Em entrevista para a CONTIGO! Novelas, Drica Moraes abre o jogo sobre ser mãe de filho único e se compara com sua personagem em ‘Travessia’
Intérprete da Núbia em Travessia, Drica Moraes torce para que o dilema da personagem, que sonha em ficar rica com o filho, faça o público refletir. Mãe de Mateus na vida real, a atriz ainda admite que é superprotetora com o herdeiro e que extravasa a possessividade em cena.
“Morrendo! Estava com saudade porque novela tem uma dinâmica ágil. As séries são muitos planos para cada cena e a novela tem uma agilidade que me seduz, me encanta. Fora encontrar velhos amigos, como o Maurinho (Mauro Mendonça Filho, diretor artístico de Travessia), essa equipe, conhecer a Gloria Perez (autora da novela), que está sendo um prazer. E, estar no Maranhão, nesse núcleo, é um prêmio. Acho que a gente fala dessa questão da tecnologia e a tecnologia intrinsecamente fala do tempo, né? A gente fala do tempo que o Maranhão traz, que é um tempo orgânico, de chegar alimento à Ilha, de as pessoas se deslocarem de um ponto para o outro, da água encanada... tudo é lento e a tecnologia é imediata, instantânea. Vivo a personagem sofrendo esses impactos muito fortes de um tempo orgânico versus um tempo violentamente inorgânico, antinatural.”
“A Núbia é uma personagem maravilhosa. O arquétipo da mãe possessiva, amorosa, que não é necessariamente boa nem má, ela é maluca. É um arquétipo muito bem-vindo nas novelas, da mulher que fala pelo coração. E o coração ilumina tudo que está em volta. Ela é passional e estou me divertindo muito.“
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“A gente está descobrindo aos poucos. A Gloria fala uma coisa interessante, que não existem vilões nessa novela, as pessoas são antagonistas em relação às situações. Então, tudo que se opõe ao filho dela e a essa visão de mundo que ela criou, o ideal de vida que ela tem para o filho, ela vai se tornar antagonista a essa situação. Não que ela seja uma vilã basal, ela não é uma pessoa do mal, de maneira nenhuma. Ela é uma sobrevivente. Acho que essa novela fala muito de mulheres sobreviventes pela resiliência. O sofrimento te dá muita casca, uma couraça e, inclusive, liberdade. A Núbia pode até ter uma cara de vilã, de repente, porque ela fala o que pensa e isso veio da conquista que ela teve na própria vida de se criar sozinha, criar o filho sozinha. Então, ela tem certezas absolutas e acho que essa é a grande vilania dela, ter certezas absolutas em um mundo onde tudo é movimento, ainda mais no mundo digital, que a gente fala de um mundo em movimento o tempo todo. Então, ela não é uma vilã, ela é uma sobrevivente, uma mulher forte, aguerrida às suas verdades. E tem essa coisa também da comunidade, da maledicência, do disse me disse, da fofoca, que isso também traz uma cara de vilania, mas não é. Do jeito que a gente está levando, ela tem muito humor, que é o que nos salva sempre.”
“O que ela quer não é uma coisa do mal, ela quer uma vida melhor para o seu filho e isso é legítimo. Ela é uma mãe solo, isso parece um pouco comigo. Então, a gente tem o direito de ficar mais velha e querer uma vida melhor, né? Os conflitos com os quais ela vai se deparar para que isso aconteça é o grande dilema. Porque Núbia não é uma vilã em si, ela vai ser vilã em alguma situação, muito de Brisa (Lucy Alves), porque Brisa significa um mundo que pra ela não vale nada, que não é o mundo da riqueza. Aí já tem um conflito humano interessante para a gente pensar. Quanto vale o dinheiro? Acho uma boa pergunta para a Núbia e para a gente jogar pra sociedade também. Querer um futuro melhor ok, eu acho que é legítimo, é um desejo de todas as mães. Mas a que preço?“
“Em uma sociedade em que a gente está se desconstruindo, em que a gente está tendo que rever racismo, homofobia, machismo, gordofobia, diferença de classe social, monetária... Eu acho que Núbia vai se defrontar com o próprio preconceito e isso não faz dela uma vilã. Se ela conseguir refletir, ela será até uma heroína. E se eu conseguir jogar essa reflexão para o público, para mim eu terei feito um gol histórico na minha carreira!”
“Mãe de filho único sempre se reconhece um pouco, porque tudo vai para aquela criança. Me botam muito para ser mãe de filho único. Então, a minha possessão toda pode se libertar por meio dos personagens. Posso botar toda a minha maluquice, tudo que eu tenho que conter em casa, nos meus personagens, eu extravaso.”
“Eu sou uma mãe superprotetora. Para você ter uma ideia, meu filho estava gripadaço e estava dormindo comigo, porque eu quero ver se respira. Quero ver se o arzinho entra e se o arzinho sai. Ai você me pergunta ‘Seu filho tem quantos anos: 3, 4?’ Não, 13! Tem 1,78 m de altura, 80 kg, grande, uma massaroca de homem e eu quero saber se o ar entra e se o ar sai! (risos)”.
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