Trama de época da Globo rendeu discussão entre autor da obra e atriz veterana que voltou para televisão após 19 anos afastada de novelas
Publicado em 10/05/2025, às 07h30
Em 10 de maio de 1999, há 26 anos, a Globo estreava Força de um Desejo como sua nova novela das seis. Escrita por Gilberto Braga e Alcides Nogueira, a trama de época foi responsável por tirar a veteranaSônia Bragade seu afastamento de obras televisivas e rendeu bastidores movimentados: a atriz se recusou a gravar cena e brigou com o autor da obra durante sua participação.
De acordo com o jornalista Nilson Xavier, do Teledramaturgia, Força de um Desejo prometia recuperar o prestígio das tramas de época do horário. A produção contava com uma participação especial que chamou atenção desde os primeiros anúncios: Sônia Braga estava de volta às novelas após 19 anos afastada do gênero. Sua última atuação havia sido em Chega Mais, de 1980.
Na trama de Gilberto Braga, Sônia viveu a baronesa Helena Sobral, uma mulher infeliz e vítima de um casamento opressor com Henrique (Reginaldo Faria). Como conta Xavier, em determinado momento, a personagem seria mostrada acordada durante a madrugada devido à bebida. A cena, no entanto, jamais foi ao ar: a atriz se recusou a gravá-la, alegando que não queria associar sua imagem à de uma alcoólatra, mesmo sendo uma personagem de ficção.
A postura irritou profundamente Gilberto Braga, que tentou argumentar. “Sônia, você tá confundindo tudo. Você pode ser contra a bebida e fazer a cena. É uma história. É ficção”, relatou o autor em seu livro. O atrito foi tão intenso que os dois, de acordo com um trecho da biografia de Gilberto, nunca mais se falaram.
Força de um Desejo surgiu da tentativa da Globo de revitalizar o horário das seis com uma novela de época. O último título do gênero havia sido Salomé, em 1991. A proposta, como relembra Xavier, vinha embalada pelo sucesso da minissérie Chiquinha Gonzaga (1999) e contava até com a mesma cidade cenográfica.
Gilberto Braga, autor símbolo das adaptações de romances clássicos nos anos 1970, como Helena, Senhora e Escrava Isaura, foi chamado para a missão. A direção da emissora insistiu para que ele voltasse ao horário das seis, e ele aceitou com uma condição: escrever uma nova história.
A sinopse original, escrita por Alcides Nogueira e inspirada livremente no livro A Mocidade de Trajano, de Visconde de Taunay, havia sido esquecida até ser resgatada por Marcos Paulo. A parceria entre Gilberto e Alcides então nasceu. Ainda houve divergência sobre o nome: Amor Perfeito foi o primeiro título cogitado. Gilberto queria Inocentes, Alcides preferia Juventude. Venceu Força de um Desejo, escolha de Daniel Filho.
Apesar do investimento, a novela teve média de 24,4 pontos no Ibope da Grande São Paulo — a mais baixa do horário nas décadas de 1990. Ainda assim, Força de um Desejo não foi considerada um fracasso.
Daniel Filho afirmou que foi um trabalho “muito bem feito, muito bem representado”. Gilberto Braga acreditava que o tom requintado, inspirado no épico O Leopardo, de Luchino Visconti, talvez fosse sofisticado demais para a faixa. A crítica reconheceu a qualidade técnica da produção e o apuro visual da direção de Luiz Fernando Carvalho.
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