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Cinema / ENTREVISTA

Caio Macedo elege filme como seu trabalho mais potente: ‘Passava pelo luto’

Em entrevista à Contigo!, o ator Caio Macedo revisita projetos, fala sobre carreira e conta momento marcante de Ruas da Glória

O ator Caio Macedo - Foto: Studio 74
O ator Caio Macedo - Foto: Studio 74

Após a estreia de Ruas da Glória, segundo longa-metragem do diretor Felipe Sholl, o ator Caio Macedo elegeu o filme como um dos trabalhos mais impactantes de sua carreira. Em entrevista à Contigo!, o ator, que se prepara para o lançamento de Prédio Vazio, com direção de Rodrigo Aragão, fala sobre carreira e momentos marcantes da profissão.

Leia a entrevista na íntegra 

Ser ator 

"Minha mãe é poetisa, tinha uma família de músicos e de poetas, então sempre tive contato com a arte desde muito criança, de forma muito natural. Eu sempre fui artista, acho que sempre fiz arte e isso não foi uma decisão que chegou pra mim em algum momento, isto é, sempre aconteceu comigo desde criança e foi realmente um desenvolvimento muito natural, principalmente nas artes plásticas, porque era o mais usual em minha cidade. Eu sempre soube que isso ia acontecer, porque estava muito em mim e se eu perguntasse para a minha família na época, me diriam que eu ia ser artista, porque era algo que já estava além da minha cara, sabe?"

Gosto por horror 

"Eu acho que o que mais me atrai neste tipo de projeto, que é o mais desafiante enquanto performance e efeitos práticos, é realmente o desafio, ou seja, é você sair de uma zona de conforto e se explorar em lugares que talvez não sejam tão comuns em nosso cinema. Por outro lado, agora esse gênero tem crescido muito e vemos cada vez mais produções que se debruçam sobre o cinema de gênero, mas o cinema brasileiro ainda é famoso pelo cinema político ultra-realista. Acho que o horror é uma válvula muito importante para esse tipo de posicionamento crítico. Então, quando vejo um projeto que já tem uma característica difícil, e além disso, que me tira da zona de conforto e me oferece um tipo de espelho social que faça refletir sobre algum aspecto específico, isso torna o projeto ainda mais interessante."

Pedágio, de Carolina Markowvicz

"O “Pedágio” foi um dos filhos mais bem-sucedidos da Carol Markowvicz, né? A gente brinca muito falando disso. Foi uma experiência completa, desde a filmagem até a estreia. Conhecer a Maeve, o Tomás Aquino e todos os outros atores que eu já admirava foi uma experiência incrível. A estreia foi muito bem recebida, estreamos no Festival de Toronto, depois em São Sebastião, estreamos no Brasil pelo Festival do Rio. Além disso, neste ano ganhamos a tríade principal do Granatello, que é Melhor filme, melhor roteiro e melhor direção. Isso foi um resultado de um esforço imenso, colhendo os frutos, assim, de grande investimento de trabalho."

"Vejo que Pedágio é um filme muito inteligente, porque foca em muitas questões sociais pertinentes deste tempo de forma muito original. Ao mesmo tempo que ele é um drama muito pesado e muito denso, a Carol também conseguiu criar uma atmosfera de uma comédia obscura ali, conseguindo explorar o ridículo e o absurdo da nossa sociedade."

Ruas da Glória, de Felipe Sholl

"Ruas da Glória foi um dos maiores desafios que eu encarei em meu trabalho como ator, foi com certeza o mergulho mais profundo que fiz em uma personagem. Vejo que o filme representa para mim uma transformação e um amadurecimento de carreira, fazendo com que eu triplicasse, quadruplicasse a minha experiência de performance, revivendo traumas e lembranças."

"O ator é o atleta do coração, né? A gente tem a nossa biologia, a nossa história, nossos sentimentos como válvula principal do nosso trabalho e, pensando nisso, o Ruas da Glória me fez reviver toda minha trajetória, tendo sido um processo muito terapêutico. Eu só tenho a agradecer a todo mundo que fez parte desse processo, porque não conseguiria interpretar este papel se não tivesse uma equipe tão empática perto de mim."

Filme mais marcante 

"O Ruas da Glória foi algo que realmente me marcou muito, principalmente porque ele misturou em mim vida real e ficção. No começo do processo, ainda no início do laboratório dos ensaios, eu perdi o meu pai, que foi um baque assim em minha vida e, paralelo a isso, eu interpretei um personagem que também passava pelo luto. O Gabriel, o personagem que eu interpreto, perde a avó, isso o motiva a ir para o Rio de Janeiro, e eu passei exatamente pela mesma situação, me mudando de cidade para rodar esse filme e o meu pai falece."

"Com isso, vivenciei a construção de uma narrativa sobre o meu passado, que poderia ajudar a construção do Gabriel. Então, eu emprestei a minha dor para ele e isso fez com que eu deslocasse as minhas questões para as questões do personagem, e a questão do personagem propriamente dita para as minhas questões. Tudo estava muito misturado e às vezes era difícil saber onde terminava o Caio, onde iniciava o Gabriel."

"Ao mesmo tempo, sinto que eu estava muito bem acolhido e principalmente o Felipe, o diretor, que estava muito próximo de mim durante esse processo. Ele soube de tudo, recebeu todas essas mensagens que eu estava dando, essa troca, que estava sendo difícil para eu assimilar tudo, e ele conseguiu direcionar esse percurso de uma forma que eu consegui lidar, e isso foi muito importante. Além disso, no final do processo passei por uma overdose emocional e tudo foi muito marcante."

Experiência com o Gabriel, personagem viciado em drogras

"O Laboratório de Gabriel se deu de várias formas. Se deu através de visita a lugares de prostituição na cidade do Rio de Janeiro e com entrevistas com vários tipos de garotos de programas e laboratórios, onde eu me experienciava naquela situação, desde garotos que ficavam realmente na rua e faziam trabalhos com as pessoas que apareciam lá, até garotos de luxo que atendiam empresários na Europa e que tinham uma vida muito privilegiada em cima dessa profissão. Isso me fez quebrar muitos preconceitos que eu tinha em relação a essa profissão, porque inconscientemente a gente estigmatiza muito, sendo que o filme foi muito feliz em sua principal intenção de quebrar vários preconceitos."

"Durante todo esse processo, a cocaína fictícia, o extrato de lactose, já estava presente, foi algo que eu quis, já desde a preparação, ver como era aquela questão. Então, desde o laboratório, eu fingia que eu estava usando aquilo de forma real, que era uma droga real e isso foi me ajudando a perceber esses estados de consciência e inconsciência."

Série Lama dos Dias 

"Gravar o Lama dos Dias foi uma das experiências mais divertidas que eu já fiz. Primeiro que voltei a gravar em Recife, no Nordeste, além de ter encontrado pessoas que estudei na faculdade, meus amigos, estavam todos lá, principalmente pra falar sobre o Manguebeat, que é algo de muito orgulho no Recife e fez parte de toda a minha formação como ator e como artista."

"Até hoje, durante os meus estudos e os meus exercícios de concentração, eu uso as danças populares, maracatu, cavalo marinho e frevo. Desde a minha infância com a poesia popular, até a minha chegada em Recife para estudar teatro, uso estas manifestações folclóricas de lá."

Segunda temporada 

"Na segunda temporada de Lama dos Dias, há um foco maior na construção do cinema nesse movimento e esses jovens na ficção fazem um filme quase sem nada ali, de forma muito improvisada, se tornando uma série muito engraçada e ao mesmo tempo muito inovadora, porque eles conseguem fazer esse filme. Isso é muito real para a cena do Recife daquela época e a cena atual também e atualmente a região é referência no cinema mundial e na música mundial, pela criatividade e pela insistência das pessoas em querer fazer arte naquele lugar."

Personagem que sonha interpretar

"Entre o cinema, novela e séries, são linguagens tão diferentes, estéticas tão diferentes que eu não consigo dizer qual prefiro mais, porque seria praticamente comparar quadros de arte diferentes. Eu tenho uma grande paixão pelo cinema porque foi essa área que me abraçou e me deu um empurrão para a minha carreira, e talvez seja das artes, além do audiovisual, a mais livre enquanto crítica social."

"Além disso, tenho muito vontade de me experienciar mais, por exemplo, na novela, que é uma obra que você tem um contato direto com o público e você tem a resposta imediata enquanto você está gravando. Quero sentir muito mais esse lugar do ator de novela, porque vejo que esse reconhecimento do público e o carinho e até a construção da novela, paralela à construção do autor, ela é muito fiel, o público dá muito incentivo para o ator desenvolver a novela e os personagens, e eu acho que isso é o grande ponto de estar em um folhetim."

O que está por vir 

"Logo depois da estreia do Ruas da Glória, há também a estreia de Prédio Vazio, outro longa-metragem, também dirigido pelo Rodrigo Aragão, dentro de um cinema de horror e de comédia, sendo um horrir. Eu sou um dos pares de um casal de jovens que fica preso em um condomínio que guarda um segredo muito obscuro e esses dois jovens estão ali para resolvê-lo É um filme que tem um grande apelo visual, tem altos efeitos especiais, além de ter sido muito responsável por criar trabalhadores do audiovisual, principalmente sobre os efeitos práticos. Eu ainda não vi esse filme, tô doido pra saber onde é que ele vai estrear, mas sei que ele é a próxima grande estreia que tá pra vir."