Betty Faria viveu a indomável Tieta em seu retorno ao agreste - Reprodução/Globo
Sucesso!

Novela da Globo cutucou ditadura e arrumou treta com a Igreja há 35 anos

Adaptação de romance de Jorge Amado pela Globo marcou a volta da liberdade de expressão nas telenovelas brasileiras e debateu polêmicas

Bárbara Aguiar, sob a supervisão de Arthur Pazin Publicado em 14/08/2024, às 16h39

Em um dia como esse, mas em 1989, a TV Globo estreava Tieta como sua nova novela das oito. A trama foi uma adaptação livre do romance Tieta do Agreste, de Jorge Amado, publicado em 1977. Escrita pelo trio Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares, Tieta ofereceu ao público momentos memoráveis e tocou em temas sensíveis para o Brasil pós-ditadura.

A crítica à ditadura foi feita através de uma metáfora logo no primeiro capítulo da novela, quando a jovem Tieta, interpretada por Cláudia Ohana na primeira fase, é expulsa de casa pelo pai, Zé Esteves (Sebastião Vasconcelos). 

Na sequência, depois que volta para a casa, Zé Esteves arranca a página do dia no calendário e diz: “Faz de conta que esse dia nunca existiu!”. A data marcada na folha era 13 de dezembro de 1968, mesmo dia em que, fora da ficção, o governo do Regime Militar promulgou o AI-5 (Ato Institucional Nº 5), medida conhecida por endurecer a repressão sobre o povo e os opositores do regime.

Além da mensagem contra o regime totalitário, a novela também abordou temas polêmicos que resultaram em problemas com a Justiça e com a Igreja Católica. A relação amorosa entre Tieta — na fase adulta vivida por Betty Faria — e Ricardo (Cássio Gabus Mendes), que eram tia e sobrinho, foi enquadrada como um caso de incesto e muito criticada no âmbito religioso e jurídico.

Os autores de Tieta também aproveitaram a trama para trazer o assunto pedofilia à tona, mas de uma forma que não chocasse tanto o público. O personagem de Ary Fontoura, coronel Artur da Tapitanga, seduzia menores de idade, apelidadas de "rolinhas", com a oferta de um lar, alimentação e alfabetização.

A obra não exibiu nenhuma cena de abuso, mas dava a entender que o coronel aproveitava o momento de fragilidade para molestar as vítimas. A única personagem que conseguiu escapar da artinha foi Maria Imaculada (Luciana Braga), indomável que se recusou a ceder às vontades do velho.

No fim das contas, mesmo com as críticas e abordagens de assuntos que, para alguns, eram considerados controversos, Tieta foi um grande sucesso e marcou a história da teledramaturgia brasileira. 

As dunas de Mangue Seco, no litoral da Bahia, que tiveram paisagens que serviram como cenários da novela, ganharam repercussão e o povoado virou ponto turístico. Além disso, o disco com a trilha sonora da obra foi um sucesso — vendeu 1.100.097 cópias, o que o colocou na nona posição entre as trilhas de novelas mais vendidas da história.

Novelas Globo Tieta

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