Diretor assumiu papel em novela da Globo após ator ser preso há 56 anos

Em 16 de setembro de 1968, há 56 anos, a rede Globo São Paulo estreava Passo dos Ventos como sua nova novela das nove. A trama, assinada pela renomada Janete Clair e com um enredo de época recheado com uma superprodução, quase foi prejudicada pela ausência de Mário Lago, ator que foi preso e substituído pelo diretor Régis Cardoso, que assumiu o papel na novela após o imprevisto.

No livro No Princípio Era o Som, de Régis Cardoso, o diretor detalha o ocorrido. Enquanto gravava Passo dos Ventos, o ator Mário Lago foi preso por razões políticas. Na época, o Brasil estava sob o regime militar e o intérprete, declaradamente comunista, manifestou ideias vistas pelos militares como contrárias aos valores do governo.

Em Passo dos Ventos, ele interpretava Jean Dubois, um marinheiro que acatava ordens da vilã Lien (Theresa Amayo) e havia ajudado Rosana (Isabella Campos) a forjar um suicídio. Para substituir Mário e dar continuidade à trama, a solução encontrada foi caracterizar o diretor Régis Cardoso, que interpretava o personagem em cena, aparecendo apenas de costas.

Além das cenas serem gravadas com Cardoso de costas para que o público não percebesse a diferença, o diretor usava as roupas exatamente como as de Dubois e até uma costeleta falsa. A ideia funcionou até que Lago fosse liberado para retornar às gravações de Passo dos Ventos.

Essa, na verdade, não foi a única prisão do ator e compositor durante o regime militar. Assim como outros nomes famosos da época, Mário Lago acabou se tornando alvo frequente da ditadura e, até o fim do governo, ele foi preso nada menos que 13 vezes.

Mesmo assim, o artista ficou marcado por sua trajetória impar na televisão e não pelas prisões arbitrárias. Como ator, ele esteve em Dancin' Days, O Casarão, Selva de Pedra, Hilda Furacão, Pecado Capital, Cambalacho e vários outros títulos memoráveis da TV brasileira.