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Bruna Linzmeyer: "Sofro mais preconceito por machismo do que por namorar mulher"

Livre e cheia de atitude, ela é movida pelo amor, independentemente do gênero. Namorando uma mulher, a atriz fala sobre o assunto sem tabus e diz sofrer muito mais pelo machismo do que por sua bissexualidade

Por Ligia Andrade Publicado em 01/09/2017, às 16h40 - Atualizado em 07/08/2019, às 17h45

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Bruna Linzmeyer - Jorge Bispo
Bruna Linzmeyer - Jorge Bispo
A cabeça de Bruna Linzmeyer, 24 anos, vive a mil. intérprete de Cibele, em A Força do Querer (Globo), ela encontrou no pilates um ponto de equilíbrio na rotina. “É um trabalho para trazer a energia e o pensamento ao corpo”, revela a atriz, natural de Corupá, Santa Catarina. Na trama de Gloria Perez, 68, a personagem atazana a vida de Ruy (Fiuk, 26) e Ritinha (Isis Valverde, 30). “Querida, bola para a frente, perdoa, esqueça, faça análise...”, diverte-se Bruna, que namora Priscila Visman. Desde que assumiu o romance, a atriz faz questão de falar abertamente sobre o assunto. “De fato, me apaixono por uma pessoa, não importa o gênero que ela tenha. É importante se abrir para entender o que é que te encanta. O fato de ser gay ou bissexual está tão atrás. Temos uma conversa muito importante que está depois disso, sobre gênero. Precisamos estar atentos, aprender, porque é novo, deixar nosso preconceito de lado.”


A atriz assiste aos seus trabalhos 
e ressalta 
a magia do audiovisual

Estranhou a repercussão pelo fato de assumir o namoro?
Me perguntam muito sobre isso. Então falo para a pessoa se abrir para ver o que gosta, tem tesão... Pode ser que, de repente, mude de gênero. Só precisa estar aberto a isso. Isso é uma coisa que existe desde a História da humanidade, tem todos os relatos na Grécia antiga. Fico feliz em poder viver este momento feminista, de empoderamento da mulher, liberdade desta juventude... 


Bruna com a namorada, Priscila Visman

A novela pode ser um farol para muitas pessoas, com o drama de Ivana, personagem da Carol Duarte, 25...
É maravilhoso. Como é um tema novo ao público, estamos nomeando estas coisas que são importantes para acabar com o preconceito. Mas é preciso deixar as pessoas livres. Agora falam em gênero fluido – não tem feminino, nem masculino –, porém tem a pessoa que só quer mudar de gênero. É importante ter doçura para lidar com a diferença do outro. E estou aprendendo. O que a Gloria (Perez) está fazendo é muito importante porque as pessoas estão se identificando, entendendo a dificuldade, o medo da personagem e, com isso, vão poder olhar para o filho ou alguém na rua e achar menos estranho.

Já foi alvo de preconceito?
Não leio e acho que quase não escrevem. Não sofro nenhum preconceito. De algum jeito, é mínimo – pela posição que estou, pela profissão que tenho, pela cidade que vivo, por como me coloco, pela bolha que construí à minha volta... Vivo muito mais por ser mulher, por machismo, por assédio sexual do que por namorar uma mulher. Agora, somos o país que mais mata transexual no mundo. Tem gente sofrendo pra caramba. O que vivo não pode se comparar com a seriedade deste assunto.

Como está sendo interpretar Cibele?
Brincar de atazanar é uma delícia, dou muita risada fazendo, é gostoso. Papinha (Rogério Gomes, 54, diretor artístico) é um grande cara, é maestro de uma equipe. É um trabalho amoroso.


Em cena de A Força 
do Querer como Cibele, 
ao lado de Fiuk (Ruy)

É bom poder acessar este lado obscuro que todos temos?
É bom poder brincar. Brincar é uma coisa seríssima para uma criança, é o seu trabalho. Estou aqui brincando de ser outras pessoas, de sentir, de falar coisas... É um jogo, mas é sério, paga as minhas contas, faz quem sou no mundo, me expressa. 

Entende as motivações dela? 
Gloria é poderosa neste sentido porque cria personagens humanos. Ninguém é só mocinho nem só vilão. Isso permite um trabalho de direção e atuação maravilhosos. Se consigo entender as motivações da Cibele? Como intérprete, sim; como Bruna, sou do que o público me fala: ‘Querida, bola pra frente, perdoa, esqueça, faça análise...’. Como atriz, que bom que ela não deixou passar porque isso gera dramaturgia.

Ainda se mistura com os papéis?
Muito. Cibele tem uma praticidade, poder de síntese, que admiro. Ela quer uma coisa, vai lá e faz. Talvez tenha um pouco mais de firmeza, clareza agora. Neste sentido que as personagens se misturam comigo, na personalidade. Como a Luna, de O Filme da Minha Vida, que me deu doçura naquela época. 


“Adoro receber crítica. Claro que não é fácil, às vezes dá uma desencaixada. Tenho consciência de que 
as pessoas pensam diferente”, justifica

Você gosta de criar playlist para as personagens. O que tem escutado?
Estou ouvindo Ninguém Perguntou Por Você (Letrux). Eu e o público estamos recebendo da Gloria a dúvida: ‘Será que ela fez isso por amor ou por infantilidade, uma piração?’. Nunca soube, jogo com as possibilidades, mas vamos descobrir isso daqui a pouco.

A novela está tendo um sucesso como há muito tempo não se via...
Tudo o que queremos é fazer coisas que as pessoas gostem. O que faço me alimenta, mas é para alguém. É um trabalho solitário, que faz sentido quando é colocado no mundo.

Tem curtido a repercussão?
É sinistro, quase assustador este feedback do público. De vez em quando, dou umas boas risadas no Twitter. As pessoas são muito criativas.


Camaleoa, Bruna não tem muitos cuidados com o cabelo, que está com fios mais claros por causa do sol
Perdoaria uma traição?
A questão da Cibele e do Ruy, ela até fala isso, é que todo mundo pode se apaixonar por outra pessoa, é a vida, acontece – óbvio que não é legal. A questão é como se lida com isso. E aí que o Ruy errou, foi imaturo. Nunca passei por algo parecido. O pacto que se tem em uma relação amorosa é de confiança e amor. Dependendo do que se tem, você senta para conversar, é o seu parceiro que está ali do lado, isso é o mais importante. Tem tantas outras formas possíveis que nem sabemos, estamos vendo uma coisa só.

O que te deixa centrada?
Estar com os meus amigos, com as pessoas que são importantes para mim, me recupera, me leva para um lugar essencial. Tomo muito floral e faço análise. Acredito no poder que a natureza me dá: se é pegar sol, mergulhar na cachoeira, passar óleo essencial nos meus chacras, banho de ervas... Tudo isso faz parte da minha rotina, de quem eu sou.


“Brincar de atazanar é uma delícia”, diverte-se Bruna ao falar de sua personagem

Como está a sua alimentação?
Não estou mais comendo carne, não foi uma escolha consciente. É difícil ser vegetariano no mundo. Infelizmente, não faço todo dia a minha própria comida, então abro exceção para peixe e crustáceos. Mas não tenho mais vontade, não concordo com a indústria da carne, meu corpo já entendeu, não faço bem a digestão. 

Como foi ver O Filme da Minha Vida nos cinemas? 
O filme é encantador. Fico muito feliz, as pessoas vêm falar comigo emocionadas. Este encantamento existe como estrutura, estava lá com toda a equipe. Tenho muita admiração pela Vania Catani (produtora, 53). Foi um time unido, isso veio dela e do Selton (Mello, diretor, 44). E tudo isso está na tela. Também fiz um longa durante a novela, O Que Resta, ainda sem previsão de estreia. E tem O Banquete, de Daniela Thomas (diretora, 57), O Grande Circo Místico e Partiu Paraguai


Um dos segredos de beleza da atriz é fazer uma esfoliação 
na pele com açúcar e mel