Luckas Viana e Phelipe de Moura foram vítimas de tráfico humano em Mianmar; jovens aceitaram falsas promessas de emprego
Publicado em 13/02/2025, às 15h08
Os paulistanos Luckas Viana, de 31 anos, e Phelipe de Moura Ferreira, de 26 anos, foram vítimas de tráfico humano em Mianmar, e conseguiram escapar do cativeiro no último domingo (09). Há três meses, os jovens desembarcaram no país após aceitarem falsas promessas de emprego, sendo capturados por uma máfia que aplica golpes cibernéticos.
Luckas e Phelipe foram mantidos reféns por mais de três meses em Mianmar, país localizado no sul da Ásia. Com a ajuda da ONG ‘The Exodos Road’, os brasileiros e outros imigrantes conseguiram fugir do cativeiro, considerado uma “fábrica de golpes online”. Em entrevista ao Metrópoles, Cintia Meirelles, diretora da organização não-governamental no Brasil, esclareceu que os jovens foram atraídos ao país com falsas promessas.
“Ao menos outros oito brasileiros seguem capturados, mas esse número pode ser maior”, ressaltou ela. “Eu quero deixar muito claro, eles são vítimas de tráfico de pessoas. Eles foram enganados com propostas maravilhosas, geralmente são propostas de sonho, de um trabalho maravilhoso, para trabalhar num lugar lindo, com tudo pago, num salário que ninguém ganha no Brasil”, destacou.
As vítimas foram aprisionadas no Triângulo de Ouro, região que faz fronteira com a Tailândia, Laos e Mianmar. Ao chegarem no país, tiveram seus passaportes retidos e foram mantidas em um cativeiro. Lá, jovens de mais de 50 nacionalidades eram forçados a atuar em uma central de golpes cibernéticos.
Durante 15 a 20 horas por dia, os reféns aplicavam crimes online. Os delitos iam desde investimentos fraudados em criptomoedas até golpes em aplicativos de relacionamento.
Em um local com condições extremamente precárias, os presos trabalhavam sob um regime de metas. “Vamos dar um exemplo: US$ 100 mil por semana. Se você não bater a meta, você vai sofrer punições. Quais são elas? Tortura e [extorsão] financeira”, explicou Cintia.
Além disso, as vítimas recebiam multas no dia a dia - que poderiam ser aplicadas, até mesmo, quando demorassem para retornar do banheiro. “Sempre tem multa. No tráfico de pessoas, têm que entender que a multa sempre vai ser impagável. E esse é o mecanismo, como eles aliciam e como eles não liberam as pessoas”, reforçou ela.
Segundo o Itamaraty, Ministério das Relações Exteriores, conversas com os governos locais estão sendo realizadas desde outubro de 2024 na tentativa de resgatar os brasileiros. Apesar disso, Phelipe e Luckas conseguiram fugir apenas neste domingo, ao lado de outros imigrantes.
Na ocasião, as vítimas foram detidas por agentes do DKBA (Exército Democrático Karen Budista), que é um dos exércitos armados da região. Após negociações, foram liberados e incluídos em uma lista de pessoas que serão transferidas para a Tailândia.
Segundo Cintia, os brasileiros foram resgatados e apresentam-se abatidos e machucados. “Todos os aspectos da dignidade humana deles foram violados”, lamentou a diretora da ONG. A partir de agora, devem passar pelo processo de repatriamento para o Brasil em Bangkok, chegando no país em 15 dias.
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