Contigo!
Busca
Facebook Contigo!Twitter Contigo!Instagram Contigo!Youtube Contigo!Tiktok Contigo!Spotify Contigo!
TV / ENTREVISTA

Patrick Congo sobre repercussão de cena de sexo com Bruno Gagliasso: 'Dão mais importância do que para um corpo negro no chão'

Em entrevista à Contigo!, Patrick Congo, de Os Quatro da Candelária, comenta sobre importância da série e da arte na vida de jovens periféricos

Patrick Congo protagoniza cena de beijo gay com Bruno Gagliasso em série da Netflix - Guilherme Leporace/Netflix
Patrick Congo protagoniza cena de beijo gay com Bruno Gagliasso em série da Netflix - Guilherme Leporace/Netflix

Nascido e criado na favela da Maré, Zona Norte do Rio de Janeiro,Patrick Congo viu sua carreira decolar após estrelar Os Quatro da Candelária, produção da Netflix baseada nos depoimentos dos sobreviventes da Chacina da Candelária. Na série dramática, o ator contracena ao lado de Bruno Gagliasso em uma cena quente que viralizou na web. Em entrevista à Contigo!, ele reflete sobre repercussão: "Dão mais importância do que para um corpo negro no chão", desabafa.

Lugar de fala

O nome Congo, de origem paterna, carrega o peso da história de Patrick: o pai só reconheceu sua paternidade aos seus 12 anos, mesma idade em que o jovem começou sua carreira artística no projeto social Entre Lugares da Maré.

"Inicialmente, tive resistência em usar o nome dele, mas quando meus professores de teatro Renata Tavares e Tiago Ribeiro descobriram que eu tinha Congo no nome, me convenceram a aceitar. Graças a eles percebi a força que carrego não só no nome, mas na minha história de vida", compartilha.

Hoje com 24 anos, o intérprete vibra com o reconhecimento por viver Sete, um dos protagonistas de Os Quatro da Candelária: "Tenho recebido um retorno muito positivo de diversas pessoas. Elogio de grandes atores e apoio de profissionais da arte. As pessoas me parabenizam e algumas dizem que se sentem representadas. Inclusive, um amigo me citou na redação deste ano do Enem". 

A produção da Netflix, segundo o artista, é especial porque trata da tragédia de uma forma muito particular e humana. "Apesar de abordar a tragédia, a série não é sobre isso. A trama é emocionante porque humaniza os corpos pretos. Mostra como essas pessoas tinham sonhos, sentimentos, anseios e muita resiliência". Patrick destaca, ainda, a importância em ter atores pretos para dar vida ao drama real:

"É muito importante ver essa história contada por atores pretos que estão nesse lugar de fala. Sem contar que a maior parte da equipe é composta de profissionais pretos. Isso enriquece o trabalho e revela a potência e a força que nosso povo tem para contar suas vivências", compartilha.

'A história é muito maior que isso'

Mesmo contente com a repercussão que a obra tem conquistado desde sua estreia, o ator afirma que a cena mais comentada, protagonizada por ele e Bruno Gagliasso, revela uma desatenção com o sofrimento de corpos pretos.

"O meu maior desafio não foi a cena do beijo. Percebi que muitas pessoas dão maior importância ao beijo do que um corpo negro no chão e a humanização dos personagens. Claro que a cena do beijo foi importante, por falar do amor entre dois homens, o beijo gay... Mas a história é muito maior que isso", declara.

Para Patrick, a cena mais impactante e complicada para ser gravada foi a da chacina, muito pesada emocionalmente. "Pesquisei muito sobre o contexto e tive a oportunidade de conversar com dois sobreviventes. Foi muito emocionante ouvir os relatos e fazer a cena. Fiquei pensando muito sobre os fatos. Sem dúvidas, foi a cena mais difícil de fazer", conta o intérprete.

Papel social

Além de ator, Congo também é um dos idealizadores do Coletivo AfroMaré, projeto em que ministra aulas de teatro e promove espetáculos para membros da favela da Maré. "A ideia surgiu junto com meu amigo e também ator, Helme Peres. Entramos no projeto Entre Lugares da Maré com 12 anos de idade e, com 18 anos, sentimos a necessidade de expandir o conhecimento que estávamos recebendo", explica.

"Tivemos a oportunidade de dar aula de teatro na escola e, hoje, encontro pessoas que não são atores, mas dizem que mudaram o pensamento com relação ao estudo, trabalho, faculdade e até no convívio com familiares depois de assistir às nossas aulas", revela com orgulho.

Espetáculo 'Dos nossos para os nossos', do coletivo Afromaré.
Espetáculo 'Dos Nossos para os Nossos', do coletivo Afromaré - Thiago Santos

Não à toa, o artista afirma que um de seus trabalhos mais marcantes foi desenvolvido no AfroMaré: "Todos os personagens são marcantes, mas o espetáculo chamado Dos Nossos para os Nossos, do Coletivo Afromaré, foi o mais marcante pra mim. As pessoas saiam da peça impactadas e tendo consciência de como é importante ser antirracista".

Agora, ele integra o elenco da 4ª temporada de Arcanjo Renegado, outra produção que, para ele, terá muita importância na sua carreira: "Ainda estou gravando, então não posso falar muito, mas acredito que também vai ter grande repercussão", conclui.

Leia também: Carol Faxas mergulha no terror em produção autoral e declara: ‘Precisei produzir minhas oportunidades’