Phelipe Ferreira relata momentos de desespero vividos em cativeiro na Ásia; dois brasileiros foram resgatados de tráfico humano em Mianmar
Publicado em 18/02/2025, às 12h30
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Os paulistanos Luckas Viana, de 31 anos, e Phelipe de Moura Ferreira, de 26 anos, foram vítimas de tráfico humano em Mianmar, na Ásia, e conseguiram escapar do cativeiro há duas semanas. Nesta terça-feira (18), Phelipe relatou, em vídeo publicado em suas redes sociais, que os reféns eram torturados diariamente.
Em vídeo ao vivo realizado no seu perfil do Instagram, Phelipe detalhou o dia a dia no cativeiro, onde passou os últimos três meses. Lá, era obrigado a se passar por uma modelo chinesa e aplicar golpes na internet, por meio de uma plataforma onde os clientes depositavam dinheiro.
“Eles [criminosos] falaram que eu ficaria quatro dias escrevendo o script da modelo que ia usar para aplicar golpes nas pessoas. Todo dia eles torturavam pessoas. Colocavam música muito alta e levavam as pessoas para uma sala do RH, onde elas eram espancadas. Eu tinha meta para bater. A primeira foi de US$ 5 mil e antes da fuga estava em US$ 10 mil”, contou.
Em outubro, Phelipe e Luckas, assim como pelo menos mais oito brasileiros que seguem em cativeiro, desembarcaram em Mianmar após aceitarem falsas ofertas de emprego. Ao chegarem, tiveram seus passaportes retidos e foram levados a um cativeiro, onde eram forçados a trabalhar de 15 a 20 horas por dia.
Em um local com condições extremamente precárias, os reféns eram submetidos a um regime de metas e punições. Durante esse tempo, passaram por torturas físicas e psicológicas, além de extorsão financeira.
Quando as metas não eram atingidas, os reféns recebiam punições que incluíam choques e pauladas com cassetete. “Recebi três punições. A primeira foi fazer 100 agachamentos numa espécie de plataforma que tinha pregos. Depois, tive que fazer 300 agachamentos, e na terceira, 500”, relatou Phelipe.
Phelipe relatou que, constantemente, tinha medo de sofrer as consequências no cativeiro. “Quando eu fecho os olhos para dormir, eu tenho reflexos. Eu ainda consigo imaginar os guardas entrando no quarto”, desabafou.
O jovem descobriu que Luckas, o outro brasileiro, estava no local, mas os dois eram proibidos de interagir. “Me falaram que ele não queria trabalhar e que prenderam ele”, disse. Apesar de não poderem se comunicar, os dois conseguiram elaborar a fuga.
No dia 9 de fevereiro, Phelipe, Luckas e outras vítimas de nacionalidades diferentes conseguiram escapar do cativeiro, com a ajuda da ONG ‘The Exodos Road’. Na ocasião, as vítimas foram detidas por agentes do DKBA (Exército Democrático Karen Budista), que é um dos exércitos armados da região. Após negociações, foram liberados e incluídos em uma lista de pessoas que serão transferidas para a Tailândia.
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