Enredo misturava realidade da vida rural com elementos supersticiosos e, devido à boa audiência, foi reaproveitado em outra novela da Globo
Bárbara Aguiar, sob a supervisão de Arthur Pazin Publicado em 23/08/2024, às 07h30
Em 23 de agosto de 1982, Paraíso estreava na Globo como a nova novela do renomado autor Benedito Ruy Barbosa e se apoiava no enredo romântico entre o "filho do diabo" e a "santinha" para bater de frente com programas de sucesso do SBT.
A trama de Paraíso focava na vida rural e apresentava, também, certo contexto político ao colocar agricultores mais humildes e grandes proprietários de terras como personagens. Uma pesquisa do jornalista Nilson Xavier, do site Teledramaturgia, mostra que a novela chegou a criticar uma campanha do então presidente João Figueiredo, que na época buscava incentivar a agricultura com o slogan “Plante que o João garante”.
O apelo ao sobrenatural com o enredo do diabo na garrafa, que, segundo o povo da cidade de Paraíso, conferia poderes únicos ao coronel Eleutério (Cláudio Corrêa e Castro), se deu pela necessidade da Globo em combater a popularidade dos programas do SBT.
Em entrevista ao Folha de S.Paulo, o autor explicou como surgiu a ideia da novela: “O SBT tinha um programa [O Povo na TV] em que valia tudo. Padre benzia e as pessoas colocavam em cima dos aparelhos de TV um copo d’água e bebiam depois, para curar até câncer".
Benedito afirmou que esse tipo de conteúdo começou a dar muita audiência para a concorrente e o superintendente da Globo, Boni, o chamou para ajudar a resolver a questão. "Eu falei: ‘Me deixa pensar um pouco'. Depois, fui falar com ele e disse: ‘O SBT está botando água em cima da televisão e falando que a água é benta por Nossa Senhora […]. Acho que, para combater aquela ave-maria, só mesmo um casamento do filho do diabo com a santinha’. E o Boni: ‘Está aprovada!'”
O sucesso de Paraíso foi tanto que o autor voltou a usar o gancho do diabinho em Renascer, novela de 1993, onde o coronel do cacau José Inocêncio (Antônio Fagundes) possuía a mesma garrafa com o diabo. Além de inspirar outra obra de sucesso, Paraíso também ganhou um remake em 2009, com o texto atualizado por Edmara e Edilene Barbosa, filhas de Benedito.
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