Baby do Brasil fez declaração polêmica sobre abuso durante culto; advogada e terapeuta comenta o caso, que gerou debates na web
Publicado em 12/03/2025, às 15h23
[DISQUE 100 para denunciar violações de direitos humanos e DISQUE 180 para denunciar qualquer tipo de assédio contra a mulher]
Na última terça-feira (11), a cantora e pastora Baby do Brasil gerou polêmica ao sugerir que vítimas de abuso sexual devem perdoar seus agressores, inclusive quando o mesmo é um familiar. O culto, intitulado ‘Frequência com Deus’, reuniu dezenas de pessoas na casa noturna D-Edge, em São Paulo. Renato Ratier, dono do local, revelou que se converteu ao cristianismo em 2024.
No palco do evento, Baby do Brasil surgiu com seu característico cabelo azul e roupas pretas. Durante sua pregação, incentivou o público a abandonar qualquer tipo de ressentimento. “Perdoa tudo que você tiver de ruim no seu coração, aqui, hoje, nesse lugar. Perdoa! Se teve abuso sexual, perdoa! Se foi da família, perdoa!”, pediu ela. “Se é briga de família, mãe, filho, pai, perdoa!”, acrescentou.
A fala da artista repercutiram rapidamente nas redes sociais, gerando uma série de críticas. “Que asco desse vídeo! Uma vítima de abuso não tem que perdoar abusador nenhum”, disse uma internauta. “Isso que ela disse me parece criminoso. Achei um absurdo”, indignou-se outra.
Nyrton, um dos filhos da pastora, declarou em comentário do Instagram: “Eu, como filho desta mulher e com muita decepção, deixo claro a todos: não apoio nada disso!! Nunca serei conivente com as loucuras e o fanatismo religioso da minha mãe! Que tristeza sem fim!!!”, lamentou ele.
A fala de Baby do Brasil, que trouxe uma repercussão negativa para a mesma, pode minimizar a gravidade do abuso sexual e desencorajar denúncias contra agressores. É o que comenta Mayra Cardozo, terapeuta e advogada com perspectiva de gênero, mentora de Feminismo e Inclusão, líder de empoderamento e especialista em Direitos Humanos e Direito Penal.
“A declaração é extremamente preocupante porque reforça um ciclo histórico de silenciamento e impunidade que deixa vítimas de violência sexual desprotegidas. Ao sugerir que o perdão é a resposta para um crime tão grave, transfere-se para a vítima a responsabilidade de superar algo que, na verdade, precisa ser enfrentado e combatido pelo Estado e pela sociedade. Esse tipo de discurso não apenas desencoraja denúncias, como também contribui para a normalização da violência, tratando-a como um problema individual, quando, na realidade, é uma questão estrutural que afeta toda a coletividade”, destacou a especialista.
“O perdão pode ser um processo pessoal e subjetivo, mas nunca pode substituir a responsabilização dos agressores. O debate precisa estar centrado em garantir segurança, justiça e acolhimento às vítimas, e não em cobrar delas que lidem sozinhas com as consequências de uma violência que jamais deveria ter ocorrido. Não há reparação sem justiça. Enquanto a ideia do perdão continuar sendo utilizada para minimizar a gravidade desses crimes e deslegitimar a dor das vítimas, estaremos perpetuando um sistema que protege abusadores em vez de amparar quem sofre a violência. O foco deve estar na proteção das mulheres e na erradicação da violência, e não na aceitação do inaceitável”, esclareceu.
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