Protagonista no filme De Onde Eu Te Vejo, ela fala que adora ouvir o barulho da chave na porta de casa quando é seu marido, Luiz Villaça
O entusiasmo de Denise Fraga é contagiante, assim como o aroma de patchuli, o perfume que usa religiosamente. Em seu escritório, localizado no bairro de Higienópolis, em São Paulo, a atriz fala animadamente sobre as “coisas da vida”, como o trabalho, os filhos, Pedro e Nino, e o marido, o diretor Luiz Villaça. Agora, imagine quando ela consegue juntar todos esses assuntos em uma mesma conversa? Para ela, é o paraíso! Isso virou realidade nos últimos tempos com o lançamento do filme De Onde Eu Te Vejo, que entra em cartaz nos cinemas no início de abril e foi praticamente feito em família. “Eu acompanho esse projeto desde quando ele estava em uma folha em branco. A direção é do Luiz e, em casa, eu o vi criar os personagens, desenvolver os trejeitos deles e as histórias por trás desse casal, que, pra mim, já são velhos conhecidos. A ideia foi amadurecendo ao longo de quase cinco anos. E eu estava lá vendo tudo de perto”, relembra.
No longa, Denise interpreta Ana Lúcia, uma arquiteta carioca que está em processo de separação do companheiro de 20 anos, o jornalista Fábio, feito por Domingos Montagner, com quem tem Manu, representada por Manoela Aliperti. O ex-marido então se muda para um prédio em frente, o que dá o tom engraçado da história, que ainda tem Marisa Orth, Laura Cardoso e Fúlvio Stefanini no elenco. “O jeito da Ana é bem parecido com o meu, só não sou tão mística quanto ela e estou muito bem casada (risos)! Fiquei um pouco receosa para compor esse papel, porque temos muitas coisas em comum. Somos duas cariocas que escolheram São Paulo como moradia, que são mães de adolescentes e que amam seus maridos, apesar da rotina apertada. Não é um filme autobiográfico, mas, com certeza, tem elementos parecidos comigo.” As semelhanças vão além do quesito personalidade, já que os dois prédios que foram usados durante as filmagens são vizinhos ao de Denise, sendo um deles o famoso Edifício Louveira, do arquiteto João Batista Vilanova Artigas (1915-1985), pai da chamada Escola Paulista dentro da arquitetura moderna brasileira. “Buscamos muitos endereços pela cidade, mas acabamos achando esses na rua de casa. Não tem como não se apaixonar pela arquitetura do Artigas, tenho o privilégio de ver esse prédio todos os dias. Adoro o paralelo que o roteiro do filme faz entre a história do casal com a cidade de São Paulo. Essa ideia de olhar pela janela, de observar as coisas de longe, amplia os horizontes, faz a gente pensar muito sobre a nossa vida. É uma comédia romântica com um toque a mais de realidade”, diz.
SÍNDROME DO NINHO VAZIO
No filme, Ana leva a filha, Manoela, para estudar em uma universidade em Botucatu, cidade do interior de São Paulo, e precisa lidar com a ausência da adolescente durante o processo de separação. A realidade é tanta que o papel de protagonista serviu como um “treino” para uma nova etapa de sua vida, já que Pedro e Nino estão na fase de pensar em ir para a faculdade. E é nesse momento que o ânimo da atriz, rapidamente, dá lugar a uma versão “mãe preocupada”. “A cena em que ela volta da cidade, sem a menina no carro, e começa a chorar, foi muito marcante para mim. A gente sabe que filho dá trabalho e, quando eles crescem, você não pode mais pegar pelo braço e pedir para não fazer. É o ditado: filho criado, trabalho dobrado. O Pedro já está na fase dos vestibulares e acho que comecei a sentir a síndrome do ninho vazio. Se Deus quiser, eles vão ficar em São Paulo, estou orando para os céus, tenho medo de os dois saírem de casa. Eu brinco, os dois sabem disso. Quero que eles sejam felizes com as escolhas deles. Acho que a Ana foi uma espécie de preparação pra esta nova fase da minha vida, pois os papéis não vêm por acaso”, resume.
Denise e, ao fundo, o Edifício Louveira
Denise afirma que trabalhar ao lado do marido na vida real não gera problemas em casa. “Eu e ele nos conhecemos trabalhando e acho que a gente conseguiu criar um código de conduta para aliar, da melhor forma possível, trabalho e vida pessoal. Somos companheiros em tudo! Às vezes, brincamos de ‘Vaca Amarela’, pra não falar de trabalho em casa, pois é algo muito natural e não percebemos quando estamos exagerando. Costumo dizer que quem nos contrata, não paga as nossas horas extras (risos)! Mas conseguimos dar um jeito de equilibrar tudo”, afirma ela, que está casada há 20 anos com Luiz. “Eu amo meu marido e passar quase todo meu tempo ao lado dele é um barato. Digo que o amor deve ser comparado ao barulho de uma chave abrindo uma porta. Quando acontece, qual é a sua reação? É de felicidade ou desânimo? O meu é sempre o primeiro!”, conta.
Este ano, no entanto, a próxima parceria artística do casal terá que esperar um pouco. Após 16 anos longe das novelas, Denise voltará a atuar no horário nobre. Desta vez, na trama de Maria Adelaide Amaral, e Vincent Villari — que teve estreia adiada por causa da temática política, que bateria de frente com eleições e a legislação proíbe o assunto na TV. “Vou fazer uma pequena participação na primeira fase da novela. Estava com saudade desse ritmo maluco de gravações. Depois, pretendo rodar o país até agosto com minha peça Galileu Galilei, que ajudei a adaptar. É um ritmo intenso, mas me faz feliz demais!”, comemora ela, que, na novela, será mãe de Isabelle Drummond, que depois será vivida por Cláudia Abreu.