Mudanças feitas na adaptação do SBT não agradaram autor da versão original, que brigou para intervir no texto
Publicado em 11/07/2024, às 10h47 - Atualizado às 17h56
Em 1995, o SBT decidiu adaptar Sangue do Meu Sangue, novela que Vicente Sesso (91) escreveu para a TV Excelsior em 1969. Na nova versão, a emissora investiu em um orçamento robusto e contratação de atores de sucesso, como a dupla Lucélia Santos (67) e Rubens de Falco (1931-2008) — que já haviam contracenado em Escrava Isaura (1976) e Sinhá Moça (1986). Entretanto, as grandes mudanças no texto, enfoque da trama e personagens não revitalizaram a obra como era esperado — na verdade, provocaram uma crise de baixa audiência, além de insatisfazer o autor original.
Vicente Sesso, inconformado com a nova versão da novela já no primeiro capítulo, chegou a ameaçar o SBT: o autor disse à emissora que iria à justiça para a obra ser tirada do ar caso a adaptação não seguisse o texto da primeira versão. A principal reclamação de Sesso era acerca do enfoque dado à história, que havia deixado de ser nos dramas pessoais dos personagens e passou a se centrar na luta pela abolição da escravidão.
Além do destaque aos fatos históricos, os adaptadores Paulo Figueiredo e Rita Buzzar criaram novos personagens, reduziram a primeira fase da novela — de 63 capítulos para 24 — e desgastaram a imagem do personagem Lúcio, que era interpretado por Tarcísio Filho (59), galã da época.
A briga entre o autor do texto original e os adaptadores terminou com Vicente Sesso como campeão. A baixa audiência da novela foi usada como justificativa para a intervenção de Sesso no texto, mas as divergências de opiniões nos bastidores não cessaram e a discussão tomou a esfera pública.
Antes de abandonar a participação no texto da novela, Rita Buzzar justificou que foi necessário reescrever os capítulos, uniformizar perfis de personagens irregulares e corrigir erros históricos — para isso, a equipe contou a assessoria da historiadora da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, Ana Luiza Martins Camargo de Oliveira.
Na liderança do texto, Sesso eliminou personagens e diminui a participação de outros, além de reformular o papel de Bete Coelho (61), que dava vida à Cecília/Fabrício e não existia na primeira versão da novela. Em busca de aumentar a audiência, o autor também criou uma nova personagem para a atriz Tônia Carrero (1922-2018), mas as mudanças não melhoraram o desempenho da obra.
Na reta final da trama, quando os índices de audiência já haviam caído de 9 pontos para 5 a partir da participação de Sesso, o ator Osmar Prado (76), que interpretava o vilão amado pelo público, se pronunciou sobre os conflitos internos na equipe — e saiu em defesa Rita Buzzar e Paulo Figueiredo.
Segundo o ator, Vicente Sesso não soube negociar sua participação na adaptação ao vender os direitos e "saiu resmungando". Prado revelou que o autor foi deselegante com os atores e adaptadores e afirmou: "Ele não é milagreiro e está bancando o salvador da pátria. A emissora quer resultados e infelizmente caiu no conto que esse senhor irresponsável e inescrupuloso vem propagando na imprensa".
Ainda que o papel de Osmar Prado tenha sido aclamado pelo público e pelos profissionais — o ator foi premiado com o Troféu Imprensa de melhor ator de 1995 —, a experiência não lhe rendeu boas recordações. Outros membros do elenco, como Bete Coelho e Lucélia Santos, reclamavam do rumo de seus personagens e da falta de bons diretores para guiar as cenas.
Com todo o elenco insatisfeito e a pouca fidelidade da audiência, a versão do SBT de Sangue do Meu Sangue passou longe do sucesso da original e ficou manchada pelas discussões dos bastidores.