Em entrevista à CARAS Brasil, Alice Marcone fala sobre projetos futuros e reflete acerca de papéis para a comunidade trans no audiovisual
Bárbara Aguiar, sob a supervisão de Arthur Pazin Publicado em 03/12/2024, às 19h11
Recentemente em De Volta aos 15, produção da Netflix que tem Maisa como protagonista e fez sucesso em todo o Brasil, Alice Marcone soma à carreira de atriz trabalhos que a colocam em destaque também como apresentadora, roteirista e cantora. Em entrevista à CARAS Brasil, a artista multifacetada desabafa sobre espaço para atrizes trans: "Identidade de gênero não é característica definidora", afirma.
Consciente de sua importância para a representação de pessoas trans em obras do audiovisual brasileiro, Alice não esconde a alegria e orgulho de assumir esse papel, mas não está alheia aos problemas ainda enfrentados pela comunidade LGBTQIAPN+ nesses espaços.
"Espero que boa parte dos projetos em que estou envolvida estejam ajudando a abrir mais espaço para a comunidade LGBTQIAPN+ e especialmente a trans. Sei que carrego a responsabilidade de representar mais do que apenas eu mesma, e isso é muitas vezes angustiante tanto quanto gratificante, mas espero genuinamente que possamos ser cada vez mais singularidades ocupando juntas um espaço que antes não estava aberto para nem uma sequer de nós", reflete.
A singularidade almejada por Alice é mais do que espaço para contar narrativas de pessoas trans, mas também inserir esse grupo tão diverso em histórias que não se centram na identidade de gênero: "Para além de ter pessoas trans à frente e atrás das câmeras, é necessário que se busque sempre a humanidade por trás dos rótulos. Acho que numa era letrada pelo identitarismo, às vezes nos enclausuramos em certas ideias fixas que mais nos aprisionam do que libertam", pontua ela, que também é formada em psicologia e aproveita o aprendizado da graduação em seus projetos artísticos.
Envolvida em trabalhos como o Born To Fashion, focado na trajetória de pessoas trans no mundo da moda, e em De Volta Aos 15, que exibe o processo de transição de Camila, sua personagem na série, a intérprete afirma que tem buscado se envolver em projetos que se afastam da ideia central de "representatividade". "Enquanto artista, quero construir histórias com personagens onde a sua identidade de gênero não seja sua única característica definidora. Quero uma representatividade trans que seja nada mais que a representatividade de seres humanos enfrentando questões humanas e universais, que sejam falhos, ridículos, heroicos e enfim, tudo que todas as pessoas cis foram ao longo de todos os séculos de representatividade cis", explica.
Em sua busca por ampliar o espaço para a comunidade trans em variados estilos de obras, Alice está em um momento de mergulho profundo em novos gêneros narrativos, como o terror, suspense e comédia. Multifacetada, agora ela prioriza projetos onde pode se envolver no desenvolvimento e pesquisa, além de se dedicar às suas próprias histórias.
"Estou desenvolvendo meus primeiros projetos pessoais no audiovisual, que pretendo levar adiante como diretora, e apesar de quase sempre estas historias idealmente terem protagonismo trans, eu não necessariamente quero que elas sejam sobre transgeneridade", declara Alice.
Para a artista, essa fuga do foco na transgeneridade como cerne da narrativa ajuda a humanizar e aproximar a representação da comunidade trans aos olhos do público: "Estou buscando uma universalidade para os temas centrais de minhas histórias. Alguns dos projetos que estou trabalhando atualmente não têm absolutamente nada a ver com pautas da comunidade LGBTQIAPN+ e isso também tem sido um espaço muito maravilhoso de explorar e crescer como uma artista completa e capaz de contar qualquer tipo de história que me interesse".
O critério de aceitação de trabalhos para Alice, hoje, é se conectar com a história que será desenvolvida, independente do protagonismo da identidade de gênero na narrativa, afinal, como ela afirma: "Antes de uma mulher trans, sou também humana".
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