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Novelas / ATUAL CENÁRIO

Atriz de No Rancho Fundo fala de protagonismo negro em novelas: 'Ainda é novo para nós'

Em entrevista à Contigo! Novelas, Ju Colombo, a Quintilha de No Rancho Fundo, celebra o poder inspirador de sua personagem e protagonismo negro

Daniel Palomares Publicado em 08/10/2024, às 19h51

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Atriz Ju Colombo volta a dar vida a Quintilha em uma novela nova - Márcio Farias
Atriz Ju Colombo volta a dar vida a Quintilha em uma novela nova - Márcio Farias

Atriz Ju Colombo está no ar na novela No Rancho Fundo, da TV Globo. A artista celebra o poder inspirador de Quintilha, sua personagem na trama das 6, escrita pelo autor Mario Teixeira. Em entrevista à Contigo!, ela ainda revela sua paixão pela música e destaca as alegrias de trabalhar em família.

Como é poder voltar a dar vida a Quintilha em uma novela nova? Como percebe a evolução da personagem e da sua própria interpretação nesse tempo?

Quintilha já era um presente em Mar do Sertão! Agora, ela vem como dona do hotel, local que abriga todas as tramas importantes da novela. Ela ganhou novas camadas, se relaciona com vários personagens e tem um par romântico! Ou seja, é uma oportunidade maravilhosa para explorar novos sentimentos. Ainda é novo para nós, atrizes pretas, estarmos nas tramas em papéis relevantes e sem estereótipos. Isso consolida minha carreira no cenário da dramaturgia brasileira.

A Quintilha é uma mulher negra próspera e bemsucedida. Qual a importância de retratar isso?

É da maior importância defender uma personagem preta, bem-sucedida e da faixa dos 50. O público brasileiro gosta de novela e quer se ver representado na TV. Não tem mais volta! Ser negra no Brasil é um constante exercício de reposicionamento na pirâmide social. Portanto, termos personagens dessa importância, em um país que foi o último a abolir a escravidão, é um avanço! Como a arte tem poder de influência, trazer para as telas mulheres negras prósperas, bemsucedidas e humanas é uma contribuição social e, ao mesmo tempo, um direcionamento para o nosso povo. A arte e o esporte sempre foram referências.

Como se sente ao fazer parte desse momento de maior protagonismo negro no audiovisual?

Me sinto muito feliz e esperançosa. Não pelo fato de o jogo já estar ganho; longe disso. Mas porque estamos conquistando caminhos determinantes para firmarmos nossa identidade, nossa cultura e, principalmente, nosso valor como ser humano. Isso nos foi brutalmente negado há quase 500 anos! Essa reparação é longa. Mas estamos avançando a passos largos, em vários segmentos artísticos, produzindo nossas obras e, portanto, contando nossas histórias em primeira pessoa. No meu caso, além de atuar no teatro com o espetáculo Viva o Povo Brasileiro e no cinema como protagonista de três futuros longas, a Globo adora meu trabalho e me valoriza cada vez mais. Tenho a produtora Black Umbrella, em sociedade com meu filho cineasta, Gabriel Colombo, e produzimos programas musicais, documentários e trabalhos na área de artes visuais. Abrimos oportunidades para novos profissionais negros em diversos campos de atuação. Estamos expandindo nosso quilombo, ocupando lugares de destaque e fortalecendo nossa identidade porque colocaram nas nossas mentes que, se um artista preto está em um papel de destaque, não pode ter outro. O racismo fomenta uma competição entre
nós e isso é terrível. Meu comprometimento com a arte-educação é absoluto!

Qual a importância do budismo na sua vida? Como nasceu esse seu contato com a religião?

O budismo é meu chão, minha luz interior, minha bússola e meu porto seguro. A relação com a religião,
minha família tem há muitas gerações: espiritismo, umbanda, candomblé, catolicismo... Particularmente, quando criança, frequentava a igreja católica, sempre incentivada pelos meus pais. Já casada, em um momento muito autodestrutivo, minha mãe me ensinou a recitação budista, NAM-MYOHO-RENGUE-KYO. Me converti e faço esta prática há 31 anos. Toda a minha família é budista. Praticar o budismo Nitiren é praticar uma filosofia comportamental, é adotar um caminho de transformação interior para lidar com as questões no meu ambiente e nas relações com as pessoas do meu convívio. É necessário estudar e ter uma prática diária dedicada. Eu tenho um mestre da vida, o sr. Daisaku Ikeda, chamado carinhosamente de Ikeda sensei. Eu acredito que a espiritualidade é a base para construirmos uma vida verdadeiramente feliz.

Me fala um pouco mais da sua carreira na música? Você também desenvolve projetos com os seus filhos, certo? Como se dá essa parceria familiar?

A música me acompanha a vida toda! Sempre digo que, se não fosse atriz, seria cantora. Essa relação com a música, com a dança, é uma herança de família. Tive algumas bandas ao longo de minha carreira e atualmente temos um trio musical. Outro trabalho que desenvolvo com meus filhos, Gabriel, Alexandre e Lucas, é uma websérie criada por eles, que traz a história de um artista em um formato
cinematográfico. Trabalhar em família foi um objetivo concretizado. Nós convivemos muito como núcleo
familiar e eu dou prioridade para isso, porque é uma convivência que me faz ser uma pessoa melhor. Em meio a esses desafios, consigo exercer vários papéis: mãe, parceira profissional, companheira, amiga e uma eterna aprendiz. Sou uma pessoa afortunada, quando penso que nós, mulheres, na busca da autonomia e realização, nos deparamos com conflitos aterrorizantes em relação às várias atribuições que somos impelidas a ter e os fantasmas da culpa por não sermos suficientemente boas no que fazemos. Conviver em família, ter um companheiro, trabalhar, festejar e dar muita risada juntos, para mim, é a transformação de toda essa opressão da mulher, em valores preciosos para a vida deles e, principalmente, para minha existência. Não foi um processo fácil, mas hoje consigo gargalhar dos desafios que vivi e afirmar que sou uma mulher feliz!