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Novelas / Em 1968

Marido de autora assinou novela da Record para 'fugir' da Ditadura há 56 anos

Censura perseguia obras da autora e remake da Record precisou ser assinado pelo marido para a novela passar despercebida por censores

Lúcia Lambertini e marido, Hélio Tozzi - Divulgação
Lúcia Lambertini e marido, Hélio Tozzi - Divulgação

Em 1 de agosto de 1968, o remake de As Professorinhas estreava na Record. A autora da versão original, Lúcia Lambertini, também foi responsável pela nova adaptação, mas não teve seu nome nos créditos da obra: na época, Lúcia era figurinha carimbada pela Ditadura Militar e sofria com constantes censuras, então a novela foi assinada por seu marido, Hélio Tozzi.

As Professorinhas foi o segundo remake de uma produção dramatúrgica na história da TV brasileira — em primeiro está A Muralha, original da Record TV de 1954 e refeita em 1958 na TV Tupi. A autora havia escrito e dirigido a primeira versão três anos antes, em 1965, e a obra foi exibida pela TV Cultura.

Entretanto, Lúcia não ficou satisfeita com os resultados da novela, principalmente pela baixa qualidade na produção, então decidiu reaproveitar a história em outra emissora. Na Record, a autora conseguiu aproveitar parte do elenco original para as cenas regravadas, mas precisou contratar novos nomes, como Ivete Jayme, Roberto Orozco e Xênia Bier.

Na época da regravação, Lambertini estava marcada pela Ditadura Militar por suas histórias modernas que abordavam temas considerados como "fora do convencional". Para que o remake da produção não sofresse com a censura, a solução da autora foi deixar os créditos pelo texto com seu marido, Hélio Tozzi. O plano foi muito bem-sucedido e a novela estreou sem grandes problemas — além dos enfrentados durante as gravações: a obra demorou dois anos para ser produzida, pois, durante o processo, dois incêndios de grandes proporções destruiriam os estúdios de gravação.

Valorização da educação

A trama de As Professorinhas focava em um grupo de professoras que, com desejo de agregar algo bom no mundo, partem para o interior e começam a ensinar e ajudar pessoas sem instrução. Com a ajuda das professoras, a comunidade de analfabetos aprende a ler, escrever e começa a se desenvolver culturalmente.

Além da valorização do trabalho educativo, a obra também abordava as dificuldades cotidianas da profissão e os dramas pessoais das professoras. Regina (Edy Cerri) vive um casamento violento, Leonor (Sônia Oiticica) foi abandonada pelo marido por uma mulher mais jovem, Helena (Tamara Restier) é casada com mulher sem que ninguém saiba, Carmem (Célia Rodrigues) é uma viúva que luta para sustentar os filhos sozinha e Julieta (Lídia Vany) não é feliz na profissão.

O foco na vida de mulheres corajosas que enfrentam desafios, sem dúvidas, seria uma justificativa para a Ditadura barrar a história de As Professorinhas, mas com a assinatura de um homem, os censores não perceberam o "perigo" da obra.