Trama da Globo teve começo conturbado por semelhança com novela de emissora rival, mas se tornou sucesso absoluto da teledramaturgia brasileira
Publicado em 06/12/2024, às 07h30
Em 6 de dezembro de 1977, há 47 anos, a Globo estreava O Astro, novela de Janete Clair cuja missão era recuperar a audiência do horário nobre. Com uma trama que misturava mistério, romance e poderes paranormais, a novela levantou o ibope depois de um início conturbado por semelhança com a trama de O Profeta, folhetim da concorrente, TV Tupi.
Como recorda o jornalista Nilson Xavier, do site Teledramaturgia, a história de O Astro foi criada a partir de várias referências. Para o núcleo da família Hayala, Janete Clair buscou inspiração em Hamlet, de Shakespeare. Salomão(Dionísio Azevedo) era o “rei” assassinado, enquanto Márcio (Tony Ramos), seu filho introspectivo, desconfiava da mãe, Clô (Tereza Rachel), e do tio, Samir (Rubens de Falco). Já o protagonista Herculano Quintanilha (Francisco Cuoco) combinava elementos de José López Rega, o enigmático ministro argentino apelidado de “El Brujo”, e Rasputin, líder espiritual da Rússia czarista.
O título inicial da novela seria O Bruxo, mas foi barrado pela Censura Federal, que via referências ocultistas como impróprias. Outras opções foram consideradas, como O Todo-Poderoso, antes de chegar ao definitivo O Astro.
No início, afirma Xavier, O Astro não deslanchou por dificuldades devido ao sucesso de O Profeta, trama da Tupi escrita por Ivani Ribeiro que abordava poderes paranormais e, aos telespectadores, era parecida com O Astro. Protagonizada por Carlos Augusto Strazzer como Daniel, O Profeta chegou a superar O Astro em audiência no início de 1978, com 36,7 pontos contra 33,3 na Grande São Paulo.
A virada veio com o mistério central da novela: o assassinato de Salomão Hayala no capítulo 44. A partir daí, o público ficou intrigado com o “quem matou?”, e a trama ganhou força, ultrapassando a concorrente da Tupi.
Mesmo começando em desvantagem, O Astro conquistou uma audiência impressionante em sua reta final — segundo o Teledramaturgia, chegou a superar transmissões da Copa do Mundo de 1978. Durante um evento diplomático em Brasília, mulheres abandonaram uma recepção oficial para acompanhar a novela, segundo relatos da época resgatados por Xavier.
A novela deixou um legado duradouro na teledramaturgia, sendo lembrada como um marco do gênero. Não à toa, a Globo adicionou o folhetim à sua plataforma de streaming, o Globoplay, em 18 de novembro desse ano. A iniciativa faz parte de um projeto de resgate dos clássicos da dramaturgia e O Astro, que marcou gerações com a versão original e o remake de 2011 protagonizado por Rodrigo Lombardi, não poderia ficar de fora.
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