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Famosos / ENTREVISTA

Simone Zucato reflete sobre câncer e volta aos palcos na pele de uma cachorra: 'Desafiador'

Simone Zucato celebra cura do câncer; em bate-papo com a Contigo! Novelas, a atriz falou sobre viver uma cachorra nos palcos

Daniel Palomares Publicado em 29/11/2023, às 15h04

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Simone Zucato falou sobre a cura do câncer - Fotos: Pino Gomes
Simone Zucato falou sobre a cura do câncer - Fotos: Pino Gomes

Em Sylvia, Simone Zucato volta aos palcos na pele de uma cachorra.  Em bate-papo com a Contigo! Novelas, a atriz fala sobre vida após a cura do câncer. "Desafiador".

Em 2019, quando Sylvia estreou, você enfrentava um câncer. Como é voltar aos palcos já curada?
"Certamente a versão de Sylvia agora tem um novo significado para mim. O dia em que recebi alta, fui
pega de surpresa. Sabe quando você não espera ouvir algo? Na saída da minha consulta periódica, o médico falou: 'Hoje você está de alta da oncologia. Você não é mais considerada uma paciente oncológica'. E eu, que não choro fácil, chorei muito quando entrei no carro. É uma ficha que demora tanto a cair quanto aquela que demora para cair quando você é diagnosticada com um câncer. Talvez a vida seja tão cheia de coisas, que a gente não consegue parar para assimilar a importância de uma notícia assim. E quando a gente assimila, é arrebatador demais. Entender a cura, uma nova chance, o propósito de tudo aquilo, é algo que precisa ser pensado e repensado muitas vezes antes de chegarmos a um entendimento. E quando a gente passa por esses questionamentos, por essas reflexões, a gente chega a um entendimento que antes não existia. Um entendimento sobre muita coisa, como o que e quem priorizar na vida, o que levar desse ensinamento, quem a gente quer ter por perto. Então, retomar Sylvia, que é uma peça que fala também sobre transformações, num mês que simboliza uma batalha que eu venci e que vejo muitas mulheres atravessarem é muito simbólico para mim. E se juntarmos ao fato de ela estar vindo depois de uma pandemia, é mais simbólico ainda. Foi na
pandemia, em julho de 2020, que perdi meu pai, Eurico Zucato, aos 68 anos por causa de um infarto.
Sempre fomos uma família muito amorosa e, tenho certeza de que quem já perdeu um pai sabe o que
estou falando, a vida nunca mais será a mesma. Não tem como falar em ser completamente feliz quando a gente perde um pai como o pai que eu e meus irmãos tivemos. Sylvia foi a última peça que fiz e que meu pai viu, em 2019. E ele gostou tanto que foi me assistir quatro vezes na temporada de São Paulo. Então, retomar essa peça me traz um brilho nos olhos que havia sido apagado com sua partida."

O que aprendeu diante desses obstáculos?
"Sempre valorizei a família, os amigos, as pessoas. Acho que desdo cedo eu entendia a importância de se ter um olhar cuidadoso e empático com o outro. Também acho que sempre tive um bom entendimento do que é gratidão e que a vida é rápida e curta demais. Então, quando me vi numa sala de radioterapia, vendo pessoas entrarem e saírem por condições muito mais devastadoras que a minha, o meu entendimento de gratidão à minha vida, a tudo o que eu tenho, só foi reforçado. E me refiro até ao sentimento de gratidão por ter descoberto um câncer num estágio inicial. A gente se depara com muitas incertezas quando tem um câncer, por mais que o prognóstico seja otimista. E, acho, que essas incertezas me fizeram refletir sobre as prioridades em nossa vida. Então, acho que
consegui assimilar melhor sobre aquilo que não conseguimos mudar, aceitar as situações que a vida nos traz e a importância das pessoas e de situações que vivemos. A gente reaprende a administrar o tempo que temos, o nosso 'agora', de uma outra forma."

Você é responsável, além da atuação, pela produção/realização e tradução do roteiro da peça. Como é estar dos dois lados?
"Trabalhoso, é difícil, mas recompensador quando você vê que emprega pessoas, que faz uma nova família, que ajuda uma ONG de cachorros e que toca o coração das pessoas e faz o público refletir sobre os temas que a peça aborda. No mês de ensaio, dormi duas, três horas por noite. Tinha dias em que analisava contratos ou aprovava artes às 2 da manhã. Como idealizadora e realizadora, faço questão de acompanhar tudo e, se for preciso, coloco a mão na massa. Em Sylvia, coloquei a mão na massa em tudo! Até figurino lavei, e não me queixo. Como atriz, preciso estar disponível para a direção, preparada fisicamente e vocalmente, com o texto na ponta da língua, pesquisando novos caminhos para a personagem. Não dá para chegar e falar 'estou cansada'. Sou rigorosa comigo e com aquilo que faço e sou perfeccionista. E aqui pensava que precisava entregar um trabalho tão bom quanto o de Sarah Jessica Parker e Annaleigh Ashford. Sabia que tinha um prazo para fazer tudo e que precisaria ter o melhor resultado possível em tudo. Depois da estreia, o ritmo ameniza, a gente consegue relaxar um pouco e aproveitar mais. Se autoproduzir no teatro é assim. E precisamos levar em conta que estamos num país onde a arte ainda não é valorizada, onde as pessoas não vão tanto ao teatro como em outros países. Ou seja, nada fácil, mas a gente vê o resultado e pensa 'se precisar passar por isso mil vezes para ver os resultados, eu passo'."

Como é dar vida a uma cachorra nos palcos? Sente que isso transformou de alguma forma sua relação com os bichos?
"É desafiador a princípio porque no preparo você tem que ser bastante observador, tem que estar preparado fisicamente, e tem que entender que existe uma linha muito tênue para não cair na caricatura. Mas eu sou uma pessoa que ama cachorros e acho que não tive muitas dificuldades em 'pensar como um cachorro' desde a primeira vez que li o texto. E também tem o fato de que Sylvia é uma cachorra personificada e não uma mulher animalizada. É uma personagem que exige muito fisicamente e artisticamente, e que me desafia bastante como atriz. Além de ser divertidíssimo interpretar Sylvia. Tive algumas colegas que me questionaram por que eu estava fazendo uma cachorra, dizendo que isso me diminuía como mulher e me ridicularizava como pessoa. E não é nada disso! Sylvia é uma história que mostra muitas coisas essenciais e extremamente pertinentes com o que vivemos nos dias de hoje. Ela fala sobre responsabilidade afetiva, sobre respeito, sobre o mito do bom selvagem, sobre relações, sobre estatismo, sobre a importância de se ter um cachorro… é uma história linda que só ensina, diverte e emociona o público. Então, para mim, foi desafiador até no sentido de enfrentar preconceitos de colegas que eu respeito e admiro. Não acho que tenha transformado muito a minha relação com os bichos, que sempre foi ótima, mas às vezes confesso me surpreendendo ao
olhar para um cachorro e pensando 'como seria esse Doberman se ele fosse uma pessoa?' [risos]."

Quais os próximos projetos?
Tenho projetos de teatro a caminho, os quais produzirei também e posso dizer que são histórias lindas
que chegarão para nos fazer refletir muito, como é