Ex-moradora de comunidade, a cantora batalhou para chegar onde está. Hoje, ela comemora os frutos de sua determinação, como ter uma de suas músicas na trilha do badalado game Just Dance 2017
Como uma espécie de premonição, seu sobrenome já dizia muito sobre seu caminho antes mesmo de ela chegar ao mundo. Nascida e criada na comunidade paulistana de Americanópolis, Daya Luz ainda criança evidenciava o caminho que queria seguir. “Sempre tive o sonho de ser cantora. Ivete Sangalo foi minha grande incentivadora. Quando assistia a seus shows pela TV, sentia sua emoção com a plateia e a cena mexia comigo. Desejava estar no lugar dela, cantar para o meu público e me emocionar como ela”, lembra. Com uma vida modesta, a filha do aposentado Aparecido Francisco e de Joselma Alencar sabia que não poderia contar com recursos financeiros de seus pais para investir em seus sonhos. “Eles nunca tiverem muitas condições para me colocar em aula de canto ou instrumento. Só entrei na aula de dança aos 9 anos, porque tive recomendação médica. Sofria com dores de crescimento e precisava de exercícios físicos”, revela.
Preocupados com o futuro de Daya, Francisco e Joselma tentaram inúmeras vezes fazê-la desistir de seus sonhos. “Meus pais nunca acreditaram que isso seria possível, porque era uma realidade distante da gente. Quando falava que queria ser artista, meu pai dizia: ‘Ô, minha filha, você tem que estudar! Isso de ser cantora não é para você!’”, conta sem mágoas. Com a falta de incentivo, colocou os sonhos na gaveta e seguiu o conselho do pai. Com 13 anos, já entregava panfletos nos semáforos divulgando lançamentos de empreendimentos imobiliários para ajudar na economia da casa. Tempos depois, conseguiu uma vaga de jovem aprendiz em um banco e ingressou na faculdade de Administração, paga com o próprio salário.
Antes de ser descoberta como cantora por um produtor, fez parte do balé do Domingão do Faustão
Sem esconder a paixão pela música e a dança, vivia dando canja para os amigos, até que um dia, um deles a avisou que o balé do programa Domingão do Faustão (Globo) estava abrindo testes. Sem acreditar em seu potencial, não se inscreveu. Uma segunda chance aconteceu e Daya arriscou e foi aprovada. “Nunca corria atrás. As oportunidades sempre chegavam até mim.”
Com 20 anos, saiu de São Paulo, sem ter onde ficar e dependia de favores para ter onde dormir. “Até ser contratada, ficava de galho em galho. Fiquei na comunidade da Cidade de Deus e Rio das Pedras”, diz. Já contratada, conseguiu junto com mais três colegas ter o próprio canto. E mais uma vez as oportunidades bateram à sua porta. Durante os intervalos do balé, gostava de soltar a voz nos corredores dos Estúdios Globo e seu canto chamou a atenção de um produtor. Intuindo um futuro promissor, sugeriu que investisse na música. “Conversei com meu atual marido, na época meu noivo (o empresário e investidor da cantora Alessandro Bonfim), que me apoiou.” Daya pediu demissão do balé e investiu pesado na carreira. Fez aulas de canto, dança, instrumentos, fonoaudiologia e até terapia. “Este também era o sonho do Alessandro. Quando saiu do Recife e chegou ao Rio de Janeiro, queria ser MC, mas não deu certo. Por isso, o meu sonho é o dele também.”
Tendo como inspiração Michael Jackson, Beyoncé e Madonna, a artista ganha espaço no cenário pop
Hora de brilhar
E ela veio mesmo para causar. Em sua primeira música de trabalho, Olha pra Mim, fez um clipe rodado em Hollywood, nos Estados Unidos, e foi dirigida por Neville Page, responsável pelos efeitos visuais de filmes como Avatar e Star Trek. “Foi uma megaprodução com mais de 100 pessoas envolvidas, inclusive bailarinos da Britney Spears. Tive um dia de estrela”, suspira.
Agora, a cantora desfruta de mais um momento especial. Sucesso entre os fãs do game Just Dance – no qual a pessoa segue passos de dança –, ela está na trilha sonora do jogo com a música Te Dominar. Até então, só Ivete Sangalo tinha emplacado uma canção no jogo. Na versão atual, além de Daya, constam astros como Justin Bieber, Beyoncé, Queen e Anitta. “Minha estrada está apenas começando, mas antes da fama e do dinheiro, quero inspirar outras meninas com os mesmos sonhos que os meus a acreditarem que tudo é possível como acreditei”, diz, emocionada. “Também vim da periferia e tive a realidade difícil. Não fui a coitadinha, nunca passei fome, mas vi violência e drogas muito de perto, por isso, quero servir de exemplo.”