Mania de Você é muito criticada por sua trama esquisita, mas algumas das ideias do autor não são inéditas e já apareceram em outros sucessos
Murilo Rocha sob supervisão de Arthur Pazin Publicado em 23/01/2025, às 13h49
Mania de Você não é o maior exemplo de sucesso de João Emanuel Carneiro. Frequentemente criticada por seu ritmo ou trama sem muito nexo, a novela tem “queda livre” em audiência. Mas, suas histórias são a famosa “colcha de retalhos” e de outras fórmulas que JEC já apostou, ou seja, nenhuma ideia é verdadeiramente nova ou surpreendente para levar o público com fôlego até seu final.
Um dos primeiros exemplos é o morto-vivo. Em A Favorita, de 2008, Donatela, a personagem de Claudia Raia, "morria" para os outros personagens, em um incêndio na cadeia, enquanto, na realidade, assumia a persona de Diva, personagem de Giulia Gam. Ela aparecia para personagens escolhidos com o intuito de se vingar de Flora, interpretada por Patrícia Pillar e virou um fantasma, coletando aliados para seu plano fatal contra a psicopata.
Em Mania de Você, Viola, vivida por Gabz, seguiu os mesmos passos: morreu em um acidente e ressurgiu como a chef Marla do Brisa, por um curtíssimo período. Ela também apareceu para aliados selecionados e arquitetou um plano de vingança tal qual sua ‘antecessora’, para se vingar de Mavi, vilão de Chay Suede, que tem uma obsessão pela protagonista, tal qual Flora.
Vale pontuar: o "truque" da falsa morte é um tópico recorrente em novelas, mas em Segundo Sol, também de João Emannuel Carneiro, Remy, personagem de Vladmir Brichta morreu na trama e ressurgiu vivíssimo como um “trunfo”. Molina, vivido por Rodrigo Lombardi, ressurgirá vivíssimo na trama, mesmo após seu suposto assassinato com dois tiros na cabeça e quatro testemunhas oculares. Fica ai o questionamento de como a sua morte será explicada e, como Mércia escondeu ele tão bem.
Também na trama de 2008, Lilia Cabral viveu Catarina, uma mulher que estava em um relacionamento abusivo e sofria com violência doméstica. Stela, interpretada por Paula Burlamaqui, apareceu na sua vida e a tirou desse buraco, dando um emprego no restaurante da cidade fictícia e criando uma conexão especial.
O público torcia para as duas se tornarem um casal, já que Stela era lésbica e tudo sugeria para este contexto. Mas, acabou não acontecendo e as duas viraram grandes amigas. Catarina, inclusive, deu a volta por cima e se separou do marido abusivo, Leonardo, que era vivido por Jackson Antunes.
Já no atual folhetim das 21h, Fátima e Diana, personagens de Mariana Santos e Vanessa Bueno, as duas tiveram praticamente a mesma jornada: a primeira viveu um relacionamento abusivo e saiu do buraco com o ombro amigo da outra. Tudo levava a um caminho romântico, mas a química das duas morreu ali e se tornaram grandes amigas e sócias, apenas.
Catarina, inclusive, superou a fase dona de casa virando garçonete e ganhando seu próprio dinheiro, humilhando o ex-marido e mostrando que ela estava no comando. Leonardo também foi demitido da Fontini após assediar Flora, a mandachuva da Fontini, empresa fictícia. Ela, imponente, o mandou embora por justa causa e na frente de todos.
Voltamos a 2024: Robson, vivido por Eriberto Leão, usou e abusou da boa vontade de Fátima e a humilhava com palavras, além de dar em cima de outras mulheres na cara dela. Ele é mandado embora ao assediar a filha do gerente e seu amigo, Hugo, vivido por Danilo Grangheia. Fátima consegue um ótimo emprego e dá a volta por cima, tendo a mesma jornada de Catarina.
No megassucesso do autor de 2012, Avenida Brasil, Muricy, interpretada por Eliane Giardini, “babava” e passava pano para tudo que Carminha, vilã de Adriana Esteves, fazia. Ela inclusive era feita de trouxa e só servia mesmo para ser a ponte entre ela e o dinheiro.
Aqui o caso repete uma das atrizes como Berta e traz Mariana Ximenes como Ísis sendo a nora que faz a sogra de trouxa: ela matou o filho dela e só se importa com o dinheiro, infiltrando até uma quadrilha na casa dela. Mas, o que importa para a magnata é que ela é como se fosse uma filha e as incoerências na história pouco importam. Parece familiar, não é mesmo?!
Lá para o finalzinho de A Favorita, Flora dá um golpe articulado: ela quebra a fábrica dos Fontini com a ajuda de um investidor que nunca ninguém viu. A grana do acordo de fusão vai toda para o bolso dela e a família ricaça vai para a rua, vendo seu negócio ruir e acabando com a reputação do local. A negociação foi intermediada por um gringo aleatório.
Já em Mania de Você, o mesmo ocorreu: o Albacoa, de Mavi, recebe uma proposta de fundo de ação canadense para tirar o hotel do buraco. Quem está por trás é Viola que, assim como Flora, tem como objetivo roubar todo o dinheiro do magnata. Intermediada por uma gringa também, o vilão morde a isca e assina o atestado de falência para “breve”.
Acontece que com todo o “copia e cola”, natural no mundo atual, Mania de Você perdeu muito do seu fôlego com uma trama que é constantemente “tesourada” e tem essa aparência de não finalizada, além de dar voltas e não sair do lugar há alguns meses já. Resta saber até onde vão levar os caminhos e se outras ideias voltarão a ser reutilizadas para salvar o restinho do folhetim, que se encerra em março para dar lugar ao remake de Vale Tudo.
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