Em entrevista à CARAS Brasil, Murilo Sampaio, no ar em Volta por Cima, reflete sobre avanços lentos nas oportunidades para atores pretos na televisão
Bárbara Aguiar e Arthur Pazin Publicado em 08/11/2024, às 19h30
No ar em Volta por Cima, Murilo Sampaio comemora um ano recheado de projetos no cinema, no streaming e a oportunidade de participar de mais uma novela da Globo após dez anos de carreira. Em entrevista à CARAS Brasil, o ator aponta falta de protagonismo preto na TV: "Podemos mais", declara.
Esse ano, o intérprete completa 33 anos e comemora dez do início de sua jornada artística. "Talvez, naquele momento da minha vida, eu estava em busca de saber qual era o meu lugar no sol. O lugar de perspectiva de carreira do Murilo de 22 anos era fazer algo que me tornasse eu. Era se encontrar", relembra.
"Eu não vislumbrava a possibilidade de viver de arte, mas eu queria me entender enquanto pessoa na arte", reflete sobre o começo da carreira. Na época, Murilo finalizava a faculdade de Direito e optou por abandonar a carreira na lei para seguir o novo sonho de ser ator. "Antes era um lugar de sonho, hoje é um lugar concreto", diz.
Além da transformação do sonho em uma carreira possível, Murilo destaca mudanças no cenário artístico como um todo: "Lá em 2015, começava-se a criar uma possibilidade para os artistas nordestinos ocuparem um espaço, mas ela ainda era muito nichada. Era difícil fazer televisão naquela época e não existia o streaming ainda", aponta.
"Hoje as emissoras estão mais abertas, existem plataformas de elenco onde você pode se candidatar. O streaming pulverizou as oportunidades de trabalho. E o próprio cinema também, com os editais e com alguns canais de streaming financiando, pelo menos, a distribuição de filmes", reflete o artista, que destaca um aumento na produção de filmes nacionais nos últimos anos.
Mesma com as conquistas e avanços para o meio artístico, Murilo não hesita em apontar problemas que persistem no audiovisual brasileiro, principalmente na televisão. "A partir do momento que tem mais oportunidade de trabalho, você tem mais horizonte, como as questões das pautas, que são necessárias".
"Hoje se cobra por temas de gênero, por temas LGBT, por ter um elenco nordestino ou ter um elenco preto. Parece que se tornou antiético não ter, e eu concordo. Uma produção totalmente branca, hétera, cisnormativa... Por que reproduzir tantos anos de audiovisual, quando se podem ter mais heterogeneidades?". O intérprete declara os questionamentos como pontos positivos, mas afirma que o cenário, significativamente, não mudou de forma drástica.
"O que não significa dizer que mudou muito, os projetos que têm protagonistas pretos ainda são exceções. Então, o que o grande público que consome televisão está vendo e valora como grande, como bom, ainda são atores brancos. Ainda que tenha esse efeito de protagonismo preto nas novelas, ele é muito recente e incipiente. Acho que a gente pode mais", conclui.
Murilo se orgulha em exibir a versatilidade da carreira. O ator se consagrou para o grande público em séries de ação, como Dom, mas destaca a proximidade com o "cinema de autor", estilo relacionado à intimidade artística do roteirista com sua obra.
"O caminho de ser um ator de ação voluntariamente se abre a partir do momento em que o grande público me conhece como vilão de uma série desse estilo, que foi 'Dom'", diz. "Mas venho do cinema de autor, outro tipo de atuação, de performance, totalmente diferente do que faço nas séries de ação. Onde esse lado de vilão, de escroto, é mais exaltado, onde sou mais chamado para performar", explica.
Além do sucesso da Amazon Prime, Murilo também integra o elenco de Guerreiros do Sol — produção do Globoplay que promete agitar o cenário do streaming em 2025 —, está na segunda temporada da websérie Depois da Meia-Noite e em diversos outros projetos artísticos.
"Costumo dizer que esse ano fiz coisas muito diferentes. Fiz um longa da Letícia Simões, dramático, um audiodrama que vai ser lançado dia 20 de novembro, um curta da Camila Márvola, e a websérie", compartilha o ator, que comemora o ano ativo de trabalho.
Para o futuro, Murilo aguarda com animação o lançamento dos projetos desenvolvidos durante esse ano para o streaming, cinema e outros meios.
"Acho que o que eu mais espero, além de Guerreiros do Sol, que já falei muito, é 'A Vida Secreta dos Meus Três Homens', um filme de Letícia Simões que fiz em Recife, Olinda e Igarassu". O ator também cita, com entusiasmo, o longa O Sino e o audiodrama que permanece em segredo, mas será lançado em breve.
Em Volta por Cima, ele revela que, por enquanto, aparecerá em quatro capítulos da novela (entre o 33 e 38): "Estou ali envolvido na trama central por alguns episódios. Ainda não sei se volto, mas quero muito voltar porque adorei tudo", finaliza.
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