, tipo achar que é passarinho e se atirar do prédio. Hay que tener cojones para receber revelações espirituais e permanecer calmo. As 'pedrinhas' do meu tempo tinham zero anfetamina. Quando o psicodélico batia transformando a existência num caleidoscópio de consciência infinita, o ego despertava do mundo da ilusão dando de cara com o realismo fantástico do Higher Self, onde um mero grão de areia te explicava o omniverso. E você lá de alegre só sendo Deus. Aliás, desde que me decepcionei com religiões não sentia a presença do Divino tão acachapante. LSD não é para maricas materialistas."
"O casal de coelhos R & R continuava firme e forte. A graça era transar em locais inusitados, de banheiros de avião a praias desertas, de banheiras de espuma a escadas de incêndio, de elevadores de serviço a camarins de shows. Com essa bagagem erótico‑musical, partimos para um novo disco, o Lança perfume, a consagração total das nossas parcerias, cada vez mais autobiográficas. Éramos crème de la crème para voyeurs auditivos, com os sugestivos 'me vira de ponta cabeça, me faz de gato e sapato, me deixa de quatro no ato, me enche de amor...', 'Misto-quente, sanduíche de gente, empapuçados de amor...' e 'Me deixar levar por um beijo eterno, mais quente que o inferno'. E assim caminhava a paixonite sem pudores de dois famintos diante de pratos cheios de sedução, mergulhados na gula da paixão."
A cantora Rita Lee deixou uma "profecia" a respeito da própria morte. Nesta terça-feira (09), após a notícia do falecimento da rainha do rock rodar a web, usuários relembraram o trecho do livro Rita Lee: Uma Autobiografia em que ela narra como seria esse momento.
No Twitter, fãs resgataram um parágrafo do livro autobiográfico da estrela. No trecho em questão, ela descreve com detalhes e muita acidez como seria a reação à própria morte. "Quando eu morrer, posso imaginar as palavras de carinho de quem me detesta. Algumas rádios tocarão minhas músicas sem cobrar jabá, colegas dirão que farei falta no mundo da música, quem sabe até deem meu nome para uma rua sem saída", iniciou.
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