Elian Matte foi demitido em abril e luta para ter acesso a seus benefícios; Justiça trava o processo e jornalista fica sem seguro-desemprego
Gabriel Perline Publicado em 29/08/2024, às 13h38
Em processo de recuperação de um Bunout que sofreu juntamente com os assédios sexuais enfrentados na Record, o jornalista Elian Matte agora luta para ter acesso a seus direitos trabalhistas. Desempregado e aguardando a conclusão dos processos que abriu --e que estão travados na Justiça--, ele teve seu plano de saúde cancelado pela emissora (sem qualquer aviso prévio) e também não está em posse da documentação necessária para dar entrada no seguro desemprego.
A coluna apurou que, em meio à guerra nos tribunais, Elian tentou contato com o departamento de Recursos Humanos da emissora para poder assinar sua rescisão e obter a papelada necessária para dar entrada no benefício. Mas a resposta de quem o atendeu não teria sido positiva, e ele teria sido orientado a aguardar seu caso ser concluído na Justiça.
"Fui marcar consulta com meu psiquiatra e descobri que a Record ja cortou meu plano de saúde em julho", relatou Elian à coluna. "A ABRAJI (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) disse que por causa da gravidade da situação vai assumir os custos do tratamento psiquiátrico. Mas eu tô em choque", completou.
Antes de cancelar o plano de saúde, a Record deveria ter entrado em contato com Elian para saber se ele teria interesse de continuar com o benefício, arcando pessoalmente com todos os custos, mas isso não foi feito e o jornalista ficou impedido de ter acesso aos profissionais que o acompanhavam desde que toda a crise se instaurou.
Em relação ao seguro-desemprego, tudo se atrapalhou por conta das idas e vindas da Justiça no julgamento de seu caso. Elian foi demitido em abril após denunciar o diretor Márcio Santos pela prática de assédio sexual. Ele recorreu à Justiça, que obrigou a Record a recontratá-lo sob pena de multa diária de R$ 100 mil caso não cumprisse a determinação. Mas a empresa também recorreu e logo foi poupada de reaver a situação de seu ex-funcionário.
Como a situação ainda segue sem uma resolução completa na Justiça, Elian não teve acesso à documentação necessária para dar entrada no seguro-desemprego, e tem contado com a ajuda financeira de parentes e amigos para poder se sustentar. A Record, segundo ele, não irá liberar os papéis enquanto o caso não foi concluído nos tribunais. "Se não fosse minha família, estava morando na rua", desabafou.
A coluna procurou a Record para comentar o caso, mas até a publicação desta reportagem não tivemos um retorno. Atualizaremos o texto se a emissora quiser se manifestar.
Em novembro de 2023, o jornalista da equipe de Roberto Cabrini denunciou o diretor de Recursos Humanos da Record pelas investidas e conversas particulares de teor sexual. Elian Matte registrou um boletim de ocorrência e se reuniu com a alta cúpula da emissora, mas não recebeu nenhum apoio. A coluna teve acesso aos documentos, que reforçam as mensagens e investidas de Márcio Santos, como: "Olha!!! Que delícia acordar tendo uma visão deliciosa, eu quero" e "Pergunta se está sensual? SIMMM, SEX!".
No mesmo mês, o ex-diretor de Recursos Humanos foi afastado do cargo, mas continuou com o vínculo empregatício durante mais um ano. Com o andamento das investigações policiais, a emissora optou pelo desligamento em abril deste ano. Treze dias depois, Elian Matte também foi demitido da emissora de Edir Macedo. Já em maio, Elian Matte apontou o comportamento da emissora ao demiti-lo nessas circunstâncias. Com isso, 31ª Vara do Trabalho de São Paulo definiu que a Record deveria recontratar Elian Matte, sob pena de multa diária de R$ 100 mil, mas a empresa logo foi poupada de reaver a situação de seu ex-funcionário.
Em julho deste ano, o ex-funcionário da equipe de Roberto Cabrini finalmente teve uma vitória. O Ministério Público instaurou um inquérito contra o ex-diretor de Recursos Humanos da Record que assediou sexualmente o jornalista. A coluna teve acesso aos novos protocolos, que seguem apurando o crime, "considerando que os fatos ora apurados se amoldam a figura típica do crime de assédio sexual".
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