A atriz não liga de aparecer sem maquiagem na novela global Sol Nascente. Na verdade, ela quer mostrar que a mulher pode brilhar em todas as suas potências
Ficar embaixo d’água para gravar as cenas da caiçara Dora em Sol Nascente (Globo) foi uma superação para Juliana Alves. A atriz carioca de 34 anos é “rata” de praia, mas não sabia nadar. “Estou treinando para melhorar, a minha apneia era curta. Se vejo uma arraia, fico apavorada!”, admite ela, que também sofreu com a temperatura gelada da água durante as gravações na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro. Para dar vida a uma mulher descendente de negros e índios que se sustenta por meio da pesca artesanal, precisou despir-se de qualquer vaidade. Ela fica exposta ao aparecer quase sem maquiagem em cena. “Dora tem uma beleza natural, é brejeira, moleca, me exige mais cuidados. Ela não tem muitos artifícios de beleza.”
Falar sobre essas comunidades com liderança feminina é motivo de orgulho para a atriz. “É lindo ver a mulher na posição de poder, com todas suas potências, resgatando sua cultura e trazendo a força do coletivo”, explica. Uma das referências na vida de Juliana é a própria mãe. “Ela tem força, uma forma de encarar o mundo e uma relação com as pessoas que é muito caiçara. Vendeu um apartamento para ficar mais perto da natureza.”
A atriz sempre lutou para desmistificar e mudar o olhar machista perante as mulheres. “A mulher tem os mesmos direitos e poderes do que os homens. Não vivemos em uma sociedade igualitária e faço coro para todas as feministas que batalham e lutam por isso”, justifica ela, tentando se colocar em uma posição de agente transformadora, até quando está no posto de rainha de bateria da Unidos da Tijuca, no Carnaval. “Não tenho pretensão de ser referência, sei que criticam pela mulher ser vista como objeto de consumo. Mas estou ali experimentando minha cultura, não posso deixar de vivenciar algo pelo qual sou apaixonada com medo de alguém me olhar como objeto. O que posso fazer para transformar isso? Mostrar além do estereótipo.”
O posto de rainha é dela!
Falando da Pura Cadência – nome da bateria da azul e amarelo tijucana –, Juliana vai dominar o posto pela sexta vez em 2017. Com experiência de sobra, nem se incomoda mais com as especulações de que deixaria o tão cobiçado posto. “Falam tanta coisa, sobre tanta gente...”, minimiza a atriz, acrescentando ainda que vive uma estreia a cada ano. “É um momento diferente, com algo em comum: uma sensação de pertencimento, de celebração, de amor. Sou parte da comunidade, não me coloco como rainha nos ensaios, e cada vez quero melhorar. Não posso acreditar em tudo o que as pessoas dizem. Meu pé está sempre no chão.”
Antes da estreia de Sol Nascente, Juliana se submeteu a um check-up total e percebeu a necessidade de fazer uma desintoxicação. “Descobri que viver intoxica (risos). Não fiz nada radical, porque o objetivo é estar com as taxas perfeitas”, afirma a atriz, que não dispensa os exercícios funcionais. Para saber se engordou ou emagreceu, usa uma calça jeans. “Balança engana. Tenho tendência a ganhar massa muscular, pareço ser marombeira, mas não sou.” Dona de poderosos cabelos cacheados, faz muita hidratação e usa a cera nos fios. “Estamos vivendo um momento em que ganhamos uma consciência maior do nosso valor, começamos a nos posicionar mais e as pessoas começaram a perceber que o racismo não é uma ilusão. É bom que se fale ainda.”
Desejo de ser mãe
Como Dora tem como objetivo maior de vida a maternidade, Juliana abre o jogo e confessa que seu relógio biológico já bateu há um tempinho. “Foi o acaso da vida: o trabalho, o namoro que termina... Vivo tranquila, tenho consciência de que, trabalhando com calma, vivendo com serenidade, as coisas vêm em um momento que é seu”, pondera a namorada do diretor Ernani Nunes, 46. Os dois já haviam trabalhado juntos em uma campanha publicitária em 2001. “Quando ele começou a escalar os atores para o seu primeiro longa, inspirado em Sex and the City, lembrou de mim.” A atriz, que adora homens com atitude, deixa escapar ser esta uma das qualidades que a atraiu no amado.
Ao olhar sua trajetória iniciada no corpo de balé do Domingão do Faustão (Globo) e no Big Brother Brasil (Globo, 2003), Juliana analisa seu atual momento. “Passamos muito tempo sonhando e, hoje, posso dizer que realizei um desejo grande que tinha de fazer mais cinema, adoro fazer novela e estou feliz também na vida pessoal. Estou vivendo um dos momentos mais felizes. Lógico que a gente sempre quer mais, quero fazer mais teatro também. O ator é insaciável.”