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Novelas / Em 1984

Globo confundiu a Censura há 40 anos com novela que tinha pacto com o Diabo

Trama da Globo misturou crítica social, suspense e suposto pacto com o Diabo, o que fez censura exigir explicações dos eventos sobrenaturais do enredo

Antônio Fagundes vivia parte do casal protagonista de Corpo a Corpo - Reprodução/Globo
Antônio Fagundes vivia parte do casal protagonista de Corpo a Corpo - Reprodução/Globo

Em 26 de novembro de 1984, há 40 anos, a Globo estreava Corpo a Corpo, novela de Gilberto Braga que misturava drama social e mistério sobrenatural. O enredo girava em torno de Eloá (Débora Duarte), uma engenheira que enfrentava preconceitos enquanto ascendia profissionalmente e buscava vingança contra aqueles que tentaram destruir sua vida. Mas foi o suposto pacto de Raul (Flávio Galvão) com o Diabo que gerou polêmica e confundiu a Censura Federal.

Em Gilberto Braga, o Balzac da Globo, o autor conta que, dias após a estreia, os censores enviaram dois ofícios à emissora solicitando explicações sobre “fenômenos sobrenaturais” que apareceriam na novela. Gilberto Braga precisou declarar, em carta formal, que o “pacto com o Diabo” era apenas um golpe do personagem para manipular Eloá — ou seja, não havia eventos sobrenaturais na trama.

Obra querida por Gilberto Braga

Como recorda o jornalista Nilson Xavier, do site Teledramaturgia, Braga nunca escondeu o carinho por Corpo a Corpo, até elegendo a novela como sua melhor obra. “Era uma novela extremamente bem-feita, com uma trama bem armada, baseada em histórias de ascensão social e vingança”, declarou no livro Autores, Histórias da Teledramaturgia.

Apesar disso, lamentava que a produção não tivesse permanecido no imaginário popular como Dancin’ Days ou Água Viva. A audiência, no entanto, refletiu o impacto da trama. Com uma média de 52 pontos no Ibope, teve o melhor desempenho de uma novela das oito na época, ultrapassando Baila Comigo, de 1981.

Do cinema para a televisão
A trama de Eloá e Osmar (Antônio Fagundes), como relembra Xavier, foi inspirada no clássico Nasce uma Estrela, mas adaptada ao contexto da engenharia civil. O casal enfrentava desafios derivados da desigualdade de gênero e de expectativas sociais, com Osmar sendo superado pelo sucesso profissional da esposa.

Curiosamente, quando Gilberto Braga se viu sem saber como continuar a história de Osmar, ligou para Fagundes e deu uma solução inusitada: “O seu personagem acabou. Mas preciso dele no final”. O ator tirou uma licença e foi fazer teatro até retornar para a conclusão do personagem.

Mesmo com suas polêmicas e um caminho inesperado para alguns personagens, Corpo a Corpo permanece como um marco da teledramaturgia brasileira pela qualidade do enredo e personagens. Uma novela à frente de seu tempo, que refletia as transformações sociais e explorava o poder da ilusão.

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