Novela que ficou marcada na teledramaturgia brasileira foi escrita sob pseudônimo por autor famoso que fazia mistério sobre verdadeira identidade
Publicado em 17/09/2024, às 15h01
Em 17 de setembro de 1996, há 28 anos, a icônica Xica da Silva estreava como novela do horário nobre da finada rede Manchete. A trama pitoresca era assinada por Adamo Angel, um autor misterioso que fez seu nome com Xica da Silva e levantou o Ibope da TV Manchete com as cenas de nudez.
O sucesso da novela levou todos ao grande desejo de descobrir quem era seu escritor, e o maior mistério envolvendo Xica da Silva se desenrolou nos bastidores. A imprensa especulou nomes de outras emissoras, como a Rede Globo, mas, na verdade, Adamo Angel era um autor, na época, contratado pelo SBT.
O nome verdadeiro escondido por trás do pseudônimo criativo era do hoje renomado Walcyr Carrasco, e a ideia do sobrenome Angel foi brincar com o sobrenome verdadeiro, Carrasco. Ainda que atuando como autor na Manchete, Carrasco era assessor do departamento de dramaturgia no SBT.
Segundo o jornalista Nilson Xavier, do site Teledramaturgia, o convite para escrever veio do diretor Walter Avancini, que queria o homem como autor na Manchete. Walcyr aceitou com a condição de permanecer no SBT e trabalhar na novela sob um pseudônimo.
Como comenta Xavier, rumores dizem que o então dono do SBT, Silvio Santos, não gostou de saber da dupla jornada de trabalho de Walcyr e impôs que ele escrevesse uma novela para sua emissora como "punição".
A suposta trama seria Fascinação, de 1998, mas o autor desmentiu o boato no livro A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo, de André Bernardo e Cíntia Lopes. Carrasco explicou que a novela foi fruto de um novo contrato com a emissora, dessa vez com o cargo de autor.
Xica da Silva ficou marcada como uma das grandes novelas da TV brasileira, mas também carrega um legado de descuido com as mulheres da trama. A protagonista foi vivida por Taís Araújo e, no começo da novela, a atriz tinha apenas 17 anos.
Como menor de idade, Taís não podia aparecer nua na televisão, mas assim que completou 18 anos, sua primeira cena sem roupas foi gravada e o diretor, Walter Avancini, comemorou o fato. A atriz já declarou que foi um momento difícil para ela: "Eu chorava muito. Fiz quatro cenas nua e não aguentei. Pedi uma dublê. Aí, Avancini botou mulheres diferentes, com seios grandes, que não se pareciam comigo", disse.
Outra intérprete que sofreu na trama foi Adriane Galisteu, que, de acordo com Xavier, foi a pessoa que mais apareceu nua. No livro Biografia da Televisão Brasileira, a atriz desabafou sobre as condições de trabalho: "Fui assaltada no set e, várias vezes, obrigada a fazer as cenas durante a madrugada. Eu fiquei traumatizada. Entrava numa cachoeira em Xerém cheia de cobras e gravei várias vezes no mar com água absurdamente gelada!".
Mesmo com essas questões, a novela de Walcyr Carrasco foi muito importante para a televisão e sempre é lembrada pelos noveleiros como um dos grandes momentos da teledramaturgia do país.