Autor se baseou em parte da vida do ex-ministro José Dirceu, exilado político da Ditadura, para criar enredo central de novela da Globo
Publicado em 01/10/2024, às 16h18
Em 1º de outubro de 2007, há 17 anos, a rede Globo estreava Duas Caras, novela de Aguinaldo Silva em colaboração com uma equipe formada por seis dramaturgos, como sua nova trama do horário nobre. A história intrincada, que abordava temas como racismo, educação, homossexualidade e até luta de classes, se inspirou, em partes, na história do ex-ministro José Dirceu, que "mudou de rosto" para fugir da Ditadura.
No livro Autores, Histórias da Teledramaturgia, Aguinaldo não escondeu de onde tirou a ideia de transformar o personagem Adalberto Rangel, vivido por Dalton Vigh, no galã Marconi Ferraço com intervenções plásticas. "A trama principal de Duas Caras, não posso negar, saiu da história do ex-ministro José Dirceu. Não me interessou o lado político, mas a história de vida dele, um homem que fez uma operação plástica, transformou-se em outra pessoa e viveu durante anos assim, sem que ninguém desconfiasse que ele tinha um passado anterior e essa persona que havia assumido", revelou ao Projeto Memória Globo.
A história de José Dirceu, de fato, é digna de uma novela: Em 1968, o então estudante de direito foi preso durante o Regime Militar, sendo solto apenas em 1969, em uma troca de presos políticos pelo embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick.
Liberto, Dirceu foi enviado a Cuba, onde viveu como exilado político até voltar clandestinamente ao Brasil. Para não ser reconhecido, o homem passou por uma cirurgia plástica em Cuba e até mudou de nome, passando a se identificar como Carlos Henrique Gouvêa de Melo.
As relações de Duas Caras com a vida de José Dirceu, entretanto, param por aí. A novela de Aguinaldo Silva abusou de núcleos diversos e explorou cada trama de modo particular: enquanto um núcleo recebia novidades, outro se aquietava.
Personagens que se consagraram na teledramaturgia, como o antagonista Juvenal Antena, interpretado por Antônio Fagundes, e a madame Branca, vivida por Susana Vieira, caíram no gosto do público e conquistaram mais destaque que os mocinhos do enredo. A história teve tantos personagens e subtramas que seu último capítulo precisou ser exibido no sábado, e não na habitual sexta-feira.