Tentando recuperar os valores antigos, Silvia Abravanel mostra sua Escola de Princesas, aberta há dois meses em São Paulo, e rebate críticas de que o lugar seja retrógrado
Tudo cor-de-rosa. No salão de entrada, um sofá e um trono com uma coroa decoram o lugar. A suntuosa mesa da sala de jantar, que imita ouro, está posta para o chá da tarde, com pratinhos de porcelana e talheres dourados. Subindo as escadas, chega-se ao elegante quarto composto de uma cama com dossel — típico móvel usado na Idade Média por reis e rainhas. Há ainda salão de beleza, sala de pintura, sala de jogos e um espaço criado especialmente para a decoração de cupcakes. Pensa que acabou? Em cada parede, lembretes registram os deveres de todas as meninas. “Uma verdadeira princesa mantém a casa impecável” ou “Uma verdadeira princesa sabe esperar pelo seu príncipe”. A sensação é a de mergulhar no universo dos clássicos contos de fadas, mas com uma diferença: ali nada é de brincadeira.
A Escola de Princesas, em São Paulo, é uma filial do empreendimento criado em Uberlândia para meninas de 4 a 15 anos pela psicopedagoga Nathalia de Mesquita, em 2013. Com a ideia de resgatar os bons costumes, a sede paulistana inaugurou recentemente, dois meses atrás, sob uma forte enxurrada de críticas por ser considerada “retrógrada”. Silvia Abravanel, 46 anos, apresentadora do Bom Dia e Cia (SBT) e filha de Silvio Santos, 86, está à frente da unidade. Em entrevista à CONTIGO!, a empresária nos leva a um tour no local e diz que não se abalou com as declarações negativas sobre o empreendimento. Pelo contrário, quer provar que ali não há nada de assustador.
Os pais também podem alugar o espaço da escola
para eventos
O que te motivou a abrir a filial?
A deficiência que eu vejo nas meninas e o pedido de socorro que eu sinto no olhar das mães. Queria trazer mais ternura, mais carinho, amabilidade, docilidade. Eu vi outro dia na internet um vídeo com menininhas de 3 anos dançando um funk promíscuo, não adequado para a idade delas. Não estou metendo pau no funk, pelo amor de Deus, mas isso trouxe muita agressividade ao mundo feminino. As mães precisam resgatar essa aura de princesa, trazer as meninas de volta para o mundo encantado, de lacinho rosa, maria-chiquinha.
Quais são os valores que a escola quer passar para as meninas?
Foi preciso mergulhar no passado, retomar os valores das nossas mães e avós e o que elas aprenderam com as bisavós. Queremos resgatar esses valores antigos, de como se portar à mesa, arrumar a cama, uma mala, ter um guarda-roupa impecável. Queremos ensiná-las a ser uma menina higiênica, educada, saber como falar, como se portar, como tratar bem seus pais, seus avós, seus amigos, respeitar as pessoas mais velhas. Nem isso as meninas sabem mais hoje em dia!
Para 2017, a agenda da escola já está praticamente lotada de eventos particulares
Que tipo de pessoa a escola vai formar?
Não queremos transformar as meninas em seres intocáveis, vestidas sempre de rosa com lacinho, não. A gente quer que elas se tornem uma mulher que pode ser médica, carpinteira ou mesmo dona de casa, por que não? Que ela possa ser até uma vaqueira, se quiser, mas que tenha modos, saiba se portar, saiba falar com educação. Que seja uma mulher bem cuidada, que valorize o companheiro, valorize o casamento.
A escola recebeu muitas críticas em sua abertura. Como você lidou com isso?
Eu adoro críticas, porque me fortalecem, já que eu sempre provo o contrário. Eu convido as pessoas a conhecerem o local antes de criticar justamente para que elas percebam que a escola não é como elas pensam. As pessoas imaginam que vivemos em um castelo com princesas que só se vestem de rosa. Eu quero mostrar às pessoas que vamos ter a princesa, sim, uma menina educada, sim. Mas ela estará pronta para a vida, pronta para encarar um casamento legal, escolher o marido ideal.
O EXÉRCITO DE BONECAS
A Escola de Princesas já tem cerca de 100 alunas e recebeu as primeiras turmas em São Paulo no mês de outubro e funciona de maneira parecida com as antigas escolas de etiqueta, oferecendo cursos como:
Corte e costura
Culinária
Higiene pessoal
Organização pessoal
Etiqueta à mesa
Boas maneiras
Postura corporal
Lavanderia
Educação financeira
Cabelo e maquiagem
Primeiros socorros
Educação sexual
Em aulas semanais,
pela manhã e à tarde ou durante curso de férias,
as meninas concorrem a bolsas e, já matriculadas, aprendem noções de etiqueta, higiene pessoal e culinária
Resgatar valores antigos não vai contra os movimentos de liberdade da mulher?
Gente, para com isso! Meninas podem fazer, sim, o que meninos fazem e continuam sendo femininas. Temos a Marta do futebol aí para provar. Na Olimpíada, vimos várias atletas que continuam sendo lindas mesmo no esporte. Princesas podem usar calça jeans e tênis e continuarem sendo princesas. Quem disse que meninas não podem lutar boxe e continuarem sendo meninas, passar batom? A Ronda Rousey, 29, por exemplo, vai lutar no UFC e está sempre impecável, linda, maravilhosa. Alguém diz que ela não é uma princesa?
Meninos também não precisam aprender esses valores?
Quem sabe no futuro a gente abra uma exceção e coloque uma parte masculina na escola. Os meninos também têm que saber como tratar bem as meninas, ter educação e bons modos. O menino vai ser criado para ser um empresário, ele terá que saber dar uma entrevista, se portar, ainda mais os que vão para fora do país. Hoje em dia, tudo está muito deliberado.
Você também teve aulas de etiqueta com seu pai?
Desde pequena eu tinha que me portar como uma princesa à mesa. Imagine se eu não tivesse noção alguma disso? Ser uma princesa desde cedo me deu uma visão de empresária, a vontade de procurar ser alguém a mais na vida. O meu pai me disse que achava o projeto bonito e bem feito quando decidi abrir a escola. Me apoiou muito. Agradeço a meus pais e tenho certeza de que os pais de agora vão me agradecer!