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Exclusivas / Sucesso no Teatro

Lindsay Castro Lima leva teatro oriental e cinema mudo para os palcos de São Paulo

Em entrevista à Contigo!, Lindsay Castro Lima fala sobre inspirações para viver personagem e a importância do teatro em sua vida e carreira

Lindsay Castro Lima é integrante da Cia.BR116 - Teatrofilme, companhia teatral fundada por Bete Coelho, desde 2020 - Divulgação
Lindsay Castro Lima é integrante da Cia.BR116 - Teatrofilme, companhia teatral fundada por Bete Coelho, desde 2020 - Divulgação

Lindsay Castro Lima está em cartaz como Marlene em Petra, obra baseada no clássico de Rainer Werner Fassbinder, As Lágrimas Amargas de Petra von Kant. Em entrevista à Contigo!, a atriz comenta sobre o processo de construção de sua personagem e reflete sobre a importância do teatro na formação de artistas e em sua carreira pessoal.

Em Petra, Lindsay dá vida à assistente da estilista Petra (Bete Coelho), uma mulher que serve fielmente, de uma forma que beira ao doentio. "Junto a Bete Coelho e Gabriel Fernandes, começamos a construir Marlene sempre sobre a ótica do amor. De um amor que beira a doença. Ela serve por amor. Através desse ponto de partida, surgiram corpo e movimento", afirma.

Para construir a personagem, Lindsay revela que uniu vertentes do teatro a estilos clássicos do cinema: "Queríamos uma Marlene que pontuasse a cena, mas de forma sutil e ambígua. Que não entregasse nada, que suscitasse a dúvida. Para atingir isso, busquei muito dos movimentos no teatro oriental, na leveza e precisão do Nô e Kabuki. Também me foi inspiração o cinema mudo e expressionista, pelas suas imagens fortes e fotográficas em pequenos frames".

A falta de falas, como explica a intérprete, potencializou os movimentos do corpo e os olhos. Bete Coelho, além de viver a protagonista da peça, também encabeça a direção, o que Lindsay enxerga como um presente para o desenvolvimento de sua personagem. "Uma parte fundamental da criação foi o jogo com a Bete em cena. Ela me dirigia enquanto atuava comigo. Eu criava a partir dela. O Gabriel, excelente diretor de cena, também me pontuava os detalhes de um olhar, de uma atmosfera", conta. Marlene, segundo a atriz, foi criada com muitas mãos.

Curiosamente, a maior dificuldade ao dar vida à personagem também foi sua ambiguidade, já que no texto não existe indicação de reação ou intenção dela. "Marlene entra com o café. Marlene sai. Marlene serve. Temos a referência do filme, claro, mas mudamos muitas coisas. A Marlene da nossa peça é também a contrarregra do teatro. Ela serve à Petra e também à peça. Ela monta o cenário para a próxima cena. Não são duas personagens, é uma só. Marlene também precisa ser o anúncio ao público de que o que eles estão vendo é teatro, não é a vida real", explica.

"Ela quebra o tempo todo o enlevo da cena. E isso em um texto melodramático, carregado de tintas de sofrimento e momentos de explosões". Ainda, para a atriz, o grande desafio "foi não deixar tudo com uma carga ainda mais dramática pela forma como a Marlene é tratada pela Petra, para ela não parecer ser só uma coitada. Ela é, sim, oprimida, é masoquista. Mas não uma coitada", pontua sobre a personagem.

A centralidade do teatro

Com uma ampla carreira teatral, Lindsay enxerga os palcos como seu lar e o teatro como a base de toda a formação artística — e principalmente intelectual — do ator. "O teatro requer leitura não apenas de dramaturgia, mas da boa literatura, da compreensão de mundo político e social, do bom ouvido para a música, para o ritmo, o tempo", exemplifica. 

"A plateia é um termômetro em tempo real, o palco tem um tempo que não permite edição. Não há nada que sobreviva sem verdade ao olhar em três dimensões de um espectador", afirma. A atriz acredita que "somente o teatro e sua obsessão pelo tempo presente é capaz de proporcionar o treino da atuação que nunca terá fim".

Apesar da longa jornada teatral, Lindsay não tem participações em produções em outros formatos. A intérprete revela que a escolha não é pessoal, mas que nunca buscou estar na televisão ou no cinema: "O teatro sempre foi o meu ofício em muitas frentes diferentes. Talvez os outros meios não me comovam tanto quanto, olhando de fora", confessa.

Ao lado de sua inspiração

Em Petra, Lindsay divide o palco com nomes como Bete Coelho, Luiza Curvo, Clarissa Kiste, Renata Melo, Miranda Diamant Frias e Laís Lacôrte. Entre as colegas de elenco, a intérprete destaca Bete Coelho como uma de suas maiores inspirações.

"Sempre estou observando cada detalhe do que ela faz, seja em um ensaio, em cena ou nas nossas conversas sobre teatro", afirma sobre a fundadora da Cia.BR116. Além de Bete, a atriz relembra com alegria do trabalho com Ariane Mnouchkine em As Comadres: "Tive a sorte e o privilégio de trabalhar com Ariane Mnouchkine. Fui produtora e diretora técnica do espetáculo As Comadres, com direção dela em sua turnê na França. Guardo comigo muito das nossas conversas. Ariane é a maior declaração de amor ao teatro que eu já vi. Muito da minha forma de trabalhar é inspirada nela. Ariane mudou minha forma de ver o teatro", declara.

Embora tenha os trabalhos citados guardados com muito carinho, a intérprete conta que nunca pensou em um nome com o qual sonha em compartilhar o palco, mas revela: "Essa pergunta me leva sempre para nomes de grandes atrizes que temos, sempre achei a profissão muito feminina. Não saberia explicar profundamente o porquê. Mas sempre penso em mulheres".

Com o final da temporada em São Paulo, Lindsay está animada para visitar outras cidades e estados com Petra. Além disso, em 2025, a Cia.BR116, companhia da qual a atriz faz parte, completará 15 anos. "Desde 2020, meu grande projeto é a Cia.BR116 - Teatrofilme. Temos planos para a comemoração com uma peça inédita e várias outras surpresas", revela.