Em entrevista para a CONTIGO! Novelas, Juliana Didone diz se quer ser mãe novamente e dá detalhes sobre sua personagem em ‘Bom dia Verônica’
Cheia de graça, Juliana Didone fala sobre maternidade real no YouTube e, mãe de Liz, de 4 anos, ela defende menos culpa e mais intuição. Além da maternidade, ela ainda brilha na nova temporada de Bom Dia, Verônica, série do Netflix. Em entrevista exclusiva para a CONTIGO! Novelas, a atriz abre o jogo.
"A produtora de elenco, Ciça Castello, me chamou para fazer um teste e eu já me empolguei, porque tinha assistido à primeira temporada, e a temática mexeu muito comigo. Aí, um mês depois, lembro que a Ciça me ligou e eu não atendi, porque estava ensaiando o Dança dos Famosos. Quando acabou o ensaio, tentei ligar de volta para ela, mas não conseguimos falar naquele momento. Só fomos falar no dia seguinte. Passei a noite inteira pensando que devia ser uma boa notícia, mas não sabia o quê!"
"Comecei com uma pesquisa dos relatos de mulheres que sofreram abusos físicos e, rapidamente, percebi que quase sempre elas vêm acompanhadas de um abuso psicológico enorme. O abuso por meio da fé é tão comum, e me deparar com o horror dessas histórias foi o fio condutor da construção da minha personagem. Claro, depois, acessei as minhas dores, momentos nos quais me senti invadida, abusada, humilhada, para aproximar a Mônica da Juliana. Eu acredito que para existir verdade em cena é preciso essa aproximação entre atriz e personagem."
"Me inspirei nas vítimas do João de Deus. Me aprofundei no assunto e assisti a todos os documentários. Ver aquelas mulheres contando com detalhes o trauma que vão carregar pelo resto da vida foi tudo de que eu precisava para me alimentar e criar a Mônica. A verdade estava ali, eu só precisava captar e conseguir transmitir. Foi um processo bastante intenso."
"Sim, mas, ao mesmo tempo, foi muito importante poder falar disso, contar essa história. Porque, infelizmente, é algo que acontece muito, todos os dias milhares de mulheres estão sendo abusadas em centros religiosos."
"A gente tem que parar de depositar em algum humano a nossa fé em Deus. Nosso diálogo não precisa de intermediário, eu acredito nisso. Faço minhas orações antes de dormir, ou em qualquer momento em que me sinta grata pela vida ou precise de alguma orientação espiritual. Acredito que Ele está em cultivar a bondade, a humanidade, o amor. Essa tem que ser a nossa conversa. Praticar boas ações e bons sentimentos. E depois colher."
"Embora seja uma ficção e as pinceladas de dramaturgia ganham cores mais potentes, eu sei que é muito perto da realidade de algumas pessoas esse terror psicológico, inclusive dentro de casa. A tensão que o Mathias faz com a mulher e a filha dele, por exemplo, é um terror. O passivo agressivo é um traço de psicopatia que pode ser grave e, às vezes, está mais perto do que a gente imagina. Porque vem disfarçado de amor e quando a gente está dentro da história tóxica é difícil perceber. É importante que estejamos alertas! O nível de feminicídio no Brasil é o retrato da nossa sociedade machista e descontrolada. E a série expõe toda essa violência."
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"Surgiu do desejo de trazer a sensação de leveza para a maternidade. Menos culpa, mais intuição. Eu queria expor mesmo o que todas as mães vivem diariamente: a realidade! Muitas vezes passamos o filtro da mãe perfeita para postar. E é uma grande mentira! Por trás do cenário arrumado, tudo é caos. Precisamos nos livrar da ideia de perfeição."
"Sim, na pandemia veio essa vontade. Porque ficou claro, na intensidade da relação com os filhos, que tem dias que a nossa melhor versão não vem mesmo. É normal. E está tudo bem. Mas muitas vezes a gente não tem coragem de compartilhar o que dá errado, com medo dos julgamentos. Claro que isso está mudando, tem muita gente legal desconstruindo a maternidade, mas, ainda assim, com a distância física da internet, as agressões hoje em dia são gratuitas e agressivas. Por isso o desejo de fazer rir e de mostrar que dá para lidar com mais humor com os desastres que acontecem no meio do caminho."
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"Tudo mudou. Tanto na minha rotina quanto nos meus desejos. Eu mudei internamente de uma forma muito profunda. Um filho te melhora. Te deixa mais paciente. Embora eu seja mais ansiosa hoje, porque tenho que dividir meu tempo com ela. Mas você descobre o que é sentir um amor que transborda, você começa a ter medo da morte e a sentir uma conexão muito maior com a vida, com o planeta, com os outros."
"Sim. Mas passa rápido... É uma responsabilidade enorme criar um filho, ajudar a construir um bom futuro para alguém. E, no Brasil, ter um filho é caro. Hospital é caro, escola é caro. A gente paga muito imposto para não ter o básico! Se a gente tivesse aqui educação pública de qualidade, hospital público em boas condições e segurança para andar na rua, eu teria mais filhos com certeza."
"Eu ouvi esses dias Bethânia falar: “envelhecer é um privilégio…” e isso fez todo sentido pra mim! Eu quero agradecer a chegada da minha idade, não me assustar com ela. Claro, quero envelhecer bem, com saúde. O que me assusta são as doenças."
"Meu trabalho é o tesão que eu tenho pela vida. Eu sinto uma alegria imensa de ter o privilégio de poder viver fazendo o que eu amo. De contar histórias e por meio delas me conectar a emoções distintas e me transportar para mundos, costumes e sentimentos tão diferentes dos meus."