Autor de trama da Globo barrou divulgação semanal de resumos da novela para preservar mistério do folhetim e criou climão com a imprensa
Publicado em 13/03/2025, às 14h59
Em 13 de março de 1995, há 30 anos, a Globo estreava A Próxima Vítima como sua nova novela das oito. Escrita por Sílvio de Abreu, a trama recheada de suspense e mistérios travou uma guerra com a imprensa, acostumada a revelar os próximos momentos marcantes dos folhetins televisivos. Para evitar os vazamentos e enganar os jornais, o final da novela foi gravado no dia da exibição do último capítulo.
Como relembra o jornalista Nilson Xavier, do Teledramaturgia, a novela A Próxima Vítima paralisou o Brasil com seu suspense envolvente e reviravoltas inesperadas. O texto de Silvio de Abreu inovou ao transformar cada personagem em um suspeito e manter o público intrigado até o último minuto. Para evitar que o grande mistério vazasse antes da hora, o desfecho foi gravado no mesmo dia de sua exibição, impedindo qualquer chance de spoilers.
Xavier destaca que Silvio de Abreu foi além de uma trama policial tradicional e construiu uma história onde cada morte desencadeava novas dúvidas. A identidade do assassino era apenas um dos mistérios da história, o que realmente cativou o público foi descobrir quem seria a próxima vítima — um segredo guardado a sete chaves.
Para isso, a produção gravou várias cenas falsas e distribuiu roteiros codificados, em que apenas o diretor conseguia decifrar a ordem real dos acontecimentos. O elenco, igualmente mantido no escuro, filmava sequências sem saber a conexão exata entre os eventos, aumentando a tensão dos próprios atores. O resultado foi uma novela que manteve o público engajado e desafiou o costume da imprensa de antecipar os próximos desdobramentos dos folhetins.
O Teledramaturgia resgata a trajetória da Globo para o grande final da novela, que aconteceu na noite de 3 de novembro de 1995. Com uma estratégia digna de filme de espionagem, as últimas cenas foram gravadas apenas uma hora e meia antes da exibição, impossibilitando qualquer vazamento. O Brasil inteiro parou para descobrir a verdade: Adalberto (Cecil Thiré) era o assassino, e suas vítimas estavam conectadas por um evento do passado.
A estratégia deu certo. Com audiências que chegaram a 64 pontos no Ibope da Grande São Paulo, o último capítulo foi um dos mais assistidos da história das novelas.
A Próxima Vítima não apenas inovou na forma de contar histórias na TV, mas também redefiniu a relação entre novela e imprensa. A produção chegou a vender a trama para mais de 20 países, incluindo Cuba, Estados Unidos e Rússia, onde também se tornou um fenômeno. Para garantir uma distribuição internacional sem spoilers, a Globo gravou um final alternativo no qual outro personagem, Ulisses (Otávio Augusto), assumia o papel de serial killer.
Leia também: Novela da Globo protagonizada por Sandy virou alvo de grupos religiosos há 24 anos