Vera Fischer viveu mocinha apaixonada por Tarcísio Meira em Coração Alado - Reprodução/Globo
TRAMA PESADA

Globo exibiu novela no Fantástico para tentar decolar ibope há 44 anos: 'Quebrei a cara'

Autora construiu trama densa que não fisgou público do horário das oito e Globo exibiu resumo de capítulos depois do Fantástico para reverter fiasco

Bárbara Aguiar, sob a supervisão de Arthur Pazin Publicado em 12/08/2024, às 15h26

Em 11 de agosto de 1980, Coração Alado, da renomada autora Janete Clair estreava como nova novela das oito da Globo. A trama construída por Janete era densa, pesada e com excesso de infelicidade para a mocinha Vivian, interpretada por Vera Fischer, o que afastou o público e fez Coração Alado enfrentar problemas para conquistar audiência.

Para reverter o cenário desanimador do ibope, a emissora decidiu exibir um compilado dos primeiros 50 capítulos da novela após o Fantástico, com o objetivo de fisgar os telespectadores que não conseguiram se conectar com a história. 

Na biografia de Janete Clair, o escritor e jornalista Artur Xexéo afirmou: "A novela era depressiva, com poucas gravações externas, e um texto puxado para o melodrama que não se encaixava mais no horário das oito". O diretor da obra, Paulo Ubiratan, compartilhou pensamento semelhante em 1988, quando deu uma entrevista ao Jornal do Brasil: "A Janete Clair é pesadona e se você não suaviza luzes, cores e cenários, a novela fica triste. (…) quebrei a cara em Coração Alado, uma novela triste…", revelou.

Na trama, o destino de Vivian foi marcado por um relacionamento cheio de idas e vindas com Juca Pitanga — protagonista de Tarcísio Meira que tinha um caráter duvidoso —, por assédios e um estupro pelo cunhado Leandro, vivido por Ney Latorraca.

Mesmo com críticas e censura, Janete escolheu seguir com a narrativa e chocou o público com a cena de estupro no capítulo 40, exibida no dia 25/09/1980. No livro Muito Além do Script, Ney Latorraca comentou sobre a sequência delicada que, de acordo com ele, foi refeita várias vezes: "Não foi um ataque de estrelismo, mas naquele momento, Vera [Fischer] e eu pedimos por favor para que os estranhos à gravação saíssem do estúdio (…) A cena teve que ser refeita várias vezes por Vera ser muito forte e eu, no auge de minha magreza, não conseguia derrubá-la, até inventarem um artifício para facilitar as coisas. Eu dava um remedinho para ela, a personagem ficava meio grogue, e aí dava para gravar a cena do estupro".

Quanto às críticas à seriedade e temas pesados retratados na trama, Janete Clair demonstrou revolta ao declarar que não compreendia como um retrato de situações reais poderia afetar tanto o público através de uma novela, já que tais assuntos eram noticiados com frequência na TV. "A mesma rádio que fala mal de Coração Alado num programa, logo depois apresenta seu noticiário local mostrando as maiores barbaridades. Acho uma incoerência que a ficção agrida mais que a realidade”, afirmou à revista Amiga em dezembro de 1980.

Globo Janete Clair Coração Alado

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