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Novelas / Deu briga!

Há 35 anos, novela da Manchete estreava adiada após desavenças com o elenco

Além de problemas para encontrar a intérprete perfeita para a protagonista da trama, novela da Manchete foi marcada por brigas entre o elenco e a diretora

Christiane Torloni e Raul Gazolla viveram casal em Kananga do Japão - Divulgação
Christiane Torloni e Raul Gazolla viveram casal em Kananga do Japão - Divulgação

Em 19 de julho de 1989, Kananga do Japão estreava na Manchete após ser adiada algumas vezes, principalmente pelas dificuldades para encontrar atores que casassem com os personagens da trama. A novela, baseada em uma ideia antiga de Adolpho Bloch e Carlos Heitor Cony, misturava ficção com realidade e foi marcada, também, por brigas de atores com a diretora Tizuka Yamasaki — que ganhou o prêmio de melhor direção de televisão da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte).

A grande dificuldade do projeto, diferente da maioria das novelas, não foi o desenvolvimento do enredo, mas sim a construção do elenco perfeito. Para a protagonista da história, Dora, uma gama de atrizes renomadas foram cogitadas para o papel.

A primeira foi Maitê Proença, mas a contratação não foi adiante. As atrizes Bruna Lombardi e Vera Fischer estudaram a proposta da Manchete, mas, novamente, as negociações não seguiram. O papel também foi recusado por Cláudia Raia e Glória Pires e, quando a direção acolheu a ideia de lançar uma atriz iniciante, Christiane Torlonitopou dar vida à personagem. 

A atriz estreante cogitada para o papel era Cristiana Oliveira, que conquistou um papel menor na trama de Kananga do Japão — mas ganhou uma ótima oportunidade em seu trabalho seguinte e viveu Juma na primeira versão de Pantanal, personagem que elevou sua carreira.

Para viver o par da protagonista, Alex, os atores Nuno Leal MaiaMário Gomes e José de Abreu foram convidados, mas Raul Gazola — até então pouco conhecido do grande público — foi escolhido para viver o personagem.

Outras escalações que não foram adiante envolveram a atriz Norma Bengell para o papel de Letícia Viana, que ficou com Tônia CarreroLumade Oliveira como Silvia (Júlia Lemmertz) e Beatriz Segall como Josephine (Rosamaria Murtinho).

Divergências entre elenco e direção

A novela sofreu baixas mesmo após todo o elenco ser escalado. A diretora Tizuka Yamasaki teve problemas com alguns atores, como Vera GimenezGeorgia GomideBia Seidl e Rodrigo Santiago, substituídos por Tamara TaxmanYara Lins, Cristiana Oliveira e Rui Rezende, respectivamente.

Vera Gimenez, que foi demitida na véspera do primeiro dia de gravação com a justificativa de que a atriz não se assemelhava à personagem, chegou a afirmar que a diretora "não regulava bem". 

Tizuka Yamasaki também teve problemas com a estrela Christiane Torloni, que, segundo a diretora, teve atitudes que não cabiam na emissora. "A Christiane Torloni quis colocar outra figurinista em Kananga do Japão. O Seu Adolpho me mandou um recado nesse dia: ‘Se quiser, pode tirá-la da novela’. Mas eu disse: ‘Não posso. Ela é protagonista’. Aí, dei um gelo nela, comecei a tratá-la sem carinho. Quando você trabalha com um ator que parece criança, tem de agir como tal: dar castigo, ficar de mal”, revelou em entrevista.

Apesar disso, Torloni ficou até o fim da novela e a diretora elogiou a entrega da atriz. Segundo Yamasaki, a protagonista foi brilhantemente interpretada: "No último dia de gravação, dei-lhe um abraço e os parabéns", comentou na época.

Origem da trama

Kananga do Japão nasceu do desejo de recriar a conhecida casa de gafieira Kananga do Japão, que na década de 1930 era frequentada por jornalistas, intelectuais, prostitutas, homens do povo e artistas. Grandes nomes como Carmen Miranda, Noel Rosa, Pixinguinha, Sinhô e Ary Barroso eram vistos com frequência no ambiente.

Bloch, dono da Rede Manchete, desembargou nessa região quando chegou ao Rio de Janeiro como um imigrante russo, por isso o sonho de estrear uma obra sobre o local marcante na história da cidade carioca. A trama de Kananga do Japão unia fatos históricos com a criatividade de Wilson Aguiar Filho, responsável por desenvolver a ideia original de Bloch.

Wilson trouxe para a trama eventos como a Ditadura Vargas, a Revoluções de 1930 e de 1932, o Integralismo, em 1937, a Segunda Guerra Mundial, em 1939, e a Intentona Comunista, em 1935 — que ganhou destaque no roteiro com a história de Luís Carlos Prestes e Olga Benário, encarnados por Cassiano Ricardo e Bettina Vianny.

Kananga do Japão também trouxe outras figuras históricas: cantores e músicos como Francisco Alves (Caíque Ferreira), Ary Barroso (Sebastião Lemos), Carmen Miranda (Stella Miranda), Mário Reis (Fernando Eiras) e Vicente Celestino (Luís Carlos Buruca), o escritor Graciliano Ramos (Ivan Setta), a psiquiatra Nise da Silveira (Guida Vianna), o Barão de Itararé (Marcos Oliveira) e o icônico Madame Satã, interpretado por Jorge Lafond.