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Novelas / Em 1970

Há 54 anos, Tupi mudou novela de horário após censura federal

Censores da Ditadura queriam definir novela peruana adaptada pela TV Tupi como imprópria para menores de 14 anos

Simplesmente Maria foi a primeira novela de Yoná Magalhães após deixar a Globo - Reprodução/Memória Globo
Simplesmente Maria foi a primeira novela de Yoná Magalhães após deixar a Globo - Reprodução/Memória Globo

Em 1970, a finada TV Tupi decidiu importar Simplesmente Maria, dramalhão consagrado como um sucesso em vários países americanos de língua espanhola. Inicialmente, a novela era exibida às 19h, mas uma mudança de horário foi imposta pela censura federal e a obra passou a ocupar o horário das 20h.

A trama acompanha a jovem Maria (Yoná Magalhães), que deixa o interior para trabalhar como empregada doméstica de Roberto (Ênio Gonçalves), um jovem estudante de medicina. Ingênua, Maria engravida do patrão e é abandonada ao revelar essa verdade. Para a situação do país na época, a obra era bastante progressista ao ter como protagonista uma mãe solteira, o que é uma possível explicação para o desejo de censura pelo governo militar.

Na TV Tupi, o texto original de Celia Alcântara (1920-2005), produzido pela primeira vez em 1969, foi adaptado por Benjamin Cattan (1925-1994) e Benedito Ruy Barbosa (93). No segundo mês de exibição da obra, a emissora solicitou que Cattan abandonasse o que já estava produzido e conduzisse a trama de forma autoral. 

Simplesmente Maria teve 315 capítulos que ocuparam a grade da Tupi por quase um ano e contou com grandes estrelas da teledramaturgia no elenco, como Yoná Magalhães (1935-2015) e Carlos Alberto (1925-2007), que eram na época um casal.

Longo histórico de censura na TV

A novela, que é a segunda mais longa da TV Tupi, não foi a única a sofrer com imposições do período militar. 

A autora Janete Clair (1925-1983), por exemplo, foi obrigada a fazer Cristiano (Francisco Cuoco) abandonar Fernanda (Dina Sfat) na primeira versão de Selva de Pedra (1972). Isso porque, na trama, a primeira mulher de Cristiano se fingia de morta e, como o público sabia da farsa, o casamento entre o personagem de Cuoco e Sfat seria bigamia.

Alguns títulos, como Despedida de Casado (1977) e a primeira versão de Roque Santeiro (1975), foram barrados antes mesmo de ir ao ar. Em 1976, o clássico de Gilberto Braga (1945-2021), Escrava Isaura (1976), também passou pelo crivo da ditadura: a agressividade dos feitores com os escravizados foi atenuada a pedido dos censores, como uma tentativa de evitar a abordagem do racismo presente no Brasil.

Segundo o jornalista e escritor Zuenir Ventura (93), durante os dez anos de vigência do AI-5 (1968 – 1978), cerca de 1.650 obras — entre filmes, peças, livros e músicas — sofreram vetos pelo governo militar.