Remake de novela da Tupi, trama da Globo conquistou público inusitado e ficou marcada por casal e bordão problemáticos
Publicado em 15/04/2025, às 07h30
Em 15 de abril de 1985, há 40 anos, a Globo estreava A Gata Comeu como sua nova novela das seis. Remake da novela A Barba Azul, escrita por Ivani Ribeiro para a TV Tupi em 1974, a trama ganhou novos ares pelas mãos de sua autora original e demorou a ganhar um novo título. O nome do sucesso surgiu após brincadeira nos bastidores.
Na versão da Tupi, como relembra o jornalista Nilson Xavier, do Teledramaturgia, Jô (Christiane Torloni) era chamada de Barba Azul — título da novela original —, em alusão ao personagem sombrio do homônimo conto francês. Já na Globo, o apelido mudou: agora ela era Lucrécia Borgia, uma figura histórica associada à traição e veneno, reforçando seu perfil de "mulher fatal" e temperamental.
A escolha do título também passou por curiosas reviravoltas nos bastidores. Inicialmente, Xavier conta que cogitou-se Pancada de Amor Não Dói. Depois, entre piadas internas durante as gravações, surgiu O Gato Comeu, que acabou sendo alterado para o feminino A Gata Comeu, mais condizente com a protagonista.
Christiane Torloni e Nuno Leal Maia deram vida à mimada Jô Penteado e ao rígido professor Fábio, um duo carismático, mas envolvido em uma dinâmica que hoje, como ressalta Xavier, seria amplamente questionada — e com razão. O bordão "bateu, levou!", dito com naturalidade por Fábio ao revidar os tapas de Jô, acabou se tornando um dos marcos da novela.
Apesar do tom por vezes problemático do casal central, o Teledramaturgia relembra que A Gata Comeu conquistou uma legião de fãs mirins e adolescentes. A estrutura lúdica da trama, que começava com uma excursão escolar indo parar em uma ilha deserta, remetia ao universo das aventuras infantojuvenis.
Era nesse cenário exótico que Jô e Fábio se conheciam e davam início à guerra de egos e emoções. Xavier reforça que a novela flertava com o fantástico e o exagero folhetinesco, equilibrando conflitos adultos com um forte apelo aos jovens telespectadores, que viam na turma de alunos personagens com os quais podiam se identificar.
Ivani Ribeiro, com seu talento para escrever histórias acessíveis e envolventes, soube criar ganchos irresistíveis, explorando situações de enrosco, mal-entendidos e viradas dramáticas sem compromisso com a verossimilhança. O humor leve e os personagens caricatos ajudavam a suavizar o impacto de algumas mensagens controversas.
Ao lado de outras produções da era dourada da Globo, A Gata Comeu permanece cultuada, mas, como destaca Xavier, dificilmente ganharia um remake atualmente sem profundas alterações. Afinal, nem todo amor justifica pancadas — e, em 2025, "bateu, levou" não cabe mais dentro ou fora da televisão.
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