Ex-ator da Globo lamenta escalação de influencer em novelas: "Confundindo lé com cré"

Nos últimos anos, as produções brasileiras apresentaram uma nova movimentação e mudança na dinâmica de escalação de elenco: a presença de influenciadores digitais. A nova proposta tem incomodado os atores veteranos, que viram seus anos de dedicação e estudos serem trocados por número de seguidores. Com 26 anos de carreira e inúmeras trabalhos no currículo, Marcelo Brou também tenta entender os motivos para tamanha reviravolta. À coluna, ele admitiu que sente vergonha em ver personalidades da internet ocupando o local de grandes nomes do meio artístico.

"Eu acho que é uma pena, eu acho que a televisão é um lugar que tem espaço para todo mundo, assim como o teatro, assim como o cinema (...) Se na vida tem todo tipo de pessoa, eu acho que a novela e o teatro também têm que retratar a vida (...) A Glória Perez é uma autora que sempre leva a uma discussão em que a gente possa ajudar um pouco a sociedade (...) Então assim, isso é muito bacana quando a novela tem uma repercussão maior do que só é passar na casa das pessoas, mas quando ela tem uma campanha que vem por trás dela para melhorar as coisas para um certo grupo de pessoas", iniciou.

"Mas eu não tenho como comparar uma novela onde você tem Tony Ramos, Susana Vieira, Cristiane Torloni, Antonio Fagundes, Malu Mader, Marcos Palmeira, Sophie Charlotte, Débora Falabella, quando a gente vai pegar uma galera que não é ator, mas que ela atende ao que o público hoje em dia quer, que é o público de internet. Então, eu acho que a televisão está confundindo lé com cré. Sabe aquela expressão? Ela está confundindo o ator com o blogueiro, com a celebridade, com a celebridade instantânea", acrescentou.

Nos últimos meses essa discussão ganhou ainda mais peso após a participação de Jade Picon em Travessia, novela em que Marcelo Brou viveu Acácio, motorista de Chay Suede. A ex-participante do BBB ganhou espaço na produção após participar do reality show e foi duramente criticada pela falta de formação e talento. Thammy Miranda e Rafa Kalimann são outros exemplos de celebridades da internet que foram colocadas em novelas brasileiras e derraparam fortemente.

"Eu acho que é uma pena que a televisão esteja trocando os atores veteranos por pessoas que não têm a formação de ator. Eu acho que é o mesmo que você pegar uma pessoa que não é médica e colocar ela para fazer cirurgias. É o mesmo que você pegar uma pessoa que não é um engenheiro civil para construir prédios. Eu acho que é você pegar uma pessoa que não é professor de educação física para dar aula na academia. Então, assim, as pessoas estão entrando em nichos que não pertencem a elas", concluiu.

Marcelo Brou participou de inúmeras produções brasileiras, como Hilda Furacão (1998), Pecado Capital (1998), Andando nas Nuvens (1999), O Clone (2001), América (2005), Bicho do Mato (2006), A Turma do Didi (2008), Caminho das Índias (2009), Fina Estampa (2011) e Travessia (2023). Além disso, também acumula títulos no teatro e cinema.

Atualmente, ele está em cartaz com a montagem brasileira de O Segredo de Brokeback Mountain, no Rio de Janeiro. Foi Marcelo, inclusive, que comprou os direitos autorais do espetáculo para trazê-lo ao Brasil, logo após sua participação na novela Travessia.

"Fui assistir e saí super emocionado (...) E eu fui atrás dos direitos, correr atrás. Eu lembro que saí da peça, liguei para o diretor Moacyr Góes aqui no Brasil e falei com ele: 'Moacir, cara, acabei de assistir uma peça linda no teatro, nunca soube da existência, você dirige?' Ele falou: 'Dirijo'. Então, assim, eu tinha que ter os direitos dessa peça, sabe? Foi muito bom assim, deu tudo certo", relembrou.