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Rogéria decreta: 'Sou a travesti da família brasileira'

História é o que não falta na vida da atriz e cantora, uma das estrelas do documentário Divinas Divas, dirigido por Leandra Leal

Por Tainá Goulart Publicado em 11/07/2017, às 18h00 - Atualizado em 04/03/2020, às 13h01

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Rogéria é uma das estrelas do filme Divinas Divas - Fotos: Rogerio Pallatta e Divulgação
Rogéria é uma das estrelas do filme Divinas Divas - Fotos: Rogerio Pallatta e Divulgação
"Sabe qual a coisa que eu mais detesto na beleza das mulheres atuais? O batom nude! Como podem usar um negócio que te apaga por completo? Para! E as unhas de cores de outro mundo? Não, elas só podem ser vermelhas!”, decreta Rogéria. Aos 74 anos, a atriz e cantora aplica com cuidado e maestria o tom vivo nos lábios, antes do ensaio para CONTIGO!, e diz ser bastante vaidosa desde pequena, quando já “arrastava o pano bem pintosa”, como costuma dizer. Um dos itens mais importantes da nécessaire feminina, o batom foi a ferramenta escolhida pela diretora Leandra Leal, 34, para a transformação das personagens do documentário Divinas Divas. De Astolfo Barroso Pinto, seu nome de batismo, Rogéria se transforma no cinema, assim como Jane Di Castro, 69, Eloina dos Leopardos, 59, Divina Valéria, 73, Brigitte de Búzios, 49, Fujika De Halliday, 74, Camille K, 71, e Marquesa, que morreu aos 71, em 2015. “Todas somos divinas e o nome que a Jane deu é apropriadíssimo. A Leandra trouxe um toque carinhoso e delicado para contar as nossas histórias e não foi nada apelativo. A gente conhece a Leandra desde criança e isso gerou uma confiança sem precedentes. No entanto, muitas pessoas vieram me falar que o documentário humaniza as travestis, mas a gente já é humana! É 2017 e ainda insistem nessa confusão”, conta a atriz. 
Rogéria só usa batom e unhas vermelhas, cores de uma diva. Essas e outras histórias ela conta no documentário ao lado de outras travestis que fizeram história no Rival, teatro que pertence à família da atriz Leandra Leal, diretora do longa
Figuras femininas
O longa aborda a trajetória de oito artistas travestis que fizeram história no Rival, teatro carioca que pertence à família de Leandra há gerações. Ao todo, foram mais de 400 horas de filmagens em cinco anos. Rogéria afirma que fazer parte dos bastidores é o sonho de qualquer artista. “A Leandrinha sabe dirigir muito bem, trouxe o glamour da coxia e do palco para o cinema. A gente se organizava e controlava para fazer com que tudo desse certo nas gravações. Se alguém começasse a ter um ataque de estrelismo, todas falavam ser mancada com a Leandra. É profissionalismo, meu bem”, brinca ela, reforçando que ainda tem muita coisa para contar da sua carreira de mais de 50 anos. “Sou a travesti da família brasileira e estou onde estou por conta das mulheres, o meu maior público. Minha mãe é a figura central da minha vida. Eu sou muito agradecida à ela e à tantas outras que cruzaram o meu caminho”, reflete.
Uma das cenas do documentário, em que, claro, aplica seu famoso batom vermelho
Para a atriz, o valor dado por ela não é o mesmo da sociedade atual e ela não cansa de discutir o assunto. “O engraçado é ver os números de gente matando travesti, trans e toda a comunidade gay só aumentando e as pessoas esquecendo que isso também está acontecendo com as mulheres. É uma safadeza! Na ditadura, eu passei por muitas coisas de opressão, mas agradeço por não sofrer como as travestis e as mulheres de hoje. Ainda bem que tenho 74 anos, está faltando educação nesse povo.” 
Nem cachorros, nem filhos
Além do batom nude, Rogéria dispara que não gosta de loiras com raiz escura. “Sou loira desde 1964 e se vejo um risco de cabelo castanho, refaço a tintura, mesmo com pouco tempo desde a última aplicação. Uso a mesma cor há 40 anos. A minha rotina de cuidados é simples, mas não vivo sem ela. Deve ser por isso que não tenho cachorros, só penso em mim (risos)”, brinca. 
Rogéria conta que nunca pensou em ter filhos, nem se vivesse só como Astolfo. “Eu não tenho esta necessidade 
de maternidade ou paternidade latente.”, reflete
Aliás, ela só teve um animal de estimação na vida, mas confessa não ter se dado muito bem com a experiência. “Quando tive uma maltês, eu me envolvi em uma confusão, depois de dar um soco na boca de um taxista, em 1975. Eu o parei e ele falou que o animal era sujo e não entraria no carro dele. Parti para cima, mesmo! Se eu fiz isso só por causa de um cachorro, imagina uma criança! Por isso, nunca pensei em ter filhos. Se tem uma coisa que eu não teria, se fosse mulher, seria filhos. Eu não tenho esta necessidade de maternidade ou paternidade latente. Aliás, nem como Astolfo eu cogitaria esta possibilidade”, finaliza. 
Ela revela que não mudaria nada em sua trajetória e que gostaria de ter conhecido mais países. “O meu prazer era viajar para o exterior, subir no palco, fazer meu show todo vestido de mulher e, depois, anunciar que eu era homem. A reação do público era impagável”