Novela da Globo foi alvo de críticas de entidades religiosas por exibir a primeira cena de sexo com casal gay na televisão brasileira
Publicado em 11/04/2025, às 07h30
Em 11 de abril de 2016, há nove anos, a Globo estreava Liberdade Liberdade como nova novela do horário das 23h. Focada na história de Joaquina (Mel Maia/Andreia Horta), filha de Tiradentes (Thiago Lacerda), o folhetim exibiu a primeira cena de sexo gay na TV aberta e virou alvo de críticas de setores conservadores da sociedade.
Como relembra o jornalista Nilson Xavier, do Teledramaturgia, Liberdade Liberdade foi ambientada no Brasil do século XVIII e misturava personagens históricos com ficção para contar a trajetória de Joaquina, filha de Tiradentes. Apesar da ambientação de época, foi um tema contemporâneo que acabou roubando a cena em certo momento da novela: a exibição da primeira cena de sexo entre dois homens na televisão aberta brasileira, um marco histórico e cultural que, segundo Xavier, causou forte repercussão.
A sequência foi ao ar em 12 de julho de 2016, protagonizada pelos personagens André (Caio Blat) e Capitão Tolentino (Ricardo Pereira). O Teledramaturgia destaca que a cena foi filmada com delicadeza e incluiu beijos, carícias e corpos nus, mas sem qualquer apelação.
Mesmo assim, apenas isso foi suficiente para causar alvoroço em parte do público conservador e acender o debate sobre os limites da televisão aberta, mesmo em um horário voltado para o público adulto.
Antes mesmo de a cena ir ao ar, Xavier resgata a ação de grupos religiosos, que se mobilizavam contra a exibição: a chamada Bancada Evangélica na Câmara dos Deputados lançou críticas públicas e pressionou a emissora, classificando a sequência como um “ataque aos valores da família”. Entidades religiosas organizaram protestos e campanhas online, enquanto algumas lideranças chegaram a convocar passeatas pedindo o boicote à novela.
A produção de Liberdade Liberdade não foi marcada apenas pelo pioneirismo na tela, mas também por uma série de mudanças nos bastidores. Originalmente escrita por Márcia Prates, a novela era baseada no livro Joaquina, Filha do Tiradentes, de Maria José de Queiroz. Xavier conta que essa seria a primeira novela solo da autora, mas Márcia acabou sendo afastada ainda no início, por decisão da Globo, que alegou “problemas artísticos e históricos” nos primeiros capítulos entregues.
A substituição foi conturbada: Euclydes Marinho, que inicialmente supervisionava o projeto, também foi dispensado. Em seguida, Glória Perez assumiu brevemente, mas saiu para se dedicar à sua próxima novela. O cargo de autor principal ficou então com Mário Teixeira, que assumiu a reescrita e conduziu a produção até o fim.
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