Diretor polêmico da Globo já foi chamado de genial e abusivo

Há exatos 23 anos, nesta quinta-feira, 26, morria o lendário diretor de telenovelas Walter Avancini, vítima de um câncer de próstata. É inegável que o conhecido diretor de grandes obras da televisão tenha deixado seu legado nas produções brasileiras, porém seu nome esteve envolvido em diversas polêmicas que vão desde a extrema influência para uma nova forma de interpretação, até o ser ou não ser abusivo nos bastidores. Em 37 anos de carreira, Avancini nunca fez questão de esconder que o seu maior objetivo era explorar performances inovadoras e tramas revolucionárias. 

Em entrevista à Contigo! na década de 90, o diretor declarou que “a polêmica é necessária”, ao ser questionado sobre polêmicas envolvendo tramas que traziam sequências de nudez e sexo consideradas gratuítas por algums atrizes, apenas para atrair a atenção do telespectador. 

Em 2023, a atriz Taís Araujo relembrou à revista Piauí, momentos difíceis que passou ao interpretar a protagonista de Xica da Silva, trama dirigita por Walter, pois a personagem era bastante sexualizada e Taís era uma adolescente de apenas 17 anos: “Eu era invisível na Barra da Tijuca, sequer beijei na boca de alguém do condomínio.”, explicou.

Na mesma entrevista, a atriz contou a sua visão sobre o diretor da trama, não poupando elogios quando a sua genialidade, mas ressaltando os abusos sofridos por ela: “O Avancini era genial. Muito do que sei de comprometimento e disciplina, aprendi com ele. Mas era extremamente abusivo.”, revelou.

Taís ainda contou que no segundo dia de gravações, o diretor quase a fez desistir de seguir no elenco, ao falar que era ela “a maior decepção da vida dele”. E relatou que ao completar 18 anos, Walter passou a explorar a sua maioridade, vendendo fotos de Taís nua nos bastidores da novela para veículos de imprensa. “Ninguém me obrigou a fazer essas fotos, mas é claro que eu cedi às pressões.”, ressaltou à Piauí.

Entre os inúmeros sucessos adaptados e dirigidos por Walter estão A Deusa Vencida, em 1965, o enorme sucesso da TV Tupi, Beto Rockfeller, em 1969, Selva de Pedra, em 1972, Gabriela, em 1975, Pai Herói, em 1979, Xica da Silva, em 1996, O Cravo e a Rosa, em 2000 e outras.

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, em 2000, o diretor refletiu sobre a televisão e expressou a sua opinião sobre a relação da obra com o telespectador: "A televisão não deveria apenas estar a reboque de um imediatismo por audiência. Claro que a audiência é o fator principal para a sobrevivência da TV, porque ela é comercial. Mas na busca por audiência os parâmetros foram perdidos."

E completou: "É preciso retomar o conceito de uma televisão que não só vai a reboque, mas que tem também suas obrigações, que propõe discussões estéticas, de conteúdo e de comportamento. O público percebe quando lhe dão algo mais."