História inusitada com Dercy Gonçalves marcou bastidores de novela que foi o primeiro grande sucesso da teledramaturgia brasileira
Publicado em 07/12/2024, às 07h30
Em 7 de dezembro de 1964, há 60 anos, a TV Tupi estreava O Direito de Nascer, novela que foi o primeiro grande sucesso nacional no ramo televisivo. A trama foi uma adaptação de folhetim cubano de mesmo nome e exigiu uma verdadeira força tarefa para sair do papel: Boni, então diretor da TV Rio, pediu ajuda de Dercy Gonçalves, que levou dinheiro em casaco para comprar direito da novela no exterior.
Em entrevista a Washington Olivetto, Boni revelou detalhes da história por trás da aquisição de O Direito de Nascer. O diretor contou que, na época, a emissora não tinha o dinheiro solicitado pelo ator da novela considerando os impostos pela obra. A alternativa era entregar o dinheiro em mãos, sem que houvesse transferência por meio de instituições. Com poucos recursos financeiros, Boni aceitou a ideia ousada e reuniu 5 mil dólares, metade do valor inicialmente estipulado.
Para fazer a viagem com o dinheiro do Brasil para o México, Boni contou com a ajuda de Dercy Gonçalves. “O Walter [Clark] pegou 2.500, eu peguei 2.500, demos os 5 mil na mão da Dercy, e ela foi para o México”, compartilhou.
Dercy conseguiu fazer a viagem com o dinheiro costurado em seu casaco, mas ao chegar em solo estrangeiro, entrou em contato para avisar a Boni que havia sido roubada e perdido os 5 mil dólares. O diretor logo desconfiou do então namorado da atriz, única pessoa que a acompanhava na viagem: "Dercy, você tem um namorado. Ele sabe que você tem 5 mil dólares. Você tem um namorado e é um pilantra. Procura o dinheiro que está em algum lugar”, narrou Boni sobre sua reação.
“Demorou meia hora, estava na barra da calça do safado", contou de bom humor. Com o dinheiro recuperado, Dercy pagou o representante do autor, adquiriu os textos originais para a adaptação e voltou ao Brasil.
O Direito de Nascer logo se tornou um fenômeno. O texto, adaptado por Teixeira Filho e Cassiano Gabus Mendes, abordava temas polêmicos para a época, como maternidade fora do casamento e aborto, conquistando o público com seu drama emocional.
“A TV Record de São Paulo não se interessou por O Direito de Nascer, mas Cassiano Gabus Mendes, diretor da TV Tupi, aceitou produzir a novela para exibição em todo o Brasil, deixando a praça carioca para a TV Rio”, explicou Daniel Filho em seu livro O Circo Eletrônico.
Produzida pela TV Tupi de São Paulo e exibida pela TV Rio no Rio de Janeiro, a trama quebrou barreiras. O último capítulo reuniu multidões em celebrações no Ibirapuera, Maracanãzinho e no Mineirão, em eventos com desfiles e shows que consolidaram o impacto da novela.
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